quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Estudo de O Livro dos Médiuns


Estudando O Livro dos Médiuns será uma série de estudos promovidos por Jacobson Trovão, coordenador nacional da Área de Mediunidade do CFN/FEB, com duração até 2022. O estudo será sistemático e contínuo da obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
O programa será realizado semanalmente, com transmissão ao vivo pelos canais da FEB no Facebook e FEBtv no YouTube e Facebook.
Acompanhe toda terça, às 19h30, no horário de Brasília.
Divulgue e compartilhe nas suas redes sociais: https://febtv.live/mediuns


Fatos e personalidades espíritas do mês de outubro

 




Rivail, o Educador

Allan Kardec é vastamente conhecido como o codificador da Doutrina Espírita. Contudo, mais da metade de sua vida esteve ligado ao ensino e à educação da juventude, o que provavelmente também foi influenciado pelo fato de que em sua vida participaram destacados pedagogos, cujas ações e ideias puderam servir-lhe de modelo e inspiração. Em seu tempo ele foi considerado um especialista em assuntos de ensino. Suas obras dirigiram-se a alunos, professores e outras pessoas que se ocupavam do ensino e da educação (exemplo: livros didáticos, manuais de métodos, etc.), ou a pessoas que tivessem influência jurídica e administrativa no sistema educacional francês (projetos de reformas, propostas de mudanças no sistema educativo em geral e nas instituições em particular). (...)

A vida do pedagogo Rivail está cercada de esquecimento, em parte objetivado por ele mesmo, para proteger diversas pessoas, e, de outro lado, provocado naturalmente pelo sucesso de suas publicações e atividades posteriores, ligadas a assuntos geralmente não comentados em escolas. Contudo, para imaginar um perfil completo da pessoa conhecida até dos simpatizantes do Espiritismo, seria necessário saber mais detalhadamente sobre o período de vida de Rivail antes da publicação de O Livro dos Espíritos – o período de vida principalmente dedicado a um amplo trabalho pedagógico – cumprimento de tarefas de ensino e educação, criação de livros específicos e artigos com profundas considerações a problemas atinentes. (...)

Resumindo a opinião sobre a educação, é necessário mencionar as seguintes conclusões de H. D. L. Rivail:

“1) Educação é uma ciência única;

2) Se observamos que muitas pessoas ensinam de forma inadequada, a causa disso é a falta de estudos especializados nessa área;

3) Todos os atrasos relativos à educação são imputáveis ao fato de que poucas pessoas avaliam o seu verdadeiro objetivo, sem compreender o que seja educação; o que ela pode ser e, em consequência disso, o que é necessário fazer para que a situação melhore. A educação está agora, escreveu Rivail, em semelhante situação em que esteve a química há cem anos. Ela é uma ciência ainda não totalmente constituída e cujas bases ainda não estão definidas.”

As últimas obras pedagógicas de Rivail (primeiras edições) surgiram em 1850; todas as que se sucederam se referiam ao espiritismo, embora também estas certamente estivessem vinculadas aos interesses pedagógicos do autor.

Em O Livro dos Espíritos, primeira obra espírita de Allan Kardec, é possível encontrar alguns fragmentos que tratam da educação. Eles são ou opiniões de Rivail, agora oculto sob o pseudônimo, e que correspondiam a suas obras anteriores, ou dos Espíritos. Estes últimos talvez devessem ser tratados como fonte externa, mas para reconhecer o papel de homem (pedagogo) na compilação do livro, é necessário mencionar ao menos as citações mais relevantes.

 

SOBRE A ESSÊNCIA DA EDUCAÇÃO:

“Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento, que se não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria hábitos, porque a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios e entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo hábitos de ordem e de previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis.

A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.” (item 685a).

 

SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO:

“O homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não ‘estavam escritos’; os crimes que comete não são resultado de um decreto do destino. Ele pode, como prova e como expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser.

Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo com a faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos. Cabe à educação combater as más tendências e ela o fará de maneira eficiente quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modificá-la, como se modificam a inteligência pela instrução e as condições físicas pela higiene.” (Item 872)

 

SOBRE O PROGRESSO DA HUMANIDADE:

“Louváveis esforços são feitos, sem dúvida, para ajudar a humanidade a avançar; encorajam-se, estimulam-se, honram-se os bons sentimentos, hoje mais do que em qualquer outra época, e não obstante o verme devorador do egoísmo continua a ser a praga social. É um verdadeiro mal, que se espalha por todo o mundo e do qual cada um é mais ou menos vítima. É necessário combatê-lo, portanto, como se combate uma epidemia. Para isso, deve-se proceder à maneira dos médicos: remontar à causa. Que se pesquisem em toda a estrutura do organismo social, desde a família até os povos, da choupana ao palácio, todas as causas, as influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo; só restará então combatê-las, senão a todas ao mesmo tempo, pelo menos por parte, e pouco a pouco o veneno será extirpado. A cura poderá ser prolongada, porque as causas são numerosas, mas não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem.

