sábado, 5 de junho de 2021
Instrução dos espíritos sobre a regeneração da humanidade
(Paris,
abril de 1866 – Médium: Srs. M. e T., em sonambulismo)
Os acontecimentos se precipitam com rapidez, de modo que
não vos dizemos mais, como outrora: “Os tempos estão próximos”; agora dizemos:
“Os tempos são chegados”.
Por estas palavras não entendais um novo dilúvio, nem um
cataclismo, nem uma perturbação geral. Convulsões parciais do globo ocorreram
em todas as épocas e ainda se produzem, porque inerentes à sua constituição,
mas são sinais dos tempos.
Entretanto, tudo quanto está predito no Evangelho deve
realizar-se e se cumpre neste momento, como reconhecereis mais tarde. Mas não
tomeis os sinais anunciados senão como figuras, dos quais é preciso captar o
espírito, e não a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o
véu da alegoria, e é porque os exegetas se apegaram à letra que se extraviaram.
Faltou-lhes a chave para a compreensão de seu verdadeiro
sentido. (...)
Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis
de Deus não serão alteradas. Assim, não vereis milagres, nem prodígios, nem
nada de sobrenatural, no sentido vulgar ligado a estas palavras.
Não olheis o céu para aí buscar sinais precursores, pois não
os vereis e os que vo-los anunciam vos enganarão; mas olhai em torno de vós,
entre os homens; é aí que os encontrareis.
Não sentis como um vento que sopra na Terra e agita todos
os Espíritos? O mundo está à espera e como tomado por um vago pressentimento à
aproximação da tempestade.
Contudo, não acrediteis no fim do mundo material; a Terra
progrediu desde a sua transformação; deve progredir ainda, e não será
destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e a
Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos. (...)
Para que os homens sejam felizes na Terra, é necessário que
esta só seja povoada de Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que não
quererão senão o bem. Sendo chegado esse tempo, uma grande emigração se realiza
neste momento entre os que a habitam; os que fazem o mal pelo mal e não são
tocados pelo sentimento do bem por não serem dignos da Terra transformada, dela
serão excluídos, porque aí trariam novamente a perturbação e a confusão e
seriam um obstáculo ao progresso. Irão expiar seu endurecimento nos mundos
inferiores, para onde levarão os conhecimentos adquiridos e terão por missão
fazê-los progredir. Serão substituídos na Terra por Espíritos melhores, que farão
reinar entre eles a justiça, a paz e a fraternidade.
A época atual é de transição; os elementos das duas gerações
se confundem. Colocados em ponto intermediário, assistis à partida de uma e à
chegada da outra, e cada um já se assinala no mundo pelos caracteres que lhes
são próprios.
As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e
pontos de vista opostos. Pela natureza das disposições morais, mas, sobretudo,
das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas
pertence cada indivíduo.
Devendo fundar a era do progresso moral, a nova geração
se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, aliadas ao
sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal
indubitável de certo grau de progresso anterior. Não será composta
exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo
já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressivas, e
aptos a secundar o movimento regenerador. (...)
Ao contrário, o que distingue os Espíritos atrasados é, primeiro,
a revolta contra Deus pela negação da Providência e de todo poder superior à
Humanidade; depois, a propensão instintiva às paixões degradantes, aos
sentimentos antifraternos do egoísmo, do orgulho, do ódio, do ciúme, da
cupidez, enfim, a predominância do apego a tudo o que é material. (...)
Tais os vícios de que a Terra deve ser expurgada pelo afastamento
dos que se recusam a emendar-se, porque são incompatíveis com o reinado da
fraternidade e porque os homens de bem sempre sofrerão com o seu contato. A
Terra ficará livre deles e os homens marcharão sem entraves para o futuro
melhor, que lhes está reservado aqui, como prêmio por seus esforços e por sua
perseverança, esperando que uma depuração ainda mais completa lhes abra a
entrada dos mundos superiores.
Por esta emigração de Espíritos não se deve entender que
todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados a mundos
inferiores. Muitos, ao contrário, a ela voltarão, porque muitos cederam ao
arrastamento das circunstâncias e do exemplo; neles a casca era pior que a
essência. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do
mundo corporal, a maioria verá as coisas de maneira completamente diferente do
que quando vivos, do que tendes numerosos exemplos. Nisto são ajudados pelos
Espíritos benevolentes, que por eles se interessam e que se desvelam em os
esclarecer e em lhes mostrar o falso caminho que seguiram. Por vossas preces e
exortações, vós mesmos podeis contribuir para sua melhoria, porque há solidariedade
perpétua entre os mortos e os vivos. (...)
