quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Allan Kardec: O homem e o missionário

 


Quanto mais perscrutamos a vida de Allan Kardec, mais e melhor compreendemos a grandeza desse preclaro Espírito elegido por Deus para construir a Nova Era da Humanidade.

Membro atuante da equipe de O Consolador, reencarnou trazendo insculpido na mente e no coração o compromisso grandioso de que soube desincumbir-se com elegância e inusitado êxito.

Desde muito jovem, atraído pelo conhecimento intelectual, encontrou no insigne mestre Pestalozzi o amoroso e sábio modelador do seu caráter de escol e burilador da sua fulgurante inteligência, que o preparou para o grave cometimento de que se fez notável missionário.

Antes de iniciar o ministério para o qual viera, mourejou na atividade grandiosa da educação, compreendendo que somente se pode forjar uma sociedade feliz quando ela se torna educada.

A sua Escola de Primeiro Grau, fundada em Paris, no ano de 1825 e a Instituição Rivail, também em Paris, criada em 1826, foram o abençoado terreno onde aplicou o notável método do seu ilustre mestre, facultando à cultura francesa ampliar os seus horizontes pedagógicos, considerando a criança e o jovem como a meta prioritária a atender.

A sua contribuição, nesse campo, dele fez credor do melhor respeito dos seus cômpares na área da educação, inclusive favorecendo-o com uma distinção, entre muitas outras, que lhe foi outorgada pela Academia de Arras, ao tempo em que assinalou a cultura com a modernização da metodologia do ensino, aplicando-a à obra de construção da sociedade esclarecida.

Honrado e sensível ao reto cumprimento dos deveres, consorciou-se com a nobre desenhista e poetisa Amélie-Gabrielle Boudet, que lhe foi devotada esposa e cooperadora infatigável no seu abençoado sacerdócio, antes, durante e depois da sua entrega total à obra de renovação da Humanidade sob as luzes libertadoras do Evangelho de Jesus.

Espírito incorruptível, não apresentava jaça no seu caráter diamantino, o que o tornou vítima de familiar desonesto que, por pouco, não o levou a dolorosa falência, exigindo-lhe esforços hercúleos para manter o nome ilibado durante e depois da refrega afugente.

Indubitavelmente era-lhe necessária essa rude prova, a fim de que as paixões e ambições mundanas que por acaso nele remanescessem, cedessem lugar, no momento próprio, às aspirações e conquistas da Espiritualidade plenificadora.

Nunca se permitiu repouso desnecessário durante as ásperas lutas que travou na defesa da sua honra, do seu lar e do ideal que abraçava.

Quando chamado a tomar conhecimento do lucilar das estrelas espirituais que desciam à Terra, preparando a Era do Espírito Imortal, em momento algum abdicou do bom senso ou da razão, investigando com seriedade e firmeza cada fato, toda e qualquer ocorrência.

Manteve sempre o comportamento de estudioso muito sério, mas não crédulo, a respeito das informações recebidas do Mundo espiritual, passando as observações pelo crivo da Ciência e da lógica, de maneira que, ao codificar a Doutrina dos Espíritos, conseguiu apresentar uma das maiores sínteses do conhecimento de que se tem notícia em todos os tempos.

Portador de conduta impecável, comedido e sóbrio, soube selecionar as informações recebidas e os médiuns de que se faziam portadores, de maneira que, ao serem apresentadas ao mundo científico e filosófico com a sua moral religiosa de bronze, destituída de dogmatismo e de superstições, tem podido enfrentar a razão face a face desde então, o mesmo acontecendo em relação às futuras épocas da Humanidade.

Em pleno Século das Luzes, enfrentou diatribes e perseguições gratuitas em face da audácia de pensar e de agir fora dos padrões estabelecidos pela hipocrisia social, desenhando com vigor o programa que deveria viger no futuro, quando a sociedade esclarecida e liberta de tabus, superstições e dogmas, contemplasse o Espiritismo como a resposta sábia dos Céus às contínuas e dolorosas interrogações da Terra.

Mantendo incessante contato com os Espíritos nobres que conduzem a Terra ao seu fanal de progresso e felicidade, soube apresentar-lhes as questões mais palpitantes do pensamento, abrangendo os mais diversos segmentos da cultura, de forma que todos os indivíduos pudessem mergulhar o pensamento e o coração nas lições recebidas, encontrando orientação e segurança para a marcha ditosa no processo da reencarnação.

Jamais jactou-se em face do compromisso abraçado ou desviou-se do roteiro traçado, entregando-se ao trabalho gigantesco com total regime de abnegação, de forma que, no momento da sua desencarnação a Obra estivesse, se não concluída, pelo menos estruturada para enfrentar os vendavais da Ciência e da Tecnologia do futuro.

Simples e cordial, jamais se fez vulgar ou simplório, mantendo os seus amigos e correligionários no mais alto grau da amizade e da consideração, sabendo distender mãos generosas, fraternas e caridosas aos sofredores que lhe solicitassem ou não ajuda.

Com a sensibilidade aguçada, sempre descobria a dor oculta para socorrê-la, minimizando os sofrimentos de todos quantos se lhe acercavam com as moedas que adquirem o medicamento, o pão e o agasalho, mas também com o conhecimento espírita que ilumina para sempre.

Portador de resistência física, moral e intelectual férrea, trabalhava infatigavelmente, atendendo a correspondência volumosa procedente de diversos países, a elaboração, correção e edição da Revue Spirite, ao tempo em que dava continuidade à preparação e publicação das obras que sucederam ao O Livro dos Espíritos, corrigindo-as, ampliando-as e comentando-as com lucidez invulgar.

Quando o corpo tombou, vitimado pela desencarnação, deixou a incomparável tarefa de que se fizera apóstolo, de tal forma consolidada, que cento e quarenta e sete anos depois, nada se lhe pode acrescentar, corrigir ou adaptar ante as descobertas dos tempos e da cultura modernos.

Sem nenhum interesse encomiástico, afirmamos que Allan Kardec insere-se no contexto dos homens e mulheres mais sábios do século XIX, devendo ser considerado membro da galeria dos notáveis de toda a história da Humanidade.

Ao serem programadas as festividades comemorativas do nascimento do ínclito discípulo de Jesus, que veio à Terra no dia 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, na França, os espíritas sinceros e os simpatizantes do Espiritismo mais não fazem que render tributo ao Espírito missionário que foi Allan Kardec, o Embaixador de Jesus e das hostes espirituais, encarregado de materializar no mundo físico O Consolador que fora prometido.

Igualmente, nós, os Espíritos-espíritas, associamo-nos aos companheiros de lide doutrinária recordando o lutador invencível do Evangelho, que soube reviver os tempos apostólicos nos padrões do conhecimento e da cultura dos seus dias, legando-nos a magnificente doutrina que é o Espiritismo, na sua totalidade de Ciência que investiga, de Filosofia que responde com sabedoria as interrogações e de Religião que ilumina, conduzindo o Espírito consciente das suas responsabilidades a Deus.

Glória, pois, a ti, Allan Kardec! Os beneficiários do teu esforço grandioso, encarnados e desencarnados, saudamos-te e homenageamos-te, rogando ao Criador que te abençoe sempre e sem cessar!

Vianna de Carvalho / Divaldo Franco – Livro: Espiritismo e Vida

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