Se considerarmos a
Humanidade em seu estado primitivo e em seu estado atual, quando sua primeira
aparição na Terra marcava seu ponto de partida, e agora, que percorreu uma parte
do caminho que leva à perfeição, parece que todo bem, todo progresso, toda
filosofia, enfim, não possa nascer senão do que lhe é contrário.
Com efeito, toda formação
é o produto de uma reação, assim como todo efeito é gerado por uma causa.
Todos os fenômenos morais, todas as formações inteligentes são devidos a uma
perturbação momentânea da própria inteligência. Apenas, na inteligência,
devemos considerar dois princípios: um imutável, essencialmente bom, eterno
como tudo o que é infinito; outro temporário, momentâneo, que não passa de
agente empregado para produzir a reação de onde sai cada vez a progressão dos
homens.
O progresso abrange o
Universo durante a eternidade e jamais se espalha tanto como quando se
concentra num ponto qualquer. Não podeis abarcar, num só golpe de vista, a
imensidade que vive, isto é, que progride; mas olhai em redor de vós: o que vedes?
Em certas épocas, e
podemos dizer em momentos previstos, designados, surge um homem que abre um
caminho novo, que escarpa os rochedos áridos de que se acha semeado o mundo
conhecido da inteligência. Muitas vezes esse homem é o último entre os
humildes, entre os pequenos e, contudo, penetra as altas esferas do
desconhecido. Arma-se de coragem, pois esta lhe é necessária para lutar
corpo a corpo contra os preconceitos, contra os usos que lhe foram
transmitidos; é-lhe necessária para vencer os obstáculos que a má-fé semeia
sob seus passos, porque enquanto restarem preconceitos a derrubar, restarão
abusos e interessados nos abusos; é-lhe necessária porque deve lutar, ao
mesmo tempo, contra as necessidades materiais de sua personalidade e, neste
caso, sua vitória é a melhor prova de sua missão e de sua predestinação.
Chegado a este ponto,
em que a luz escapa bastante forte do círculo do qual é o centro, todos os
olhares se voltam para ele; ele assimila todo o princípio inteligente e bom;
reforma e regenera o princípio contrário, a despeito dos prejuízos, apesar da
má-fé e malgrado as necessidades; chega ao seu objetivo, faz a Humanidade
transpor um grau e conhecer o que não era conhecido.
Este fato já se repetiu
muitas vezes e ainda se repetirá muitas outras, antes que a Terra tenha
atingido o grau de perfeição que convém à sua natureza. Mas, tantas vezes
quantas forem necessárias, Deus fornecerá a semente e o trabalhador. Esse trabalhador
é cada homem em particular, como cada um dos gênios que a ilustram por uma
ciência muitas vezes sobre-humana. Em todos os tempos houve esses centros de
luz, esses pontos de ligação; o dever de todos é aproximar-se, ajudar e
proteger os apóstolos da verdade. É o que o Espiritismo vem dizer ainda.
Apressai-vos, pois, vós
todos que sois irmãos pela caridade. Apressai-vos e a felicidade prometida à
perfeição vos será concedida muito mais cedo.
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Um Espírito Protetor
– Revista Espírita – janeiro/1863
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