Não nos
permitas interromper a caminhada ante as serpes do caminho.
Que acima da
estrada em sombra possamos vencer as pedras e eliminar os espinhos.
Em nome do teu
amor, não nos concedas, Senhor, o luxo do repouso desnecessário, e sim,
deixa-nos subir com a nossa cruz ao Calvário, pelo trabalho incessante, nas
lutas de cada instante.
Queremos
seguir contigo em teu longo itinerário, para alcançarmos um dia, sob a perfeita
alegria, o teu reinado de amor.
Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Uma vida de amor e
caridade
“Ele respondeu
e disse-lhes: Dai-lhes vós de comer…” — (Marcos, 6:37)
Diante da
multidão fatigada e faminta, Jesus recomenda aos apóstolos: — “Dai-lhes vós de
comer.”
A observação
do Mestre é importante, quando realmente poderia ele induzi-los a recriminar a
multidão pela imprudência de uma jornada exaustiva até o monte, sem a garantia
do farnel.
O Mestre
desejou, porém, gravar no espírito dos aprendizes a consagração deles ao
serviço popular. Ensinou que aos cooperadores do Evangelho, perante a turba
necessitada, compete tão somente um dever, — o da prestação de auxílio
desinteressado e fraternal.
Naquela hora
do ensinamento inesquecível, a fome era naturalmente do corpo, vencido de
cansaço, mas, ainda e sempre, vemos a multidão carecente de amparo, dominada
pela fome de luz e de harmonia, vergastada pelos invisíveis azorragues da
discórdia e da incompreensão.
Os
colaboradores de Jesus são chamados, não a obscurecê-la com o pessimismo, não a
perturbá-la com a indisciplina ou a imobilizá-la com o desânimo, mas sim a
nutri-la de esclarecimento e paz, fortaleza moral e sublime esperança.
Se te
encontras diante do povo, com o anseio de ajudá-lo, se te propões contribuir na
regeneração do campo social, não te percas em pregações de rebelião e
desespero. Conserva a serenidade e alimenta o próximo com o teu bom exemplo e
com a tua boa palavra.
Não olvides a
recomendação do Senhor: — “Dai-lhes vós de comer.”
Manoel Philomeno de Baptista de Miranda nasceu no dia
14 de novembro de 1876, em Jangada, Município do Conde, no Estado da Bahia.
Foram seus pais Manoel Baptista de Miranda e Umbelina Maria da Conceição.
Mais conhecido como Philomeno de Miranda, diplomou-se
pela Escola Municipal da Bahia (hoje Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal da Bahia), colando grau na turma de 1910, como ‘Bacharel
em Comércio e Fazenda’.Exerceu sua
profissão com muita probidade, sendo um exemplo de operosidade no campo
profissional. Ajudava sempre aqueles que o procuravam, pudessem ou não
retribuir os seus serviços. Foi tão grande em sua conduta, como na modéstia.
Em 1914, foi debilitado por uma enfermidade pertinaz,
e tendo recorrido a diversos médicos, sem qualquer resultado positivo, foi
curado pelo médium Saturnino Favila, na cidade de Alagoinhas, com passes e água
fluidificada, complementando a cura com alguns remédios da Flora Medicinal.
Nessa época, indo a Salvador, conheceu José Petitinga,
que o convidou a frequentar a União Espírita Baiana. A partir daí, Philomeno de
Miranda interessou-se pelo estudo e prática do Espiritismo, tornando-se um dos
mais firmes adeptos de seus ensinamentos. Fiel discípulo de Petitinga, foi
autêntico diplomata no trato com o Movimento Espírita da Bahia, com capacidade
para resolver todos os assuntos pertinentes às Casas Espíritas. A serviço da
causa, visitava periodicamente as Sociedades Espíritas, da Capital e do
Interior, procurando soluções para qualquer dificuldade.
Delicado, educado, porém decidido na luta, não dava
trégua aos ataques descabidos, arremetidos por religiosos e cientistas que
tentavam destruir o trabalho dos espíritas. Na União Espírita Baiana (hoje
Federação Espírita do Estado da Bahia), exerceu os cargos de 2º Secretário, de
1921 a 1922, e de 1º Secretário, de 1922 a 1939, juntamente com José Petitinga
e uma plêiade de grandes trabalhadores.
Dedicou-se com muito carinho às reuniões mediúnicas,
especialmente, às de desobsessão.Achava
imprescindível que as instituições espíritas se preparassem convenientemente
para o intercâmbio espiritual, sendo de bom alvitre que os trabalhadores das
atividades desobsessivas se resguardassem ao máximo, na oração, na vigilância e
no trabalho superior. Salientava a importância do trabalho da caridade, para se
precaverem de sofrer ataques das entidades que se sentem frustradas nos planos
nefastos de perseguições. É o caso de muitas Casas Espíritas que, a título de
falta de preparo, se omitem dos trabalhos mediúnicos.
