terça-feira, 5 de março de 2024

Refúgio

 

Às vezes, dizes, coração amigo:

— “Como guardar-me em paz, na agitação do mundo?

Tanto fel ao redor!… Tanta gente em perigo!…

Tantas tribulações sem que se saiba, a fundo,

De que modo evitar a invasão desmedida

Das nuvens de aflição que atormentam a vida!…”

 

E contigo outras almas no caminho

Padecem sob o impacto violento

Das lâminas brutais do sofrimento

Que lhes ferem o ser, desolado e sozinho…

 

Aqui, alguém lastima um coração querido

Que ficou para trás, exânime e caído

Em trágicos enganos;

Ali tombam, a golpes desumanos

Dos chamados engenhos do progresso,

Existências repletas de esperança,

Ante as brechas de sombra em que a morte se lança

Entre o ouro e o sucesso…

 

Dos recursos plebeus aos valores mais altos,

Sobram as provações que chegam, de imprevisto,

No clamoroso misto

De sequestros e assaltos.

 

Nos lares em geral, sob múltiplos níveis,

As desvinculações de pessoas amadas

São lesões e feridas desatadas

Para as almas sensíveis.

 

Assemelha-se a Terra à nave firme e atenta,

Sob rude tormenta.

 

Entretanto, alma boa,

Em plena luta que te aperfeiçoa,

Podes deter a paz contigo, estrada afora,

Prendendo-te ao dever que em tudo nos melhora.

 

Todo trabalho são é lúcido recanto

Que se nos faz refúgio aprazível e santo.

 

Um lar para servir,

Um filho a proteger,

A nobre preleção enviada ao porvir,

A página a escrever,

Um doente a zelar,

O trecho musical que se tem a compor,

O campo a cultivar

E o serviço do bem que é mensagem de amor…

 

Tudo isso, na terra, é cobertura,

Sustentando o equilíbrio da criatura.

Se buscas, em verdade, a paz, no dia a dia,

Coloca a tua fonte de alegria

E todos os impulsos que são teus

No trabalho que o mundo te confia

Porque o trabalho é sempre uma Bênção de Deus.

 

Maria Dolores / Chico Xavier

Livro: Caminhos do amor



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