
*108 anos de verdadeira luz
Foi aos 14 de junho de 1914, na Sede Histórica
da Federação Espírita Brasileira (FEB), situada na Av. Passos, 30, no Rio de
Janeiro, então sob a gestão do presidente Dr. Aristides Spínola (1850-1925) e
do vice-presidente Pedro Richard (1858-1914), que se inaugurou a Escola
Dominical de Doutrina Cristã, evento a ser comemorado por todo o Movimento
Espírita brasileiro, sob as inspirações e bênçãos de Jesus e Ismael. O ensejo
foi motivo de grande júbilo para os corações que lá estavam: “[...] o ambiente
se achava repleto de crianças desencarnadas, entoando hinos de alegria e de
louvor a Deus, ao som de música celestial”.¹
Iniciava-se, na Casa de Ismael, para as crianças
e, anos mais tarde, para os adolescentes, a grande tarefa da evangelização, que
é importantíssima dentre as atividades desenvolvidas pelas instituições
espíritas, no afã de prepará-los para receber os ensinamentos sobre os princípios
fundamentais do Espiritismo, que lhes permitam compreender e aplicar os
conhecimentos doutrinários e a moral evangélica pregada pelo Cristo.
Desde a sua fundação, em 1° de janeiro de 1884,
a Federação Espírita Brasileira jamais deixou de pensar nos cuidados com a
formação moral da criança e do jovem, apenas aguardava o momento propício de
levar a efeito esse nobilíssimo projeto. Considerando que a primeira
providência deveria ser a divulgação de livros infantis, a FEB publicou, em
1901, a obra do Espírito Bittencourt Sampaio (1834-1895): De Jesus para as
crianças.
O expoente trabalhador da seara do Mestre, entre
outras produções espirituais de sua autoria, transmitiu o texto do sugestivo
livro, por meio da psicografia do médium Frederico Pereira da Silva Júnior
(1858-1914), contribuindo para o êxito do futuro tentame, conforme registros do
ano de seu lançamento.²
Entre os servidores que legaram exemplos de
perseverança entusiasta e ardorosa em favor da evangelização está Antônio Lima (1864-1946),
considerado um dos pioneiros do ensino espírita-cristão à criança no Brasil. Em
janeiro de 1904, foi criada uma seção em Reformador, denominada “Diálogos”,
onde o autor “desenvolvia sugestivas e atraentes historietas, nos moldes
didáticos dos melhores educadores”.³
Antônio Lima, no ano do Centenário Kardequiano, em
31 de dezembro de 1904, proferiu importante conferência sobre a “Educação da
Infância sob o ponto de vista espírita”. Em 1915, a FEB publica o seu livro
Espiritismo na infância, esgotando-se rapidamente os exemplares.
Em pouco tempo, o movimento iniciado pela Casa
de Ismael em 1914 se expandiu para todo o País com a criação de novos
agrupamentos de evangelização para a infância, tornando-se a proposta vitoriosa
bem como sua colheita de excelentes frutos. “Em meados de 1932, cerca de 50
Grupos, Asilos, Centros, Federações”,4 todos seguidores do modelo de
ensino sugerido pela FEB, mantinham aulas de educação moral-cristã desempenhando
a abençoada tarefa de formar os futuros espíritas, que haveriam de continuar o
trabalho de amor ao próximo entre as criaturas. Os registros históricos, nesse
período, apontam uma pequena interrupção no funcionamento do núcleo de evangelização
infantil da FEB, sobretudo em função da carência de trabalhadores para execução
das tarefas junto às crianças.
Em maio de 1946, o abnegado confrade Dr. Carlos
Lomba (1886-1958) assume a direção da Escola de Evangelho, que há muito vinha
sendo denominada dessa forma, em substituição ao nome dado anteriormente:
Escola Dominical de Doutrina Cristã. O preclaro obreiro, que a meninada carinhosamente
chamava “vovô Lomba”, dedicou-se com fervor ao trabalho desse importante setor
e, em sua gestão, muitas foram as providências apropriadas para o
engrandecimento e a qualidade das atividades que melhor atendessem às
necessidades pedagógicas das crianças. Entre elas, o lançamento, em dezembro de
1950, do “Programa de Ensino para as Escolas de Evangelho segundo a Doutrina
Espírita”, encaminhado a todas as instituições que ministravam aulas desse gênero,
conforme se tinha notícia na ocasião. Nessa época, já funcionava o Departamento
de Infância e Juventude (DIJ) da FEB, responsável pela elaboração da proposta,
aprovada pelo Conselho Federativo Nacional, a qual recomendava às Sociedades Espíritas
que adotassem o referido Programa, como preceituado no item 29, dos “Preceitos
Gerais – Pró-Unificação do Espiritismo Nacional”. O Programa estabelecia a
estrutura e o funcionamento das aulas a serem ministradas, separando as
crianças por idades e ciclos.5
Em 1951, “a antiga Escola Dominical de Doutrina
Cristã da FEB, que há muito vinha sendo carinhosamente chamada Escola de
Evangelho da Federação”,6 passou a ser denominada “Escola de
Evangelho Maria de Nazaré”, constituindo-se em manancial de preciosas oportunidades
no trato dos assuntos evangélico-doutrinários da infância e juventude. Com o afastamento
do Dr. Lomba, após 9 anos de trabalhos ininterruptos, o grupo da juventude, a
partir de 1954, e ao longo dos anos 60, assessorou a Secretaria de Assuntos
Infantis, órgão auxiliar do DIJ, colaborando para continuidade dos trabalhos de
organização e operacionalização da Escola.6
Nesse período, assume a direção do DIJ o saudoso
companheiro Alberto Nogueira da Gama (1918-2003), que se devotou ao serviço com
afinco e denodo.
