sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Súplica de solidariedade

 


Senhor, reconhecendo as próprias necessidades em que me debato e por sabê-las graves, venho rogar-Te:

pelos que malbaratam os preciosos dons da saúde na ociosidade e nas dissipações;

pelos que aplicam, indevidamente, os tesouros e moedas, de que dispõem, na condição de mordomos transitórios, vencidos pela avareza ou pelas loucuras da enganosa situação;

pelos que, dispondo do poder temporal, engendram problemas e aflições para o próximo, perdendo abençoadas oportunidades de serviço;

pelos que se utilizam das forças do corpo jovem para o mercado da licenciosidade e do sexo irresponsável, em campeonatos de alucinação;

pelos que desfrutam de inteligência e a usam para o festival da corrupção e do crime;

pelos que são aquinhoados com a palavra falada e escrita, derrapando nas vinculações mentais viciosas para o banquete demorado do ultraje, da acrimônia, da insensatez;

pelos que se encontram aquinhoados com os recursos preciosos da arte, colocando-os a serviço da malversação dos valores morais;

pelos que gozam das relevantes oportunidades de redenção, atirando-as fora por leviandade e precipitação;

pelos que são convidados ao exercício do amor e não obstante exploram a alheia afetividade;

pelos que são dotados do élan da simpatia e aproveitam-no para arrastar incautos aos compromissos negativos;

pelos que, acenados pela fé religiosa que lhes pode lenir as dores íntimas, apegam-se ao materialismo numa atitude teimosa e pertinaz;

pelos que conhecem o dever e seguem a estrada do erro...

São muitos aqueles que, enriquecidos de bênçãos, desperdiçam-nas, preferindo a turbulência, a desídia, a enfermidade.

Os que ora experimentam limitação e escassez, os que sofrem e vivem sob suores e penas já resgatam os infelizes cometimentos de ontem, avançando no rumo do porto da paz.

Os outros não. Malversam os recursos com que foram aquinhoados para impulsionarem o progresso, para redimir-se, para ampararem a vida, fazendo jus, em razão da usança inditosa, às expiações dolorosas e lamentáveis do futuro.

... E recordando-Te a figura sublime crucificada entre dois bandidos, aureolado por espinhos, sob chuvas de escárnios e de doestos, perdoando-nos a todos, peço-Te permissão para repetir com unção e sentimento de solidariedade para com eles, os equivocados e orgulhosos: — “Perdoa-os, meu Pai, porque eles não sabem o que fazem!"

Marcelo Ribeiro / Divaldo Franco - Livro: Terapêutica de emergência

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