A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa. Quem quer que observe, desde o instante do seu nascimento, o filho do rico como o do pobre, notando todas as influências perniciosas que agem sobre ele, em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que o dirigem e como em geral os meios empregados para moralizar fracassam, não pode admirar-se de encontrar no mundo tanta confusão. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa, as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos.” (Item 917)

Evidentemente todo o conteúdo de O Livro dos Espíritos, além do sentido filosófico, tem um profundo sentido educativo.

Alguns ensinamentos ou sentenças dos Espíritos poderiam ser tratados até mesmo como tema de vastos estudos e discussões pedagógicas, pois eles claramente espelham problemas da sociedade na época de Rivail e, paradoxalmente, também de agora.

 

SOBRE AS LEIS SOCIAIS:

“Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas. Infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que assim não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.” (Item 797)

 

SOBRE O EGOÍSMO:

“À medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, dão menos valor às coisas materiais; em seguida é necessário reformar as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.” (Item 914)

É interessante observar os paralelos e as estreitas vinculações entre os textos produzidos pela mesma pessoa, embora em dois períodos distintos da vida, aparentemente diferentes no fundo, mas visivelmente baseados nos mesmos ideais, educativos e atuais em todas as circunstâncias.

É recomendável, então, considerar as ideias e ações do futuro codificador da doutrina espírita, no contexto de sua atividade posterior. A doutrina em si mesma, de fato, é muito rica em valores educativos. (...)

 

Fragmentos extraídos do livro: Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail - INCONTRI, Dora, GRZYBOWSKI, Przemysław.

Dívida de amor

 “Portanto, dai a cada um o que deveis; a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.” Paulo (Romanos, 13:7)

 

Todos nós guardamos a dívida geral de amor uns para com os outros, mas esse amor e esse débito se subdividem, através de inúmeras manifestações.

A cada ser, a cada coisa, paisagem, circunstância e situação, devemos algo de amor em expressão diferente.

A criatura que desconhece semelhante impositivo não encontrou ainda a verdadeira noção de equilíbrio espiritual.

Valiosas oportunidades iluminativas são relegadas, pelas almas invigilantes, à obscuridade e à perturbação.

Que prodigioso éden seria a Terra se cada homem concedesse ao próximo o que lhe deve por justiça!

O homem comum, todavia, gravitando em torno do próprio “eu”, em clima de egoísmo feroz, cerra os olhos às necessidades dos outros. Esquece-se de que respira no oxigênio do mundo, que se alimenta do mundo e dele recebe o material imprescindível ao aperfeiçoamento e à redenção. A qualquer exigência do campo externo, agasta-se e irrita-se, acreditando-se o credor de todos.

Muitos sabem receber, raros sabem dar.

Por que esquivar-se alguém aos petitórios do fragmento de terra que nos acolhe o espírito? Por que negar respeito ao que comanda, ou atenção ao que necessita?

Resgata os títulos de amor que te prendem a todos os seres e coisas do caminho.

Quanto maior a compreensão de um homem, mais alto é o débito dele para com a Humanidade; quanto mais sábio, mais rico para satisfazer aos impositivos de cooperação no progresso universal.

Não te iludas. Deves sempre alguma coisa ao companheiro de luta, tanto quanto à estrada que pisas despreocupadamente. E quando resgatares as tuas obrigações, caminharás na Terra recebendo o amor e a recompensa de todos.

 Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.150

sábado, 3 de outubro de 2020

Aniversário de Allan Kardec


Em homenagem a Kardec


A Cultura atingira o apogeu da descrença,
Imergira-se o Templo em fumo de vanglória
E, embora fosse o Cristo a eterna luz da História,
Afligia-se a Terra em sombra espessa e imensa.

A Civilização padecia a presença
De soberano caos em púrpura irrisória,
Sob a pompa do verbo esfervilhava a escória
Da cegueira e do escárnio a erguer-se em treva densa.

Mas Kardec domina a enorme noite humana
E traz no Espiritismo a Fé que se engalana,
Ao fulgor da Razão generosa e sincera...

