sábado, 26 de julho de 2025

Salvar-se

 

“Palavra fiel é esta e digna de toda a aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores…” — Paulo (I Timóteo, 1:15)

 

É digna de nota a afirmativa do Apóstolo, asseverando que Jesus veio ao mundo salvar os pecadores, para reconhecermos que salvar não significa arrebatar os filhos de Deus à lama da Terra para que fulgurem, de imediato, entre os anjos do Céu.

Assinalemos que, logo após a passagem do Senhor entre as criaturas, a fisionomia íntima dos homens, de modo geral, era a mesma do tempo que lhe antecedera a vinda gloriosa.

Mantinham-se os romanos no galope de conquista ao poder, os judeus permaneciam algemados a racismo infeliz, os egípcios desciam à decadência, os gregos demoravam-se sorridentes e impassíveis, em sua filosofia recamada de dúvidas e prazeres.

Os senhores continuavam senhores, os escravos prosseguiam escravos… Todavia, o espírito humano sofrera profundas alterações.

As criaturas, ao toque do exemplo e da palavra do Cristo, acordavam para a verdadeira fraternidade, e a redenção, por chama divina, começou a clarear os obscuros caminhos da Terra, renovando o semblante moral dos povos…

Salvar-se, pois, não será subir ao Céu com as alparcas do favoritismo religioso, mas sim converter-se ao trabalho incessante do bem, para que o mal se extinga no mundo.

Salvou-nos o Cristo ensinando-nos como erguer-nos da treva para a luz.

Salvar é, portanto, levantar, iluminar, ajudar e enobrecer, e salvar-se é educar-se alguém para educar os outros.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Palavras de Vida Eterna – Lição 38


Caminhos do Infinito

 


O sol desponta no infinito clareando a Terra, aquecendo os ninhos, iluminando a vida.

O Pai de sabedoria eterna, permanece atento aos seus filhos, que no labor diário da vida, cultivam os dons do aprimoramento de si mesmo.

Deixai seu coração permanecer morno nas suaves bênçãos do Senhor para que as energias do cosmo divino clareiem teu roteiro.

Testes e provas são lições de aperfeiçoamento e estímulo no progresso da alma iluminada, muito embora te sintas desolado e triste como se permanecesses só, mesmo cercado de muitos amigos.

Os espinhos das roseiras são como os espinhos da vida. Muitas vezes, para possuirmos a beleza e o perfume da rosa nos ferimos nos seus espinhos, o amor do Eterno, porém permanece contigo, e com todos os seus filhos.

O sol continua a aquecer e iluminar a Terra após a borrasca.

Abre tua alma ao sol celeste das bênçãos divinas e caminha de coração tranquilo, porque a paz em breve atingirá os momentos de tua vida.

A tarefa do Mestre é escrínio abençoado onde conquistas no labor constante, bênçãos de paz e alegria para cobrir os teus dias vindouros.

Jesus te ilumine e fortaleça.

 

Bezerra de Menezes

Psicografia de Déa Gazzinelli


Você conhece a história de Anália Franco?

 

Anália Franco nasceu em 1853, no Rio de Janeiro, e desde jovem se destacou como educadora. Formou-se normalista em São Paulo e iniciou sua carreira como professora primária. Aprovada em concurso aos 16 anos, começou ajudando sua mãe na docência. Sua sensibilidade social aflorou com a promulgação da Lei do Ventre Livre, quando passou a se preocupar com os filhos das mulheres escravizadas, muitos dos quais eram abandonados. Com isso, iniciou um trabalho voltado à acolhida e educação dessas crianças.

Anália enfrentou o preconceito racial de sua época, recusando ajuda condicionada à segregação entre crianças brancas e negras. Com recursos próprios, fundou sua primeira Casa Maternal e, mesmo com pouco dinheiro, ia às ruas pedir ajuda para manter os pequenos. Seu trabalho incomodava setores conservadores, mas recebeu apoio de abolicionistas e republicanos. Sua dedicação fez com que ganhasse respeito e notoriedade como educadora e ativista.

Com o passar dos anos, fundou dezenas de escolas e instituições beneficentes. Criou revistas, como "Álbum das Meninas" e "A Voz Maternal", com conteúdos voltados à formação moral e intelectual das crianças e educadores. Em 1901, fundou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, onde também criou cursos de formação docente. Seu método educativo priorizava o desenvolvimento moral, afetivo e intelectual das crianças.