Assim, só haverá uma exclusão definitiva para os Espíritos
rebeldes por natureza, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a
ignorância, tornam-se surdos à voz do bem e da razão.
Mas, mesmo estes não estão votados a uma inferioridade
perpétua, e dia virá em que repudiarão o seu passado e abrirão os olhos à luz.
Orai, pois, por esses endurecidos, a fim de que se emendem
enquanto é tempo, pois o dia da expiação está próximo.
Infelizmente, por desconhecer a voz de Deus, a maioria persistirá
em sua cegueira e sua resistência marcará o fim de seu reino por lutas
terríveis. Em seu desvario, eles próprios cavarão a sua ruína; impelirão à
destruição, que engendrará uma porção de flagelos e calamidades, de sorte que,
sem o querer, apressarão o advento da era da renovação. (...)
Um dos caracteres distintivos da nova geração será a fé inata;
não a fé exclusiva e cega, que divide os homens, mas a fé raciocinada, que
esclarece e fortifica, que os une e os confunde num comum sentimento de amor a
Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue desaparecerão os últimos
vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral
e social.
O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque
destrói os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o
fanatismo. Dá uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e
todas as ideias que correspondem às vistas da nova geração. Por isto é como que
inato e em estado de intuição no coração de seus representantes. A era nova
vê-lo-á, pois, crescer e prosperar pela força mesma das coisas.
Tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio
de todas as instituições.
Mas, daqui até lá, quantas lutas terá ainda de sustentar contra
os seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo, que, coisa
bizarra, se dão as mãos para o abater! Eles pressentem seu futuro e sua ruína,
razão por que o temem, pois já o veem plantar, sobre as ruínas do velho mundo
egoísta, a bandeira que deve unir todos os povos. Na divina máxima: Fora da caridade
não há salvação, leem sua própria condenação, porque é o símbolo da nova
aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se lhes mostra como as palavras
fatais do festim de Baltazar. E, contudo, deviam bendizer esta máxima, porque
os garante contra todas as represálias da parte dos que perseguem. Mas não, uma
força cega os impele a rejeitar a única coisa que os poderia salvar!
Que poderão eles contra o ascendente da opinião que os
repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, não o duvideis, porque,
estando nas leis da Natureza é, por isto mesmo, imperecível. Vede por que
multidão de meios a ideia se espalha e penetra em toda parte; crede bem que
esses meios não são fortuitos, mas providenciais; aquilo que, à primeira vista,
pareceria dever prejudicá-lo, é precisamente o que ajuda a sua propagação.
(...)
Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração
e devotamento. Não vos assusteis com os obstáculos, pois nenhum deles poderá
entravar os desígnios da Providência.
Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus por vos ter colocado
na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos pedistes, e do
qual vos deveis tornar dignos por vossa coragem, perseverança e devotamento.
Ditosos os que sucumbirem nesta luta contra a força; mas a vergonha será, no mundo
dos Espíritos, para os que sucumbirem pela fraqueza ou pela pusilanimidade.
Aliás, as lutas são necessárias para fortificar a alma; o contato do mal faz
apreciar melhor as vantagens do bem.
Sem as lutas que estimulam as faculdades, o Espírito
deixar-se-ia arrastar por uma indiferença funesta ao seu adiantamento. As lutas
contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas
contra o mal desenvolvem as forças morais.
Fragmentos extraídos da Revista Espírita – outubro / 1866
Oração diante da palavra
Senhor!
Deste-me a palavra por semente de luz.
Auxilia-me a cultivá-la.
Não me permitas envolvê-la na sombra
que projeto.
Ensina-me a falar para que se faça o
melhor.
Ajuda-me a lembrar o que deve ser dito
e a lavar da memória tudo aquilo que a tua bondade espera se lance no
esquecimento.
Onde a irritação me procure, induze-me
ao silêncio, e, onde lavre o incêndio da incompreensão ou do ódio, dá que eu
pronuncie a frase calmante que possa apagar o fogo da ira.