O Evangelho ressurge. O Céu brilha de novo.
E Jesus, retornado ao coração do povo,
Acende para o mundo o Sol da Nova Era.

Amaral Ornelas

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Examinando Kardec


Não que outros missionários não tivessem aportado antes dele: ases do conhecimento que dilataram os imensos horizontes do saber; místicos que se embrenharam nos dédalos do "eu", aprendendo vitória sobre si mesmos; santos que rasgaram sendas luminosas no matagal das aflições; apóstolos que fizeram da renúncia e da humildade os baluartes da própria força; filósofos que ensejaram à razão o campo da investigação; cientistas corajosos e audazes que ofereceram a vida em prol de pesquisas inapreciáveis na preservação de milhões de vidas... E heróis, missionários do amor, sacerdotes da fraternidade - operários sublimes, todos eles, do Pai Construtor - encarregados de impulsionar o progresso da Terra conjugado à felicidade dos homens.
Ele, entretanto, guardadas as proporções, fez-se nauta de uma experiência antes não tentada nos mares ignotos da Verdade: auscultou o insondável além-da-morte, inquirindo e estudando, selecionando e fazendo triagem das informações recebidas dos Imortais, de modo a edificar o colossal edifício do Espiritismo.
Nem um só momento se deixou empolgar pela vitória conseguida ao peso das lágrimas, nem jamais se quedou desanimado sob o fardo das incompreensões, quando crivado pelas farpas da inveja e da calúnia.
Não se permitiu o luxo dos triunfos fáceis, nem aceitou a coroa da consagração.
A própria vida celeremente se lhe extinguiu no corpo somático, logo se permitiu conquistar o país do conhecimento, demandando a Imortalidade antes que os lauréis da gratidão ou de qualquer glória lhe pesassem sobre a cabeça veneranda.
Antes, outros Espíritos de escol também velejaram pelas regiões desconhecidas do após o túmulo, tomando apontamentos, registrando observações.
Muitos se embrenharam pelas veredas da vida além da vida e se detiveram deslumbrados no pórtico da revelação.
Os que se atreveram a adentrar-se pelos recônditos da Imortalidade, procuraram explicações mirabolantes, formulando hipóteses rocambolescas ou, fortemente impressionados, se recolheram à meditação profunda, ao flagício, à oração.
Os que facultaram apresentar o resultado do descobrimento, experimentaram a zombaria dos contemporâneos e, não raro, desencantados, refugiaram-se no silêncio ou arderam em piras crepitantes...
Ele, não!
Não se deteve a observar somente, nem se aquietou a experimentar emoções.
Após o meticuloso exame do mediunismo, patenteada a veracidade da vida incessante mesmo depois da disjunção celular, entregou-se ao conhecimento libertador.
Do fenômeno extraiu a doutrina.
Do informe puro e simples conseguiu o fato comprovado.
Enfrentando os Imortais não os temeu, não os exaltou. Inquiriu-os e analisou a todos quantos passaram suas informações pelo crivo da discussão, do debate franco, do exame rigoroso.
Compulsou os alfarrábios dos tempos e aprofundou-se na cultura da época.
Armado de equilíbrio invulgar, esteve a todo instante à altura da investidura e, quando o rebuliço da aventura cedeu lugar ao marasmo e à monotonia, ele apresentou o resultado dos seus estudos sérios, apoiados na razão e no bom senso.
Kardec foi, sem dúvida, o magnífico missionário da Humanidade, precursor do Mundo Novo.
Em sua obra recendem os aromas específicos da tríade perfeita do conhecimento: Ciência, Filosofia e Religião. São o esquema ímpar da sabedoria em todos os seus ângulos e faces.
Transcorrido o primeiro século da Codificação Kardequiana, mais se fazem atuais os seus ensinos e conclusões, ensejando elucidações valiosas para os enigmas que surgem no momento em que ruem os tabus e os preconceitos, em que necessidades aparecem para substituir as manifestações místicas da ignorância e da falsa pudicícia da fé, que se esboroam.
Por essa razão é que se faz imperioso estudar o Espiritismo, trazendo, não só os informes destes dias para examiná-los à luz meridiana da Doutrina, clareando as nebulosas informações de psiquistas e parapsicólogos, como também os problemas morais ao estudo sistemático da moral espírita e as conclusões da ciência ao ensinamento doutrinário. Não olvidar, no entanto, que os descobrimentos e as informações de caráter eminentemente revelador no campo do mundo, aos homens do mundo competem, sendo a Doutrina mesma o guia moral e espiritual para todos nós, não pretendendo, como não o fez o Codificador, resolver ou realizar as tarefas que ao homem cabem, como medidas imperiosas de crescimento e evolução.
Estudemos mais e analisemos melhor o Espiritismo, porquanto com as suas lições no coração e na mente encontraremos o pão e a luz, o instrumento e a rota, para levar-nos à harmonia e à paz real.