Anália era espírita convicta e enxergava na doutrina um impulso para sua missão de amparo e educação dos mais necessitados. Fundou a Colônia Regeneradora D. Romualdo, voltada à reintegração social de jovens em situação de risco. Visionária, criou uma estrutura autossustentável para suas instituições, com tipografias, oficinas e programas de profissionalização. Sua atuação chegou a dezenas de cidades, com escolas, asilos, grupos culturais e centros educativos.

Faleceu em 1919, vitimada pela gripe espanhola, pouco antes de fundar mais uma obra beneficente. Sua trajetória foi revolucionária para a mulher de sua época, atuando como educadora, filantropa, feminista, espírita e empreendedora. É reconhecida como a “Grande Dama da Educação Brasileira”, com uma obra imensa que beneficiou milhares e marcou profundamente a história da educação e do Espiritismo no Brasil.

 
Extraído do site da União Espírita Mineira - UEM




sábado, 19 de julho de 2025

Reparemos nossas mãos

 

“E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: quero; sê limpo.” — (Mateus, 8:3)

 

Meditemos na grandeza e na sublimidade das mãos que se estendem para o bem…

Mãos que aram a terra, preparando a colheita…

Mãos que constroem lares e escolas, cidades e nações…

Mãos que escrevem, amando em louvor do conhecimento…

Mãos que curam na medicina, que plasmam a riqueza da ciência e da indústria, que asseguram o reconforto e o progresso…

Todas elas se abrem, generosas, na direção do infinito, gerando aperfeiçoamento e tranquilidade, reconhecimento e alegria, conjugando-se, abnegadas, para a extensão das bênçãos de Sabedoria e de Amor na Obra de Deus.

Mas pensemos também nas mãos que se estendem para as sombras do mal…

Mãos que recolhem o ouro devido ao trabalho em favor de todos, transformando-se em garras de usura…

Mãos que acionam apetrechos de morte, convertendo-se em conchas de sangue e lágrimas…

Mãos que se agitam na mímica estudada de quantos abusam da multidão para conduzi-la à indisciplina em proveito próprio…

Mãos que ferem, que coagulam o fel da calúnia em forma de letras, que amaldiçoam, que envenenam e que cultuam a inércia…

Todas elas se cerram sobre si mesmas em círculos de aflição e remorso pelos quais se aprisionam às trevas do sofrimento.

Reparemos, assim, a que forças da vida estendemos as nossas mãos.

Jesus, o Mestre Divino, passou no mundo estendendo-as no auxílio a todos, ensinando e ajudando, curando e afagando, aliviando corpos enfermos e levantando almas caídas, e, para mostrar-nos o supremo valor das mãos consagradas ao bem constante, preferiu morrer na cruz, de mãos estendidas, como que descerrando o coração pleno de amor à Humanidade inteira.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Palavras de Vida Eterna – Lição 37


sábado, 12 de julho de 2025

Coração puro

 

“Não se turbe o vosso coração…” — Jesus (João, 14:1)

 

Guarda contigo o coração nobre e puro.

Não afirmou o Senhor: — “não se vos obscureça o ambiente” ou “não se vos ensombre o roteiro”, porque criatura alguma na experiência terrestre poderá marchar constantemente a céu sem nuvens.

Cada berço é início de viagem laboriosa para a alma necessitada de experiência.

Ninguém se forrará aos obstáculos.

O pretérito ominoso para a grande maioria de nós outros, os viandantes da Terra, levantará no território de nosso próprio íntimo os fantasmas que deixamos para trás, vagueantes e insepultos, a se exprimirem naqueles que ferimos e injuriamos nas existências passadas e que hoje se voltam para nós, à feição de credores inflexíveis, solicitando reconsideração e resgate, serviço e pagamento.

Não passarás, assim, no mundo, sem tempestades e nevoeiros, sem o fel de provas ásperas ou sem o assédio de tentações.

Buscando o bem, jornadearás, como é justo, entre pedras e abismos, pantanais e espinheiros.

Todavia, recomendou-nos o Mestre: — “não se turbe o vosso coração”, porque o coração puro e intimorato é garantia da consciência limpa e reta e quem dispõe da consciência limpa e reta vence toda perturbação e toda treva, por trazer em si mesmo a luz irradiante para o caminho.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Palavras de Vida Eterna – Lição 36


sábado, 5 de julho de 2025

Cultura de paz no mundo

 

No mês em que a comunidade esperantista comemora os 138 anos de lançamento do "Unua Libro" (Primeiro Livro), que marcou oficialmente o início deste projeto para os encarnados na Terra, faremos uma breve reflexão sobre a tríade “Evangelho, Espiritismo e Esperanto”, bem como o papel desta língua como instrumento para uma cultura de paz no mundo.