Em qualquer conversação, inspira-me o
conceito certo que se ajuste à edificação do bem, no momento exato, e faze-me
vigilante para que o mal não me use, em louvor da perturbação.
Não me deixes emudecer, diante da
verdade, mas conserva-me em tua prudência, a fim de que eu saiba dosar a
verdade em amor, para que a compaixão e a esperança não esmoreçam, junto de
mim.
Traze-me o coração ao raciocínio, sincero sem aspereza, brando sem preguiça, fraterno sem exigência e deixa, Senhor, que a minha palavra te obedeça à vontade, hoje e sempre.
Emmanuel / Chico Xavier – Livro: À Luz da Oração
Na grande romagem
“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar
que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia...” Paulo
(Hebreus, 11:8)
Pela fé, o aprendiz do Evangelho é
chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é destinada.
A conscrição atinge a todos.
O grande patriarca hebreu saiu sem
saber para onde ia...
E nós, por nossa vez, devemos erguer o
coração e partir igualmente.
Ignoramos as estações de contato na
caminhada enorme, mas estamos informados de que o nosso objetivo é Cristo
Jesus.
Quantas vezes seremos constrangidos a
pisar sobre espinheiros da calúnia?
Quantas vezes transitaremos pelo
trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos
alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso
pensamento e o Céu, em largos trechos da senda?
Insolúvel a resposta. Importa,
contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção, sem
esmorecimento.
Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a
responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão...
Ainda assim, é indispensável seguir
sem desânimo.
Quando não seja possível avançar dois
passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros...
Abre-se a vanguarda em horizontes
novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual e progresso na virtude.
Subamos, sem repouso, pela montanha
escarpada:
Vencendo desertos...
Superando dificuldades...
Varando nevoeiros...
Eliminando obstáculos...
Abraão obedeceu, sem saber para onde
ia, e encontrou a realização da sua felicidade.
Obedeçamos, por nossa vez, conscientes
de nossa destinação e convictos de que o Senhor nos espera, além da nossa cruz,
nos cimos resplandecentes da eterna ressurreição.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 003
sábado, 29 de maio de 2021
O grande restaurador
Mateus, 4:24 e 25; João, 9:2 e 3; Mateus, 11:28
As palavras que Ele pronunciava, emolduravam-se com os
atos que Ele realizava. Identificado com Deus, Suas mãos produziam as curas
mais diversas, e que nunca haviam acontecido antes.
De todo lugar, portanto, particularmente da Síria,
traziam doentes: paralíticos, cegos, surdos, lunáticos, infelizes de todo
porte, que chegavam exibindo suas dores mais cruéis e padecimentos sem
conforto.
Jesus, tomado de compaixão, atendia-os, ministrando-lhes
o bálsamo da misericórdia que escorria pelas mãos e alterava a tecedura
orgânica desorganizada, restaurando-lhes a saúde.
Era natural que, à medida que libertava os enfermos das
suas mazelas, que eles próprios haviam buscado através da insensatez, da
perversidade e do crime, mais necessitados O buscassem com avidez e tormentos.
Ele, porém, não atendia a todos quantos se Lhe apresentassem procurando a
recuperação orgânica, emocional ou mental. A Sua era uma terapia de
profundidade, que sempre convocava o paciente a não voltar a pecar, evitando-se
novos comprometimentos tormentosos, para que não acontecesse nada pior. Essa,
sim, seria a cura real, a de natureza interior, mediante a transformação moral,
em razão de se encontrar no imo do ser a causa do seu padecimento.
Conhecendo que todos os seres procedem de outros
caminhos, os mais variados, que foram percorridos pelos multifários
renascimentos carnais, cada qual imprime nos tecidos delicados do espírito os
atos que praticaram, fazendo jus às ocorrências de dor e sombra em que se
encontravam, assim como das alegrias e da saúde que os visitavam. A criatura é
a semeadora, mas também a ceifeira dos próprios atos, que se insculpem nos
refolhos do ser, desenhando as futuras experiências humanas no corpo.
Eis por que nem todos os doentes Lhe recebiam a atenção
que esperavam encontrar. Não estavam em condições de ser libertados das
aflições que engendraram antes para eles próprios, correndo o risco de logo que
se encontrassem menos penalizados, corressem na busca de novas inquietações.
