
Muitos daqueles que se entregam atualmente aos postulados
científicos do Espiritismo condenam os estudiosos das ilações de ordem moral e
religiosa, às quais a Doutrina inevitavelmente conduz com as suas expressões
fenomênicas, demonstrando as realidades espirituais.
Mesmo aqui no Brasil,
onde Ismael fixou as bases luminosas do seu programa, observam-se movimentos
sub-reptícios tendentes a nulificar a ação do Evangelho, eliminando as feições
religiosas e consoladoras da Doutrina.
Que se crie uma
ciência nova sobre a argamassa dos fenômenos espíritas, que se amplie a
metapsíquica, com os seus compêndios de complicada terminologia é natural; mas
que se olvide que o moderno Espiritismo tem de ser a confirmação do
Cristianismo, em sua primitiva pureza, restaurando as forças coletivas para a
prática do bem, é inadmissível.
As ciências terrenas
têm um valor sobremaneira relativo diante das leis transcendentes que regem o
mecanismo dos destinos. O homem físico tem atingido a cumeadas evolutivas, mas
o homem moral se ressente de graves lacunas e grandes defeitos. Para o
primeiro, a Terra está cheia de novas comodidades e de eficazes tratamentos.
Para o segundo, porém, só existe um caminho de progresso - o do instituto
cristão.
Na compreensão exata
do Evangelho está hoje guardada a solução de todas as crises que assoberbam os
humanos. O critério de civilização ou de cultura, sob o ponto de vista mundano,
não resolve os sérios enigmas que preocupam a mentalidade geral, porquanto,
moralmente falando, o homem está cheio de necessidades. A mensagem do Cristo,
ainda hoje, é obscura e desconhecida no ambiente de quase todas as
nacionalidades, não obstante as igrejas de todos os matizes, isoladas dos verdadeiros
característicos do Cristianismo. Muitos povos esperam ainda a palavra do Mestre
para que aproximem as suas leis do Código da Fraternidade e do Amor.
No domínio das coisas
espirituais, o homem ainda oscila entre a civilização e a barbaria. Daí se
infere a necessidade de se esclarecer o entendimento humano no que se refere
aos seus deveres divinos.
Todos os programas
dos ideais espiritualistas têm de se basear na melhoria do homem. O Espiritismo
terá de reviver o Cristianismo ou terá de perecer; as suas questões científicas
são acessórios necessários à sua evolução como doutrina, mas não significam a
sua vitalidade essencial. Os que malsinam a obra evangélica, taxando-a de
inútil e descabida, não apreenderam as grandes verdades da Vida, despidos do
senso das realidades atuais.
É necessário que os
espíritas se convençam de que toda a obra doutrinária, sem o concurso da parte
moral do Espiritismo, passará como meteoro. Se nas vossas atividades
consuetudinárias tendes visto fracassarem inúmeras edificações rotuladas com a
nossa fé consoladora, semelhantes desastres são o fruto de injustificáveis
irreflexões. Antes de criar os espíritas conscientes dos seus deveres de
fraternidade, de humildade e de amor, tendes levantado as obras espíritas, vazias
das consciências esclarecidas, inaptas a orientá-las no labirinto das
atividades modernas. Criar instituições
sem afinar as mentes que as nortearão nos ambientes da coletividade, de acordo
com os seus objetivos sagrados, é meio caminho andado para a sua própria
falência.
Convencei-vos de que
a atualidade necessita do esforço comum de todos à sombra da bandeira da
tolerância e da unificação para que se dissemine a lição do Evangelho em todo o
planeta. Antes dos cérebros, faz-se
mister iluminar-se os corações. O Espiritismo marchará com o Cristo ou se
desviará de suas finalidades sagradas. Ou os homens realizam o Evangelho ou a
sua civilização terá de desaparecer.
Francisco Leite de Bittencourt Sampaio / Chico Xavier, em
24-3-1936 – Revista Reformador - março /1976
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