Vive a tolerância na base de todo o progresso efetivo.
As peças de qualquer máquina suportam-se umas às outras para que
surja essa ou aquela produção de benefícios determinados.
Todas as bênçãos da Natureza constituem larga sequencia de
manifestações da abençoada virtude que inspira a verdadeira fraternidade.
Tolerância, porém, não é conceito de Superfície.
É reflexo vivo da compreensão que nasce, límpida, na fonte da alma,
plasmando a esperança, a paciência e o perdão com esquecimento de todo o mal.
Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o
mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa obrigação adaptar-nos,
com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposição de ajudá-lo.
A Providência Divina reflete, em toda parte, a tolerância sábia e
ativa.
Deus não reclama da semente a produção imediata da espécie a que
corresponde. Dá-lhe tempo para germinar, crescer, florir e frutificar. Não
solicita do regato improvisada integração com o mar que o espera. Dá-lhe
caminhos no solo, ofertando-lhe o tempo necessário à superação da marcha.
Assim também, de alma para alma, é imperioso não tenhamos qualquer
atitude de violência.
A brutalidade do homem impulsivo e a irritação do enfermo
deseducado, tanto quanto a garra no animal e o espinho na roseira, representam
indícios naturais da condição evolutiva em que se encontram.
Opor ódio ao ódio é operar a destruição.
O autor de qualquer injúria invoca o mal para si mesmo. Em vista
disso, o mal só é realmente mal para quem o pratica. Revidá-lo na base de
inconsequência em que se expressa é assimilar-lhe o veneno.
É imprescindível tratar a ignorância com o carinho medicamentoso
que dispensamos ao tratamento de uma chaga, porquanto golpear a ferida, sem
caridade, será o mesmo que converter a moléstia curável num aleijão sem
remédio.
A tolerância, por esse motivo, é, acima de tudo, completo
esquecimento de todo o mal, com serviço incessante no bem.
Quem com os lábios repete palavras de perdão, de maneira constante,
demonstra acalentar a volúpia da mágoa com que se acomoda perdendo tempo.
Perdoar é olvidar a sombra, buscando a luz.
Não é dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade mendaz,
teatralizando os impulsos do coração, mas sim persistir no trabalho renovador,
criando o bem e a harmonia, pelos quais aqueles que não nos entendam, de
pronto, nos observem com diversa interpretação, compreendendo-nos o idioma
inarticulado do exemplo.
Oferece-nos o Cristo o modelo da tolerância ideal, em regressando
do túmulo ao encontro dos aprendizes desapontados. Longe de reportar-se à
deserção de Pedro ou à fraqueza de Judas, para dizer com a boca que os
desculpava, refere-se ao serviço da redenção, induzindo-os a recomeçar o
apostolado do bem eterno.
Tolerar é refletir o entendimento fraterno, e o perdão será sempre
profilaxia segura, garantindo, onde estiver, saúde e paz, renovação e
segurança.
Pelo Espírito Emmanuel, Do Livro:
Pensamento e Vida, Médium: Francisco Cândido Xavier.