A sabedoria de Jesus é inigualável, porque penetra no
âmago dos acontecimentos, de onde retira o conhecimento que faculta entender o
que sucede com cada qual que O procura.
Aqueles homens e mulheres alienados, de membros
paralisados, sem audição nem claridade ocular, procediam de abismos morais em
que se atiraram espontaneamente, desde que luz em toda criatura a noção da
Verdade, do dever e se encontram ínsitos os impulsos do amor e da paz. Não
obstante, a teimosia rebelde despreza os sinais de perigo e impõe os caprichos
da personalidade inquieta, desejando alterar os impositivos das leis universais
a seu benefício, em detrimento das demais pessoas, no que resultam os dramas
imediatos e futuros que sempre alcançam os infratores.
Jesus não se permitia alterar os soberanos códigos,
beneficiando aqueles que se encontravam incursos nos resgates não concluídos,
deixando outros ao abandono. A Sua é a justiça ideal, que não privilegia, nem
esquece.
Temos a real demonstração no atendimento ao nato-cego.
Aquele homem nascera cego e sofria, mas não reclamava. Quando Jesus passou
próximo a ele, os amigos interrogaram:
— Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse
cego?
Como ele era cego de nascença, não poderia ter pecado na
atual existência e igualmente não poderia resgatar dívidas de seus pais, caso
fossem pecadores.
Jesus, que lhe penetrara a causalidade da cegueira,
redarguiu, sereno:
— Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se
manifestem nele as obras de Deus.
Tratava-se de um voluntário, que se apresentava no
ministério de Jesus, a fim de que se pudessem manifestar as obras de Deus, o
poder de que se encontrava possuidor o Mestre. E, ato contínuo, curou o homem,
utilizando-se de um processo especial, que pudesse impressionar os
circunstantes.
A Sua autoridade moral produzia vibrações que afastavam
os Espíritos perversos, para os quais o verbo franco e gentil não lograva o
êxito que se fazia necessário. Perdidos em si mesmos, conheciam da vida apenas o
temor que experimentavam e que infligiam nas suas vítimas. Outros enfermos, no
entanto, ao leve contato das Suas mãos recebiam a energia vitalizadora, que restaurava
o campo vibratório onde se encontravam as matrizes geradoras das aflições,
modificando-lhes as estruturas e reabilitando o equilíbrio.
Dessa forma, era facultado ao endividado recuperar-se
moralmente pelo Bem que pudesse fazer, pela utilidade de que se tornava
portador, auxiliando outras pessoas que dele se acercassem.
A humanidade ainda padece essas conjunturas aflitivas que
merece.
Existem muitos seres humanos que andam, porém, são
paralíticos para o Bem, encontrando-se mutilados morais, dessa maneira sem
interesse por movimentarem a máquina orgânica de que se utilizam para a própria
como para a edificação do seu próximo. Caminham, e seus passos os dirigem para
as sombras, a que se atiram com entusiasmo e expectativas de prazer,
imobilizando-se nas paixões dissolventes que terão de vencer...
Há outros que pensam, mas a alucinação faz parte da sua
agenda mental: devaneando no gozo, asfixiando-se nos vapores entorpecentes,
longe de qualquer realização enobrecedora. Intoxicados pela ilusão dos
sentidos, não conseguem liberar-se das fixações perniciosas que os atraem e os
dominam.
(...) E quantos que têm olhos e ouvidos, mas apenas deles
se utilizam para os interesses servis a que se entregam raramente direcionando
a visão para o Alto e a audição para a mensagem de eterna beleza da vida?
Ainda buscam Jesus nos templos de fé, a que recorrem, uma
que outra vez, mantendo a fantasia de merecer privilégios, de desfrutar
regalias, sem qualquer compromisso com a realidade ou expectativa ditosa para o
amanhã, sem a mórbida inclinação para o vício, para a perversão.
Alguns conseguem encontrá-lo, e se fascinam por breves
momentos, logo O abandonando, porque não tiveram a sede de gozo atendida, nem
se fizeram capazes de sacrificar a dependência tormentosa a fim de serem
livres.
Não são poucos aqueles que se encontram escravizados à
infelicidade por simples prazer a que se acostumaram, disputando a alegria de
permanecer no pantanal das viciações morais.
