Mais
um ano que finda, no calendário humano, mais um período de variadas
experiências na trajetória de cada um, convidando-nos a levantar os olhos para
o mais além.
Para
muitos é hora apropriada para refletir sobre o passado e planejar o futuro
imediato, na busca do crescimento espiritual. Para outros é tão somente a hora
da continuação das ilusões dominantes na maioria dos habitantes deste Planeta.
Quantos
acontecimentos ocorridos no mundo, neste pequeno período!
Quantos
deles afetaram-nos diretamente, influindo sobre nosso círculo de relações ou
sobre o meio social em que vivemos!
Quantas
palavras ouvimos, lemos e dissemos, quantos pensamentos e ações, justos e
injustos, partiram de nós, ou passaram por nossa apreciação.
Impossível
realizar um inventário de tudo o que aconteceu no mundo, conosco ou ao redor de
nós, nesse lapso de tempo.
Para
o espírita, que já tem um rumo certo a seguir, que já aprendeu o que é essencial
no seu comportamento, que sabe distinguir entre o primordial e o secundário,
não mais se deixando dominar pelas ilusões que levam à perda de tempo e às
inutilidades, um ano de vida pode representar um bom avanço ou um desagradável
atraso em sua trajetória evolutiva.
Precisamos
esquecer as experiências negativas e aproveitar quantas nos mostrem os deveres
e obrigações que engrandecem a existência.
Nesse
balancete permanente de pensamentos, palavras e ações, precisamos não só reter
o ensino sintético do Cristo sobre o Amor soberano, compreendendo toda a lei –
amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo – mas aplicá-lo
nas experiências de cada dia.
Os
espíritas temos consciência de nossa inferioridade e de nossas imperfeições,
como habitantes de um mundo atrasado, de provas e expiações.
Por
isso mesmo a Doutrina Consoladora não exige de nós a perfeição, mas induz-nos ao
esforço para que nos aperfeiçoemos moral e intelectualmente, tornando-nos sempre
melhores.
O
que não se coaduna com o caráter e a índole da Doutrina é a preocupação do
adepto em apenas conhecê-la, enriquecendo-se intelectualmente, mas sem
esforçar-se por vivenciá-la, acordando para a luz e para o bem, no cultivo dos
sentimentos que enobrecem o coração.
Nunca
será demasiado repetir que o objetivo final do Espiritismo é a transformação
interior, espiritual, do indivíduo. O conhecimento da Doutrina é o passo
inicial do processo educativo, ou reeducativo, de cada seguidor.
É
uma ilusão julgar-se o adepto quite com seu dever pelo fato de estudar a Doutrina
e aprofundar-se no seu conhecimento, sem preocupar-se com as consequências
morais que daí advêm, a primeira das quais é justamente a vivência dos
princípios ensinados por Jesus, em sua Mensagem.
Não
há como dizer-se espírita, cristão, ou espírita-cristão se não houver esforço
para viver de conformidade com o preceito evangélico do “amai-vos uns aos
outros”.
Que
dizer-se dos irmãos e companheiros espíritas que não se entendem, que preferem
a divisão do Movimento, que acusam, digladiam, polemizam e esquecem totalmente
o mandamento essencial do amor ao próximo?
“Se
alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a sua língua, antes enganando o
próprio coração, a sua religião é vã”. (Epístola de Tiago, cap. I, v. 26).
Se
substituída a palavra religioso pela palavra espírita, a advertência do apóstolo
é proveitosa e correta, mesmo para os adeptos que não aceitam o Espiritismo
como religião, mas como doutrina moral.
Palavras...
Quantos
adeptos da Doutrina Consoladora colocam-se como seus seguidores entusiastas baseados
em interpretações verbais, esquecendo-se de que a legítima vinculação com os
princípios renovadores não é problema de simples palavras, mas de esforço
permanente na prática do amor!
*
Os
aspectos morais da Doutrina Espírita fundem-se totalmente nas diretrizes
contidas no Evangelho de Jesus. Os ensinos do Espiritismo, na interpretação da
Espiritualidade Superior, sobre a Justiça, o Amor e a Caridade, que sintetizam
todas as leis morais, são os mesmos do Mestre Incomparável.
Todos
concordamos que não é fácil, para criaturas imperfeitas que somos todos os
habitantes deste Orbe, o cumprimento de deveres morais para consigo mesmas,
para com seus semelhantes mais próximos, para com toda a Humanidade e para com
a Natureza que nos cerca.
