Você já conhecia a
prece da serenidade? É uma das orações mais difundidas pelo mundo, cuja
autoria é atribuída ao teólogo americano Reinold Niebuhr, produzindo muitos
benefícios àqueles que assimilaram o seu elevado significado moral e
psicológico. É claro que essa prece não tem nenhuma conotação mágica; nada de
palavras cabalísticas portadoras de uma suposta força mística. A forma não é
nada, o pensamento é tudo. No entanto, pode-se assimilar o elevado propósito
moral de uma oração e, neste particular, a prece da serenidade nos convida a
preciosas reflexões. Vamos a elas. Em primeiro lugar, o autor da rogativa
propõe o seguinte:
“Deus, conceda-me
coragem para mudar o que eu posso mudar...”
Inicialmente, a prece
nos convida a pedir coragem. Para quê? Para que possamos mudar aquilo que nos
cabe mudar. Muitas vezes, a solução para as nossas dificuldades está em
nossas mãos, não nas mãos de Deus, nem nas do padre, do pastor, do médium,
dos espíritos, etc. Deus nunca fará a parte que nos cabe. Um professor não
fará a prova no lugar do aluno; nem o médico tomará o remédio no lugar do
paciente.
Nas situações em que já
sabemos o que fazer, Deus não põe a mão.
Eu conheço uma pessoa
que reza, há pelos menos trinta anos, pedindo a Deus que lhe tire o vício do
tabaco. E por que Deus não tira?
Porque essa tarefa compete à pessoa.
Deus não vai tirar o
cigarro da boca do fumante; tampouco o copo de bebida da boca do alcoólatra.
São tarefas intransferíveis. Ninguém poderá alegar ignorância quanto aos
prejudiciais efeitos do tabaco e do álcool. Então, como já sabemos o que
fazer, Deus deixa que nós tomemos a atitude, respeitando o nosso livre
arbítrio.
Isso não quer dizer que
Deus abandonou os viciados, nem tampouco que nos abandona nos momentos de
dificuldades. O Pai, por intermédio dos Espíritos do Bem, sempre estará
oferecendo a ajuda necessária através, por exemplo, de sugestões de amigos
encarnados e desencarnados a respeito das mudanças que devemos fazer. É um
amigo que dá um conselho, a mulher que insistentemente lhe pede para parar de
fumar, um livro que lhe chega às mãos, um sonho de advertência; enfim,
inúmeras dicas que a Vida está lhe dando para que você realize as mudanças
necessárias. E quando tomamos a atitude de renovação, somos apoiados pela
Vida, a fim de que as mudanças sejam duradouras.
Quando você toma a
atitude para o bem, o universo todo conspira a seu favor.
Já pensou nas mudanças
que está precisando realizar? Examine com calma. Verifique quais as decisões
que você talvez esteja adiando, esperando que Deus ou alguém faça a parte que
é de sua responsabilidade. É preciso tomar atitudes necessárias para que as
mudanças ocorram, seja no plano profissional, familiar ou pessoal. Adiar
essas decisões acarretará ainda mais ansiedade e sofrimento.
A segunda parte da
prece diz o seguinte:
“Conceda-me serenidade
para aceitar o que eu não posso mudar...”
Quanta sabedoria há
neste pensamento. De fato, se por um lado muitas soluções estão em nossas mãos,
outras tantas independem da nossa vontade ou de nossa atuação concreta. Em
algumas situações, só Deus poderá alterar o curso dos acontecimentos.
Lembro-me de um caso narrado pelo Dr. Norman Vicente Peale, uma das maiores
autoridades religiosas dos Estados Unidos. Ele conta que certa noite foi
procurado por um casal de médicos, cuja filha estava gravemente enferma,
vítima de crupe, uma doença que atinge a laringe e pode causar asfixia e
morte. A medicina já havia retirado as esperanças de cura. Esperava-se a
morte da criança, e seus pais, ateus, procuraram o Dr. Norman, como último
recurso. Dirigindo-se à residência do casal, o famoso pregador encontra a
menina ardendo de febre, prostrada. Mas, confiante nos desígnios superiores,
o Dr. Norman pronuncia sentida oração. Ele narra que entrou num clima de
profundo êxtase espiritual e não sabe dizer por quanto tempo ficou mergulhado
na prece. Só se deu conta que, ao despertar, o dia amanhecia e que a menina
já estava sem febre, dando sinais evidentes de recuperação. Os pais estavam
maravilhados, pois como médicos viram a filha sair das sombras da morte e
recuperar a vida, ficando completamente curada em poucos dias. Ficou a
sublime lição:
Quando nada podemos
fazer, Deus pode.
E Deus sempre fará o
melhor por nós. Ele sempre atua quando não sabemos o que fazer ou quando já
fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Victor Hugo teve o ensejo de
escrever:
“Quando tiver feito
tudo o que for possível, deite-se e vá dormir. Deus está acordado.”
E você, prezado amigo,
tem entregue a Deus os seus insolúveis problemas? Tem confiado na Divina
Providência, naquele Poder Infinito que tudo pode? Neste instante, proponho a
você que abra seu coração, solte o nó da gravata, ponha-se diante de Deus e
sinta que Ele o ama. Proponho que você escreva numa folha de papel os
insolúveis problemas que o atormentam, colocando-os nas mãos do Criador para
a solução mais adequada. Depois, pare de se preocupar com essas questões,
pois Deus está cuidando do assunto.
Isso proporcionará
muita paz ao seu coração.
Será que o amigo
percebeu por que essa oração foi denominada de prece da serenidade? A razão é
simples. Nós só conquistaremos a paz quando estivermos fazendo aquilo que nos
compete fazer. Enquanto adiarmos, não teremos paz, pois o problema continua
conosco. E se nada nos é possível fazer, a nossa parte vem da atitude de
entrega ao Criador, que tudo sabe e tudo pode. Em regra, ficamos nervosos
preocupados e ansiosos porque fazemos exatamente o contrário.
Naquilo que podemos
fazer, esperamos que Deus ou as pessoas façam por nós. E naquilo que só Deus
pode fazer, queremos agir por nossa própria conta, caindo em verdadeiro
desespero em vista da inutilidade de nossas condutas.
É por isso que a prece
termina com um pedido significativo:
Senhor, dai-me
sabedoria para distinguir uma situação da outra.
“Saber a nossa parte e
fazer. Saber a parte de Deus e esperar. Eis a expressão da serenidade.”
Vamos tentar?
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