Estão na luz do dia e deambulam nas sombras da noite.
Possuem razão e discernimento, no entanto, os direcionam exclusivamente para os
apetites apimentados do insaciável gozo.
Vivem iludidos e se exibem extravagantes, no palco
terrestre, até quando as enfermidades dilaceradoras — de que ninguém se pode
evadir —, ou a morte os dominam e consomem. Despertam, mais tarde, desiludidos
e sem glórias, sem poder, empobrecidos de valores morais, que nunca os
acumularam.
Jesus é, portanto, o grande restaurador, mas cada
espírito tem o dever de permitir-se o trabalho de autorrenovação em favor da
própria felicidade.
A Sua voz continua ecoando na acústica das almas:
- Vinde a mim, (...), e eu vos aliviarei!
É necessário, porém, ir a Ele...
Oração da Caridade
Amigo!
Em meu manto, constelado de amor, guardo
todas as criaturas.
Tenho estado contigo, desde a hora
primeira.
Embalei-te o berço frágil.
Acalentei-te nos beijos de tua mãe.
Segui-te os passos na escola,
orientei-te as mãos no trabalho.
Venho ao teu encontro, por inspiração
de Jesus, a quem obedeço, em nome do Pai Excelso.
Com Ele estive, em todos os instantes
de apostolado.
Fui eu quem lavou as chagas dos
leprosos tocados pelas Divinas Mãos, em sublime retorno à Luz.
Reuni os pobres e os fracos, os
desesperados e os oprimidos, para que Lhe ouvissem, na Terra, o Sermão da
Montanha.
Conversei com Zaqueu iludido pela
vaidade da posse e abracei a Madalena, que os homens desprezavam...
Fui ainda eu quem Lhe escutou a solicitação, nos tormentos da cruz, pedindo socorro e compreensão para Judas, o apóstolo desditoso!
Procuro-te agora, suplicando asilo e
cooperação.
Alivia comigo as chagas dos que
padecem e dar-te-ei o esquecimento das próprias dores.
Cede-me tua palavra, para que o fel se
extinga no mundo e entrega-me teus braços, para que o bem se espalhe vitorioso...
Ouve-me e perceberás as revelações de
Deus.
Acompanha-me e conhecerás a
felicidade.
Não te detenhas.
Ainda hoje necessito de ti, para que
gemidos emudeçam e lágrimas se estanquem.
Não importa o que tenhas sido. Importa
que te rendas ao Cristo, para que a Terra te abençoe a passagem.
Vem e socorre-me!
Levanta-te e ajuda-me!
Amando e servindo, chegaremos juntos à
Glória Celestial.
Emmanuel / Chico Xavier – Livro: À Luz da Oração
Modo de fazer
" De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus”. Paulo (Filipenses 2:5)
Todos fazem alguma coisa na vida
humana, mas raros não voltam à carne para desfazer quanto fizeram.
Ainda mesmo a criatura ociosa, que
passou o tempo entre a inutilidade e a preguiça, é constrangida a tornar à
luta, a fim de desintegrar a rede de inércia que teceu ao redor de si mesma.
Somente constrói, sem necessidade de
reparação ou corrigenda, aquele que se inspira no padrão de Jesus para criar o
bem.
Fazer algo em Cristo é fazer sempre o
melhor para todos:
Sem expectativa de remuneração.
Sem exigências.
Sem mostrar-se.
Sem exibir superioridade.
Sem tributos de reconhecimento.
Sem perturbações.
Em todos os passos do Divino Mestre,
vemo-lo na ação incessante, em favor do indivíduo e da coletividade, sem
prender-se.
Da carpintaria de Nazaré à cruz de
Jerusalém, passa fazendo o bem, sem outra paga além da alegria de estar executando
a Vontade do Pai.
Exalta o vintém da viúva e louva a
fortuna de Zaqueu, com a mesma serenidade.
Conversa amorosamente com algumas
criancinhas e multiplica o pão para milhares de pessoas, sem alterar-se.
Reergue Lázaro do sepulcro e caminha
para o cárcere, com a atenção centralizada nos Desígnios Celestes.
Não te esqueças de agir para a
felicidade comum, na linha infinita dos teus dias e das tuas horas. Todavia,
para que a ilusão te não imponha o fel do desencanto ou da soledade, ajuda a
todos, indistintamente, conservando, acima de tudo, a glória de ser útil,
"de modo que haja em nós o mesmo sentimento que vive em Jesus Cristo".