A
sincera adesão à Doutrina e ao Evangelho induz o aprendiz a aplicar sua vontade
na eliminação de arestas e inclinações infelizes do próprio temperamento, a
retificar conceitos e eliminar preconceitos arraigados, buscando assim melhor
equilíbrio.
No
que concerne a todos os seus semelhantes, na vida de relação, o esforço há que
concentrar-se na prática do amor, que é a caridade tal como Jesus a
conceituava: benevolência para com todos, indulgência para com as ações alheias
e perdão das ofensas, sem limitações.
Convenhamos
que o caminho indicado pelo Cristo para a redenção humana requer de criaturas
imperfeitas muito esforço, persistência, firmeza, convicção e predisposição
para repetir as experiências que não produziram os efeitos desejados.
O
aprendiz sincero sabe que a Lei Divina é justa, equânime e misericordiosa. O
que não se consegue hoje poderá ser realizado amanhã. O proveito está na razão
direta do esforço e do sacrifício. A reencarnação é um dos mecanismos da lei. A
dor e o sofrimento ajustam-se às vidas sucessivas. A toda ação, no bem ou no
mal, corresponde uma reação.
O
espírita, sabendo de todas essas regras da lei e de inúmeras outras que a
Doutrina lhe proporciona, não é um privilegiado, mas uma criatura responsável pelo
conhecimento que já detém.
Compete-lhe,
pois, carregar a cruz simbólica dos testemunhos no Bem, renovando-se sempre,
sem se deixar enganar pelas ilusões, pelo personalismo sustentado por vaidades,
inveja, ciúmes, revoltas e fugas.
*
A
renovação interior de cada um baseia-se no conhecimento das verdades
evangélicas, sintetizadas no Amor, e na aplicação da própria vontade na busca
dessas verdades.
A
convicção, a fé, a esperança, como a perseverança, a humildade e todas as
virtudes cristãs auxiliam a renovação.
Aquele
que se dispõe a renovar-se intimamente, atendendo ao apelo da própria razão e
ao incitamento do “amai-vos uns aos outros”, começa por abandonar, pouco a
pouco, as paixões de que se tornou portador.
Aprender
sempre, ajudar e servir seus semelhantes substituem seus interesses anteriores.
Servir, eis a fórmula infalível de nos ajustar à Lei Divina e de repelir as
tentações e os impulsos resultantes do egoísmo e do personalismo exagerado.
Para
cada qual, será sempre melhor ajudar e auxiliar hoje, agora, nas circunstâncias
que a vida oferece a todos, que necessitar de auxílio amanhã, pela própria
incúria.
Nós,
espíritas, como grande parte da Humanidade, aceitamos as vidas sucessivas,
renascimentos na carne como um dos mecanismos da evolução individual. É a
reencarnação lei divina.
Entretanto,
por que não renascer continuamente, a cada dia e a cada hora, superando-se a si
mesma nas imperfeições de que seja portadora a criatura?
Quem
já conhece o caminho, aquele que é indicado pela luz da Doutrina Consoladora,
dependendo de seu empenho e vontade firme, pode renovar-se sempre, na corrente
do bem, em seus pensamentos e ações. É questão de aplicação e perseverança.
Todos
sabemos, por experiência própria, quão difícil é reverter os sentimentos
inferiores a respeito daqueles que nos ofendem ou ferem, às vezes injustamente.
Entretanto,
contrariando frontalmente tradições milenares que precederam sua presença no
Mundo, o Cristo de Deus sentenciou:
“Tendes
ouvido que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. “Eu, porém,
vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam; orai pelos que
vos perseguem e caluniam” (Mateus, 5:43-44).
A
Doutrina Espírita sanciona integralmente o ensino do Cristo.
Não
há outro caminho a seguir para terminar com as aversões, ódios, malquerenças,
incompreensões senão o do amor e da compreensão, o do perdão e da indulgência
para com aqueles que nos odeiam. A sabedoria do Cristo não só ensinou essa
verdade como também a exemplificou.
*
O
tempo flui sempre. Os homens o dividem, contam, convencionam: dias, horas, minutos;
anos, séculos, milênios. Pura convenção, mas útil a todos nós.
Um
ano que finda e outro que começa é ensejo para a renovação do ser e do fazer.
Para
alcançar o grande ideal de nossa renovação, no campo da inteligência e dos
sentimentos, não podemos dispensar o esforço de cada dia e de cada hora, num
processo contínuo.