Em dezembro de 1975, reativou-se o Departamento
de Infância e Juventude, sendo nomeada como diretora Maria Cecília Paiva Barros
(1912-1995), cargo que ocupou até 1980, quando passou a exercer a
vice-presidência da Casa de Ismael. Valiosas foram as contribuições trazidas pela
digníssima companheira e seus dedicados auxiliares. Juntos, promoveram
encontros e seminários, reunindo representantes do Rio de Janeiro e de outros
Estados, constituindo-se em equipes altamente qualificadas para a execução de
determinações mais amplas de ações efetivas sobre a evangelização. Ao
engajar-se com empenho na Campanha Nacional de Evangelização Espírita
Infantojuvenil, divulgada ao público espírita em 9 de outubro de 1977, por
determinação do Conselho Federativo Nacional (CFN), Maria Cecília realizou viagens
para disseminação de seu lançamento, com vistas ao aprimoramento e a expansão do
movimento de evangelização da criança e do adolescente, no Brasil e no
exterior.7
Em 1980, assume a direção do Departamento de Infância
e Juventude da FEB, a professora Cecília Rocha (1919-2012), insigne educadora e
ativa colaboradora, durante muitos anos, do Movimento Espírita do Rio Grande do
Sul, seu Estado de nascença. Sua orientação foi decisiva para a organização e o
desenvolvimento da implantação e do aperfeiçoamento das escolas de
evangelização espírita, no campo Federativo Nacional. Participou do
planejamento, da elaboração e do cumprimento da operacionalização da “Campanha
de Evangelização Espírita”, da infância e da juventude, no início, ao lado de
Maria Cecília Paiva, tornando-se, após alguns anos, “Campanha Permanente”, e
difundindo-a em todo território nacional.8
O dinamismo ardoroso em prol da causa da
evangelização permitiu-lhe realizar inúmeros eventos como cursos, seminários,
encontros nacionais e internacionais, e a formação de equipes de trabalho para a
elaboração de planos de aulas e do Currículo para as escolas de evangelização
espírita infantojuvenil, com o interesse primordial de sugerir uma metodologia
que garantisse a unidade de princípios e de objetivos a serem atingidos pelo programa.
Como vice-presidente, de 1983 até março de 2012, nunca deixou de atuar junto à
área da evangelização de crianças e adolescentes, contribuindo para a
eficiência dos trabalhos realizados na área Federativa e no Campo Experimental
de Brasília, auxiliada pela nova diretora, Rute Vieira Ribeiro, que a
substituiu, com eficácia e dedicação, na execução das atividades do DIJ, de
1984 a 2009. (...)
(...) As palavras do Espírito Bezerra de
Menezes, através do médium Júlio Cezar Grandi Ribeiro (1935-1999),
convidam-nos a prosseguir, sem esmorecimentos:
[...] Que não haja desânimo nem apressamento,
mas, acima de tudo, equilíbrio e amor. Muito amor e devotamento!
A Evangelização Espírita Infantojuvenil
amplia-se como um sol benfazejo abençoando os campos ao alvorecer.
[...] Unamo-nos, que a tarefa é de todos nós.
Somente a união nos proporciona forças para o cumprimento de nossos serviços,
trazendo a fraternidade por lema e a humildade por garantia de êxito.9
Referências:
1.
Reformador, ano 69, n. 9, p. 17(209) a 18(210), setembro de 1951, Origem das “Escolas
de Evangelho” para a infância.
2.
WANTUIL, Zêus. (Organizador.) Grandes espíritas do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2002. p. 253.
3.
Reformador, ano 82, n. 8, p. 11(177) a 14(180), agosto de 1964, A FEB e a criança
– 50 anos.
4.
Reformador, ano 69, n. 9, p. 17(209) a 18(210), setembro de 1951, Origem das “Escolas
de Evangelho” para a infância.
5.
Opúsculo do Programa de Ensino para as Escolas de Evangelho. Posfácio de Carlos
Lomba. Rio de Janeiro: FEB, s/d. p. 1 a 22.
6.
Reformador, ano 82, n. 8, p. 11(177) a 14(180), agosto de 1964, A FEB e a criança
– 50 anos.
7.
Reformador, ano 113, n. 1.995, p.34(190) a 35(191), junho de 1995.
8.
Reformador, ano 130, n. 2.205, p.32(470) a 33(471), dezembro de 2012.
9.
SEPARATA DE REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, 1986. p. 17
Clara Lila Gonzalez de
Araújo– Revista Reformador – janeiro/2014
*100 anos de verdadeira luz –
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