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 002
sábado, 22 de maio de 2021
Paciência não se perde
"Pela
paciência possuireis as vossas almas."
É muito comum ouvirmos esta exclamação: perdi a
paciência! Como sabem, porém, que perderam a paciência? Porque quando
precisaram daquela virtude para se manterem calmos e serenos não a encontraram consigo,
e, por isso, exasperaram-se, praticaram desatinos, proferiram impropérios e
blasfêmias?
Só pelo fato de não encontrarem em seu patrimônio moral
aquela virtude, alegam logo que a perderam. Como poderiam, porém, perder o que
não possuíam?
Será melhor que os homens se convençam de que eles não
têm paciência, que ainda não alcançaram essa preciosa qualidade que, no dizer do
Mestre insigne, é a que nos assegura a posse de nós mesmos: Pela paciência possuireis
as vossas almas. E não pode haver maior conquista que a conquista própria. Já
alguém disse, com justeza, que o homem que se conquistou a si mesmo vale mais
que aquele que conquistou um reino.
Os reinos são usurpados mediante o esforço e o sangue
alheio, enquanto que a posse de si mesmo só pode advir do esforço pessoal, da
porfia enérgica e perseverante da individualidade própria, agindo sobre si mesma.
Todos esses, pois, que vivem constantemente alegando que
perderam a paciência, confessam involuntariamente que jamais a tiveram.
Paciência não se perde como qualquer objeto de uso ou como uma soma de dinheiro.
Os que ainda não lograram alcançá-la, revelam essa falha precisamente no
momento em que se exasperam, em que perdem a compostura e cometem despautérios.
Quando, depois, o ânimo serena, o homem diz: perdi a paciência. Não perdeu
coisa alguma; não tenho paciência é o que lhe compete reconhecer e confessar.
Às virtudes, esta ou aquela, fazem parte de uma certa
riqueza cujo valor imperecível Jesus encarece sobremaneira em seu Evangelho,
sob estas sugestivas palavras: Granjeai aquela riqueza que o ladrão não rouba,
a traça não rói, o tempo não consome e a morte não arrebata.
Tais bens são, por sua natureza, inacessíveis às
contingências da temporalidade, e não podem, portanto, desaparecer em hipótese
alguma. Constituem propriedade inalienável e legitimamente adquirida pelo
Espírito, que jamais a perderá.
Não é fácil adquirirmos certas virtudes, entre as quais
se acha a paciência. A aquisição da paciência depende da aquisição de outras virtudes
que lhe são correlatas, que se acham entrelaçadas com ela numa trama perfeita.
A paciência — podemos dizer — é filha da humildade e irmã da fortaleza, do
valor moral. O orgulho é o seu grande inimigo. A fraqueza de Espírito é outro
obstáculo à conquista daquele precioso tesouro. Todos os movimentos
intempestivos, todo ato violento, toda atitude colérica são oriundos da
suscetibilidade do nosso amor próprio exagerado.
A seu turno, os desesperos, as aflições incontidas, os
estados de alucinação, os impropérios e blasfêmias são consequências de
fraqueza de ânimo ou debilidade moral. A calma e a serenidade de ânimo, em
todas as emergências e conjunturas difíceis da vida, só podem ser conservadas mediante
a fortaleza e a humildade de Espírito. É essa condição inalterável de ânimo que
se denomina paciência. Ela é incontestavelmente atestado eloquente de alto
padrão moral.
Naturalmente, em épocas de calmaria, quando tudo corre ao
sabor dos nossos desejos, parece que possuímos aquele preciosíssimo bem. Os homens,
quando dormem, são todos bons e inocentes. É exatamente nas horas aflitivas,
nos dias de amargura, quando suportamos o batismo de fogo, que verificamos,
então, a inexistência da sublime virtude conosco.
No mundo, observou o Mestre, tereis tribulações, mas
tende bom ânimo: eu venci o mundo. Como ele venceu, cumpre a nós outros, como discípulos,
imitá-lo, vencendo também. Cristo é o sublime modelo, é o grande paradigma. Não
basta conhecer seus ensinamentos, é preciso praticá-los.