O Esperanto é uma língua planejada com o propósito de facilitar a comunicação entre os povos de diferentes nacionalidades, possuindo para isso uma estrutura simples, lógica e neutra, de forma a permitir que pessoas de diversas origens culturais possam dialogar em igualdade de condições. Essa proposta, oriunda do mundo espiritual (Livro: O Esperanto como revelação, psicografia de Chico Xavier), vai muito além de uma ferramenta linguística — ela é, essencialmente, um projeto humanitário.

Em um mundo marcado por intolerância e incompreensão, onde as barreiras linguísticas muitas vezes contribuem para o distanciamento e a desarmonia entre as nações, o Esperanto se apresenta como instrumento de união e promoção de paz, refletindo ideais evangélicos de fraternidade e bem comum, encontrando dessa forma, eco na doutrina espírita, que compartilha os mesmos princípios.

Assim, a tríade "Evangelho, Espiritismo e Esperanto" forma uma síntese harmoniosa que busca preparar a humanidade para uma nova era de paz e solidariedade. O Evangelho fornece os princípios morais, o Espiritismo explica e amplia esses princípios à luz da reencarnação e da lei de causa e efeito, e o Esperanto oferece uma ferramenta concreta para promover o entendimento entre os povos.

Não se trata apenas de aprender uma língua, mas de participar de um movimento que se alinha com os ensinamentos de Jesus e com a missão do Espiritismo na Terra. Vários espíritas, como Chico Xavier e Divaldo Franco, além de benfeitores como Emmanuel e Bezerra de Menezes, se manifestaram sobre o Esperanto, apontando nele um instrumento do futuro, associado ao mundo de regeneração, capaz de promover não apenas o entendimento linguístico, mas também o despertar de uma consciência mais solidária, justa e fraternal.

Diante disso, é essencial que os espíritas se engajem no aprendizado e na divulgação do Esperanto (livro “A tragédia de Santa Maria”, psicografado por Yvone Pereira). Além de contribuir para a difusão de uma cultura de paz, essa atitude está em sintonia com os princípios evangélicos de fraternidade e respeito ao próximo.

Que cada espírita veja, no estudo do Esperanto, uma forma concreta de vivenciar o Evangelho no mundo. 

Ana Paula Pose

Área de Esperanto - UEM


Observemos amando

 

“Por que vês o argueiro no olho de teu irmão?” — JESUS (Mateus, 7:3)

 

Habitualmente guardamos o vezo de fixar as inibições alheias, com absoluto esquecimento das nossas.

Exageramos as prováveis fraquezas do próximo, prejulgamos com rispidez e severidade o procedimento de nossos irmãos…

A pergunta do Mestre acorda-nos para a necessidade de nossa educação, de vez que, de modo geral, descobrimos nos outros somente aquilo que somos.

A benefício de nossa edificação recordemos a conduta do Cristo na apreciação de quantos lhe defrontavam a marcha.

Para muitos, Maria de Magdala era a mulher obsidiada e inconveniente; mas para ele surgiu como sendo um formoso coração feminino, atribulado por indizíveis angústias, que, compreendido e amparado, lhe espalharia no mundo o sol da ressurreição.

No conceito da maioria, Zaqueu era usurário de mãos azinhavradas e infelizes; para ele, no entanto, era o amigo do trabalho a quem transmitiria alevantadas noções de progresso e riqueza.

Aos olhos de muita gente, Simão Pedro era fraco e inconstante; para ele, contudo, representava o brilhante entranhado nas sombras do preconceito que fulgiria à luz do Pentecostes para veicular-lhe o Evangelho.

Na opinião do seu tempo, Saulo de Tarso era rijo doutor da lei mosaica, de espírito endurecido e tiranizante; para ele, porém, era um companheiro mal conduzido que buscaria, em pessoa, às portas de Damasco para ajudar-lhe a Doutrina.

Observemos amando, porque apenas o amor puro arrancará por fim as escamas de treva dos nossos olhos para que os outros nos apareçam na Bênção de Deus que, invariavelmente, trazem consigo.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Palavras de Vida Eterna – Lição 35


Formação do Expositor

 

“Numa orientação espiritual, foi-me revelado que tenho condições para ser um expositor. Sabendo que essa posição exige grandes responsabilidades, quais as principais que o senhor assinalaria?

(Neuton Suguilhara – Taguatinga – DF)

“Em nossa despretensiosa opinião, a maior responsabilidade do expositor é a de ser fiel ao chefe da Seara. Todo pregador dos princípios morais e, em especial, o expositor espírita, nunca deve esquecer que seu trabalho é o de evangelizar com o Cristo, o que significa não perder de vista o verdadeiro caráter do trabalho cristão, assinalado pelas qualidades fundamentais: humildade, sinceridade, coragem, independência, amor, verdadeiro desejo de servir, estudo e meditação.

