Todas as reformas sociais, necessárias em vossos tempos de indecisão espiritual, têm de processar-se sobre a base do Evangelho.
Como? – Podereis objetar-nos. Pela educação,
replicaremos.
O plano pedagógico que implica esse grandioso
problema tem de partir ainda do simples para o complexo. Ele abrange atividades
multiformes e imensas, mas não é impossível.
Primeiramente, o trabalho de vulgarização deverá
intensificar-se, lançando, através da palavra falada ou escrita do ensinamento,
as diminutas raízes do futuro.
O
RESULTADO DOS ERROS RELIGIOSOS
Toda essa demagogia filosófico-doutrinária, que
vedes nas fileiras do Espiritismo, tem sua razão de ser. As almas humanas se
preparam para o bom caminho. A missão do Cristianismo na Terra não era a de
mancomunar-se com as forças políticas que lhe desviassem a profunda
significação espiritual para os homens. O Cristo não teria vindo ao mundo para
instituir castas sacerdotais e nem impor dogmatismos absurdos. Sua ação
dirigiu-se, justamente, para a necessidade de se remodelar a sociedade humana, eliminando-se
os preconceitos religiosos, constituindo isso a causa da sua cruz e do seu martírio,
sem se desviar, contudo, do terreno das profecias que o anunciavam.
Todas essas atividades bélicas, todas as lutas
antifraternas no seio dos povos irmãos, quase a totalidade dos absurdos, que
complicam a vida do homem, vieram da escravização da consciência ao
conglomerado de preceitos dogmáticos das Igrejas que se levantaram sobre a
doutrina do Divino Mestre, contrariando as suas bases, digladiando-se mutuamente,
condenando-se umas às outras em nome de Deus.
Aliado ao Estado, o Cristianismo deturpou-se,
perdendo as suas características divinas.
FIM
DE UM CICLO EVOLUTIVO
Sabemos todos que a Humanidade terrena atinge,
atualmente, as cumeadas de um dos mais importantes ciclos evolutivos. Nessas
transformações, há sempre necessidade do pensamento religioso para manter-se a
espiritualidade das criaturas em momentos tão críticos. À ideia cristã se
encontrava afeto o trabalho de sustentar essa coesão dos sentimentos de
confiança e de fé das criaturas humanas nos seus elevados destinos; todavia,
encarcerada nas grades dos dogmas católico-romanos, a doutrina de Jesus não poderia,
de modo algum, amparar o espírito humano nessas dolorosas transições.
Todas as exterioridades da Igreja deixam nas
almas atuais, sedentas de progresso, um vazio muito amargo.
URGE
REFORMAR
Foi justamente quando o Positivismo alcançava o
absurdo da negação, com Auguste Comte, e o Catolicismo tocava às extravagâncias
da afirmativa, com Pio IX proclamando a infalibilidade papal, que o Céu deixou
cair à Terra a revelação abençoada dos túmulos.
O Consolador prometido pelo Mestre chegava no
momento oportuno. Urge reformar, reconstruir, aproveitar o material ainda
firme, para destruir os elementos apodrecidos na reorganização do edifício
social. E é por isso que a nossa palavra bate insistentemente nas antigas
teclas do Evangelho cristão, porquanto não existe outra fórmula que possa dirimir
o conflito da vida atormentada dos homens. A atualidade requer a difusão dos
seus divinos ensinamentos. Urge, sobretudo, a criação dos núcleos
verdadeiramente evangélicos, de onde possa nascer a orientação cristã a ser
mantida no lar, pela dedicação dos seus chefes. As escolas do lar são mais que
precisas, em vossos tempos, para a formação do espírito que atravessará a noite
de lutas que a vossa Terra está vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir.
NECESSIDADE
DA EDUCAÇÃO PURA E SIMPLES
Há necessidade de iniciar-se o esforço de
regeneração em cada indivíduo, dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre
amena da autoeducação. Evangelizado o indivíduo, evangeliza-se a família;
regenerada esta, a sociedade estará a caminho de sua purificação,
reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo.
No capítulo da preparação da infância, não
preconizamos a educação defeituosa de determinadas noções doutrinárias, mas
facciosas, facilitando-se na alma infantil a eclosão de sectarismos
prejudiciais e incentivando o espírito de separatividade, e não concordamos com
a educação ministrada absolutamente nos moldes desse materialismo demolidor,
que não vê no homem senão um complexo celular, onde as glândulas, com as suas
secreções, criam uma personalidade fictícia e transitória. Não são os sucos e
os hormônios, na sua mistura adequada nos laboratórios internos do organismo,
que fazem a luz do espírito imortal. Ao contrário dessa visão audaciosa dos
cientistas, são os fluidos, imponderáveis e invisíveis, atributos da
individualidade que preexiste ao corpo e a ele sobrevive, que dirigem todos os
fenômenos orgânicos que os utopistas da biologia tentam em vão solucionar, com
a eliminação da influência espiritual. Todas as câmaras misteriosas desse
admirável aparelho, que é o mecanismo orgânico do homem, estão repletas de uma
luz invisível para os olhos mortais.
FORMAÇÃO
DA MENTALIDADE CRISTÃ
As atividades pedagógicas do presente e do
futuro terão de se caracterizar pela sua feição evangélica e espiritista, se quiserem
colaborar no grandioso edifício do progresso humano.
Os estudiosos do materialismo não sabem que
todos os seus estudos se baseiam na transição e na morte. Todas as realidades
da vida se conservam inapreensíveis às suas faculdades sensoriais. Suas análises
objetivam somente a carne perecível. O corpo que estudam, a célula que
examinam, o corpo químico submetido à sua crítica minuciosa, são acidentais e
passageiros. Os materiais humanos postos sob os seus olhos pertencem ao domínio
das transformações, através do suposto aniquilamento. Como poderá, pois, esse movimento
de extravagância do espírito humano presidir à formação da mentalidade geral que
o futuro requer, para a consecução dos seus projetos grandiosos de fraternidade
e de paz? A intelectualidade acadêmica está fechada no círculo da opinião dos
catedráticos, como a ideia religiosa está presa no cárcere dos dogmas absurdos.
Os continuadores do Cristo, nos tempos modernos,
terão de marchar contra esses gigantes, com a liberdade dos seus atos e das
suas ideias.
Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a
formação da mentalidade cristã, por excelência, mentalidade purificada, livre
dos preceitos e preconceitos que impedem a marcha da Humanidade. Formadas essas
correntes de pensadores esclarecidos do Evangelho, entraremos, então, no ataque
às obras. Os jornais educativos, as estações radiofônicas, os centros de
estudo, os clubes do pensamento evangélico, as assembleias da palavra, o filme
que ensina e moraliza, tudo à base do sentimento cristão, não constituem uma
utopia dos nossos corações. Essas obras que hoje surgem, vacilantes e indecisas
no seio da sociedade moderna, experimentando quase sempre um fracasso temporário,
indicam que a mentalidade evangélica não se acha ainda edificada. A andaimaria,
porém, aí está, esperando o momento final da grandiosa construção.
Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão; terminado esse trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de todos os corações.