Daí a necessidade de fortificarmos nosso Espírito, retemperando-o
nos embates cotidianos como o ferreiro que, na forja, tempera o aço até que o
torna maleável e resistente.
A existência humana é urdida de vicissitudes e de
imprevistos. Tais são as condições que havemos de suportar como consequências
do nosso passado. A cada dia a sua aflição — reza o Evangelho em sua empolgante
sabedoria. Portanto, cumpre nos tornemos fortes para vencermos.
Fomos dotados dos predicados para isso. Tudo que eu faço,
asseverou o Mestre, vós também podeis fazer. Se nos é dado realizar os feitos
maravilhosos do Cristo de Deus, porque permanecemos neste estado de
miserabilidade moral? Simplesmente porque temos descurado a obra de nossa
educação.
A educação do Espírito é o problema universal.
A obra da salvação é obra de educação, nunca será demais
afirmar esta tese.
A religião que o momento atual da Humanidade reclama é
aquela que apela para a educação sob todos os aspectos: educação física,
educação intelectual, educação cívica, educação mental, educação moral.
A fé que há de salvar o mundo é aquela que resulta desta
sentença: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito.
Pedro Camargo / Livro: Em torno do Mestre
Prece de Clementino
“Divino Mestre, lança compassivo olhar
sobre a nossa família aqui reunida...
“Viajores de muitas romagens,
repousamos neste instante sob a árvore bendita da prece e te imploramos amparo!
“Todos somos endividados para contigo,
todos nos achamos empenhados à tua bondade infinita, à maneira de servos
insolventes para com o senhor.
“Mas, rogando-te por nós todos,
pedimos particularmente agora pelo companheiro que, decerto, encaminhas ao
nosso coração, qual se fora uma ovelha que torna ao aprisco ou um irmão consanguíneo
que volta ao Lar...
“Mestre, dá-nos a alegria de recebê-lo
de braços abertos.
“Sela-nos os lábios para que lhe não
perguntemos de onde vem e descerra-nos a alma para a ventura de tê-lo conosco
em paz.
“Inspira-nos a palavra a fim de que a
imprudência não se imiscua em nossa língua, aprofundando as chagas interiores
do irmão, e ajuda-nos a sustentar o respeito que lhe devemos...
“Senhor, estamos certos de que o acaso
não te preside às determinações!
“Teu amor, que nos reserva
invariavelmente o melhor, cada dia, aproxima-nos uns dos outros para o trabalho
justo.
“Nossas almas são fios da vida em tuas
mãos!
“Ajusta-os para que obtenhamos do Alto
o favor de servir contigo!
“Nosso Libório é mais um irmão que
chega de longe, de recuados horizontes do passado...
“Ó Senhor, auxilia-nos para que ele
não nos encontre proferindo o teu nome em vão!...”
André Luiz / Chico Xavier – Livro: Nos domínios da mediunidade
Ante a lição
"Considera o que te digo, porque o Senhor te dará
entendimento em tudo." Paulo (II Timóteo, 2:7)
Ante a exposição da verdade, não te
esquives à meditação sobre as luzes que recebes.
Quem fita o céu, de relance, sem
contemplá-lo, não enxerga as estrelas; e quem ouve uma sinfonia, sem abrir-lhe a
acústica da alma, não lhe percebe as notas divinas.
Debalde escutarás a palavra inspirada
de pregadores ardentes, se não descerrares o coração para que o teu sentimento
mergulhe na claridade bendita daquela.
Inúmeros seguidores do Evangelho se
queixam da incapacidade de retenção dos ensinos da Boa Nova, afirmando-se ineptos
à frente das novas revelações, e isto porque não dispensam maior trato à lição
ouvida, demorando-se longo tempo na província da distração e da leviandade.
Quando a câmara permanece sombria,
somos nós quem desata o ferrolho à janela para que o sol nos visite.
Dediquemos algum esforço à graça da
lição e a lição nos responderá com as suas graças.
O apóstolo dos gentios é claro na
observação. "Considera o que te digo, porque, então, o Senhor te dará
entendimento em tudo."
Considerar significa examinar,
atender, refletir e apreciar.
Estejamos, pois, convencidos de que,
prestando atenção aos apontamentos do Código da Vida Eterna, o Senhor, em
retribuição à nossa boa vontade, dar-nos-á entendimento em tudo.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 001