“Para que isso ocorra, outra condição se destaca: a eficiência! O orador espírita deve, pois, mobilizar todos os recursos ao seu alcance para ser um bom expositor e conseguir comunicar as grandes verdades de que todos precisamos. Para tanto, precisa estar convicto de que o êxito do seu trabalho terá a medida de seu esforço. E de que esse esforço terá muito de exercício, experimentação de métodos, técnicas, modos, etc., até mesmo para que o próprio expositor se descubra, isto é, identifique o estilo e a natureza peculiar do trabalho a que mais se ajusta. A chave do êxito está em fazer-se o que se gosta, aquilo para o que se revela pendor, vocação, gosto. A pregação pública, como qualquer outro setor, é um campo multifacetado, onde cada qual definirá sua preferência e aptidão.

“Há, por exemplo, o orador didático, o solto, o metódico, o filosófico, o bem-humorado, o altiloquente, o evangélico, o emotivo, o tertulial, o verberador, o tímido e o impetuoso. Há o que adota preparação prévia meticulosa e não foge ao esquema traçado; o contrário, que não consegue preparar antecipadamente, mas fala ao sabor da emoção do momento. Há o monotônico, que só aborda uma temática invariável, ou trata todos os assuntos pelo mesmo prisma. O oposto é o polimorfo, que desenvolve capacidade para ver a problemática humana sob vários ângulos e adquire a capacidade de apreciar assuntos diferentes entre si.

“Vemos os que imitam outros pregadores conhecidos e os mais autênticos. Existe o estacionado, que nunca passa de um mesmo diapasão, e o que evolui, aprende com os próprios erros, para não incorrer neles de futuro. Aparece o sem autocrítica, cujos graves defeitos todos notam, só o próprio é que não vê e o melindroso, a quem a menor crítica ‘desmonta’ por muitas semanas. “Mas, em qualquer caso, uma qualidade é fundamental: a modéstia e a humildade. “No mais, vá em frente, e nunca creia que você, agora jovem, iniciando-se no trabalho ativo da seara, virá a ser um pregador espírita destacado simplesmente porque terá reencarnado com essa missão. Lembre-se do conselho de Thomas Edson, o grande inventor. ‘O gênio é feito de 1% de inspiração e 99% de transpiração.’

“Aliás, a orientação que você recebeu de um espírito amigo veio mesmo em forma sábia, porque disse que você ‘tem condições para ser um expositor’. Não disse que será um expositor! E isso é certo porque por mais que uma missão tenha sido preparada na Espiritualidade, o fato apenas confere condições mais ou menos favoráveis para sua efetivação, que será consumada ou não, segundo a maior ou menor aceitação do interessado e seus esforços nesse sentido.”

(Texto extraído da “Revista Espírita Allan Kardec” – Ano III, nº 11).


Você conhece a história de Abel Gomes?

 

Nascido no dia 30 de dezembro de 1877, na antiga cidade de Conceição do Turvo, hoje cidade de Senador Firmino, e desencarnado em Astolfo Dutra, também no Estado de Minas Gerais, no dia 16 de agosto de 1934.

Descendente de colonizadores portugueses, Abel Gomes se tornou um nome benquisto por todos e aureolado de grande respeito e admiração, projetando-se por todos os Estados brasileiros e mesmo ultrapassando fronteiras, para atingir países vizinhos. Apesar de ser um homem simples, pobre e doente, impôs-se ao preito dos seus contemporâneos, pois não apenas ensinava, mas dava sempre o exemplo. Como sociólogo e evangelizador, soube viver os Evangelhos, propiciando o exemplo vivo daquele que, no dizer judicioso de Jesus Cristo, toma do arado e não olha mais para trás.

Abel Gomes tornou-se representativa figura do Espiritismo, divulgando os seus preceitos no seio das massas e conseguindo atingir pessoas de todos os níveis sociais. Dentre os livros espíritas que contribuíram para a sua conversão, situa-se Depois da Morte, de Léon Denis, entretanto, os profundos estudos por ele encetados fizeram com que adquirisse a fé raciocinada, preconizada por Allan Kardec e, portando essa fé inabalável, dedicou-se de corpo e alma ao serviço das novas ideias que passara a esposar.

Embora fosse pregador, esquivava-se sempre que podia da tribuna, preferindo espargir os seus ensinamentos pela palavra escrita, através de suas próprias produções literárias e poéticas, todas elas aureoladas de grande profundidade moral e espiritual.