Viana de Carvalho / Divaldo Franco – Livro: À Luz do Espiritismo

Kardec e vida


Jesus nos trouxe a verdade.
Kardec, porém, nos trouxe a interpretação.
Daí o nosso dever de comunicar Allan Kardec a todos os setores da vida individual e coletiva, razão pela qual nos reconhecemos na obrigação de reafirmar:
Kardequizar é a legenda de agora.

Sintetizemos em linhas rápidas o que entendemos por Kardequização e seus resultados:

- Kardequização do sentimento: equilíbrio.

- Kardequização do raciocínio: visão.

- Kardequização da ciência: humanidade.

- Kardequização da filosofia: discernimento.

- Kardequização da fé: racionalidade.

- Kardequização da inteligência: orientação.

- Kardequização do estudo: esclarecimento.

- Kardequização do trabalho: organização.

- Kardequização do serviço: eficiência.

- Kardequização das relações: sinceridade.

- Kardequização do progresso: elevação.

- Kardequização da liberdade: disciplina.

- Kardequização do lar: harmonia.

- Kardequização do debate: proveito.

- Kardequização do sexo: responsabilidade.

- Kardequização da personalidade: autocrítica.

- Kardequização da corrigenda: compreensão.

- Kardequização da existência: caridade.

Kardequizemos para evoluir com acerto à frente do Cristo de Deus.

A Terra é a nossa escola milenária e, em suas classes múltiplas, somos companheiros uns dos outros. Kardequizarmo-nos na carteira de obrigações a que estamos transitoriamente jungidos é a fórmula ideal de ascensão.

Estudemos e trabalhemos sempre.

Bezerra de Menezes / Chico Xavier – Livro: Vereda de Luz

Escamas


“E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista.” (Atos, 9:18)

A visita de Ananias a Paulo de Tarso, na aflitiva situação de Damasco, sugere elevadas considerações.
Que temos sido nas sombras do pretérito senão criaturas recobertas de escamas pesadas sob todos os pontos de vista? Não somente os olhos se cobriram de semelhantes excrescências. Todas as possibilidades confiadas a nós outros hão sido eclipsadas pela nossa incúria, através dos séculos. Mãos, pés, língua, ouvidos, todos os poderes da criatura, desde milênios permanecem sob o venenoso revestimento da preguiça, do egoísmo, do orgulho, da idolatria e da insensatez.
O socorro concedido a Paulo de Tarso oferece, porém, ensinamento profundo. Antes de recebê-lo, o ex-perseguidor rende-se incondicionalmente ao Cristo; penetra a cidade, em obediência à recomendação divina, derrotado e sozinho, revelando extrema renúncia, onde fora aplaudido triunfador. Acolhido em hospedaria singela, abandonado de todos os companheiros, confiou em Jesus e recebeu-lhe a sublime cooperação.
É importante notar, contudo, que o Senhor, utilizando a instrumentalidade de Ananias, não lhe cura senão os olhos, restituindo-lhe o dom de ver. Paulo sente que lhe caem escamas dos órgãos visuais e, desde então, oferecendo-se ao trabalho do Cristo, entra no caminho do sacrifício, a fim de extrair, por si mesmo, as demais escamas que lhe obscureciam as outras zonas do ser.
Quanto lutou e sofreu Paulo, a fim de purificar os pés, as mãos, a mente e o coração? Trata-se de pergunta digna de ser meditada em todos os tempos.
Não te esqueças, pois, de que na luta diária poderás encontrar os Ananias da fraternidade, em nome do Mestre; aproximar-se-ão, compassivos, de tuas necessidades, mas não olvides que o Senhor apenas permite que te devolvam os olhos, a fim de que, vendo claramente, retifiques a vida por ti mesmo.

Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.149

O homem no mundo

Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça.
Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Sois chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.
Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem. Basta reporteis todos os atos da vossa vida ao Criador que vo-la deu; basta que, quando começardes ou acabardes uma obra, eleveis o pensamento a esse Criador e lhe peçais, num arroubo de alma, ou a sua proteção para que obtenhais êxito, ou a sua bênção para ela, se a concluístes. Em tudo o que fizerdes, remontai à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus.
A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta. (Cap. V, item 26.)
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os abençoa. – Um Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XVII – Sede perfeitos – item 10