Ficou impossibilitado de andar quando tinha apenas vinte e cinco anos de idade, pois foi acometido de pertinaz e progressiva paralisia que lhe imobilizou as pernas. Quase cego, nunca se deixou vencer pelas expiações e pelos duros golpes da adversidade. Em sua cadeira de rodas continuou a produzir como poucos. Jamais esmoreceu. Seu dinamismo era inquebrantável.

Pobre de bens materiais, jamais alimentou desejos de enriquecer-se com o ouro da Terra, pois não desconhecia que a fortuna material é um bem transitório que Deus coloca nas mãos de Suas criaturas.

Exerceu a profissão de contabilista em várias firmas comerciais. Devido à paralisia e dificuldades de locomoção começou a trabalhar em sua própria residência, como alfaiate e fotógrafo. As poucas horas de lazer que lhe restavam, dedicava-as à composição de músicas admiráveis, passando a ensinar as maravilhas do som a um pugilo de artistas amadores. Também demonstrou nítidas qualidades de teatrólogo.

Embora não se tenha casado, foi pai adotivo de dois rapazes que se tornaram cidadãos prestativos e respeitáveis.

Abel Gomes fez parte de um pugilo de pioneiros do Espiritismo em Minas Gerais, entre os quais podemos citar João Ernesto, em Ubá; João Marcelino, na cidade de Pombas; Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento; José Justiniano de Godoy e Jota Lacerda, em Cataguazes; José Alves Ferreira, Antônio Correntino e Franklin Teodoro dos Santos, em Araguari, entre outros.

No ano de 1928, em companhia de outros denodados seareiros, fundou o Grupo Espírita Luz e Trabalho, no antigo Porto de Santo Antônio, instituição que teve vida efêmera. No dia 2 de julho de 1933, coadjuvado por outros doze espíritas, fundou novo Centro Espírita, dando-lhe o nome do primeiro. Após a sua desencarnação essa instituição passou a chamar-se Cabana Espírita Abel Gomes. Posteriormente, os seus continuadores lançaram à publicidade o jornal Arauto da Fé e implantaram a Fundação Espírita Abel Gomes, que passou a amparar trinta crianças.

Exegeta de grandes recursos, Abel Gomes esmerava-se na interpretação de textos bíblicos, impregnando, com os lampejos do espírito que vivifica, vários ensinamentos contidos no Velho e no Novo Testamentos. Frequentemente, apelava para os acontecimentos da vida prática, explicando-os à luz da Doutrina Espírita, o mesmo fazendo com as parábolas e ensinos de Jesus Cristo. A sua maneira preferida de ensinar era através do exemplo dignificante.

Na qualidade de professor, exerceu o magistério nas cidades de Cataguazes e Viçosa, lecionando português e matemática. Foi um autêntico autodidata, não tendo cursado nenhuma Faculdade e nunca se matriculou num ginásio. A primeira vez em que entrou num desses estabelecimentos, foi para ensinar aquilo que já havia aprendido. Foi um homem dotado de sólida cultura e de incomparável senso humanístico.

Poliglota, dominava bem o português, o francês, o castelhano, o italiano e conhecia razoavelmente o grego e o latim. Foi também um dos pioneiros do Esperanto em nosso país, e consta que foi o primeiro a lançar uma gramática para o ensino desse idioma internacional.

Abel Gomes foi um homem de letras, tendo deixado numerosas obras ocultas no anonimato ou encobertas por pseudônimo (entre os quais o de Jota Ubirajara). Escreveu obras notáveis, como Braz Pires, A Felicidade e Pérolas Ocultas. Prestou inestimável colaboração a publicações brasileiras e portuguesas.

Foi um poeta de grandes recursos. O seu gênero era o lírico, deixando extravasar a sua alma em cânticos maravilhosos, abordando problemas humanos, patrióticos e religiosos, esses últimos com fundamento nos sadios ensinamentos da Codificação Kardequiana. No seu magistral poema A Dor, traduziu a sua conformação aos ditames do Alto, compenetrado que era das razões dos sofrimentos que o assolavam.

Abel Gomes foi, portanto, um dos mais autênticos espíritas dos últimos tempos e o Espiritismo muito lhe deve pelo seu inestimável trabalho em favor da sua divulgação, principalmente no Estado de Minas Gerais.

 

LUCENA, Antônio de Souza e GODOY, Paulo Alves. Personagens do Espiritismo. Ed. FEESP, SP, 1982.

Extraído do site FEP – Federação Espírita do Paraná