Mesmo modesto, não pôde impedir que suas atividades
sobressaíssem nas diversas frentes de trabalho que empreendeu em favor da
Doutrina. Na literatura escreveu Resenha do Espiritismo na Bahia e Excertos que
justificam o Espiritismo, que publicou omitindo o próprio nome. Em resposta ao
Padre Huberto Rohden, publicou um opúsculo intitulado Por que sou Espírita.
Philomeno de Miranda foi eleito Presidente da União
Espírita Baiana, em substituição a José Petitinga, quando este desencarnou, em
25 de março de 1939, em Salvador. Por mais de vinte e quatro anos consecutivos,
Miranda vinha trabalhando na Federativa, em especial, na administração, no
socorro espiritual como grande doutrinador, e nos serviços da caridade, zelando
sempre pelo bom nome da Doutrina, com todo o desvelo de que era possuído.
Sofrendo do coração, subia as escadas a fim de não faltar às sessões, sempre
animado e sorrindo. Queria extinguir-se no seu cumprimento.
Seu desencarne ocorreu no dia 14 de julho de 1942. Na
antevéspera, o devotado trabalhador da Seara do Cristo, impossibilitado de
comparecer fisicamente à lide na Federativa Espírita Baiana, assim o disse,
segundo relata A. M. Cardoso e Silva: “Agora sim! Não vou porque não posso
mais. Estou satisfeito porque cumpri o meu dever. Fiz o que pude... o que me
foi possível. Tome conta dos trabalhos, conforme já determinei.”
Querido de quantos o conheceram, até o último instante
demonstrou a firmeza da tranquilidade dos justos, proclamando e testemunhando a
grandeza imortal da Doutrina Espírita.
Ensina-nos a
respeitar a força do direito alheio na estrada do nosso dever.
Ante as
vicissitudes do caminho, recorda-nos de que no supremo sacrifício da Cruz,
entre o escárnio da multidão e o desprezo da Lei, erigiste um monumento à
justiça, na grandeza do amor.
Ajuda-nos,
assim, a esquecer todo o mal, cultivando a árvore generosa do perdão.
Estimula-nos à claridade do bem sem limites, para que o nosso entusiasmo na fé
não seja igual a ligeiro meteoro riscando o céu de nossas esperanças, para
apagar-se depois…
Concede-nos a
felicidade ímpar de caminhar na trilha do auxílio porque, só aí, através do
socorro aos nossos irmãos, aprendemos a cultivar a própria felicidade. Tu que
nos ensinaste sem palavras no testemunho glorioso da crucificação, ajuda-nos a
desculpar incessantemente, trabalhando dentro de nós mesmos pela transformação
do nosso espírito, na sucessão do tempo, dia-a-dia, noite-a-noite, a fim de
que, lapidado, possamos apresentá-lo a Ti no termo da nossa jornada.
Ensina-nos a
enxergar a Tua ressurreição sublime, mas permite também que recordemos o
suplício da Tua solidão, a coroa de espinhos, a cruz infamante, o silêncio
tumular que a precederam, como lições incomparáveis para nós na hora do
sofrimento, quando nos chegue.
Favorece-nos
com a segurança da ascensão aos altos cimos, porém, não nos deixes olvidar que
após a jornada silenciosa durante quarenta dias e quarenta noites, entre jejum
e meditação, experimentaste a perturbação do mundo e dos homens em tentações
implacáveis que, naturalmente, atravessaram também nossos caminhos.
Dá-nos a
certeza do Reino dos Céus, todavia não nos deixes esquecer que na Terra, por
enquanto, não há lugar para os que te servem tanto quanto não houve para ti
mesmo, auxiliando-nos, entretanto, a viver no mundo até a conclusão da nossa
tarefa redentora.
Ajuda-nos,
Divino Companheiro, a pisar os espinhos sem reclamação, vencendo as
dificuldades sem queixas, porque é vivendo nobremente que fazemos jus a uma
desencarnação honrada como pórtico de uma ressurreição gloriosa.
Senhor Jesus,
ensina-nos a perdoar, ajudando-nos a esquecer todo o mal, para sermos dignos de
Ti!”
“Cada um
administre aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da
multiforme graça de Deus.” — Pedro. (1 Pedro, 4:10)
A vida é
máquina divina da qual todos os seres são peças importantes, e a cooperação é o
fator essencial na produção da harmonia e do bem para todos.
Nada existe
sem significação.
Ninguém é
inútil.
Cada criatura
recebeu determinado talento da Providência Divina para servir no mundo e para
receber do mundo o salário da elevação.
Velho ou moço,
com saúde do corpo ou sem ela, recorda que é necessário movimentar o dom que
recebeste do Senhor, para avançares na direção da Grande Luz.
Ninguém é tão
pobre que nada possa dar de si mesmo.
O próprio
paralítico, atado ao catre da enfermidade, pode fornecer aos outros a paciência
e a calma, em forma de paz e resignação.
Não olvides,
pois, o trabalho que o Céu te conferiu e foge à preocupação de interferir na
tarefa do próximo, a pretexto de ajudar.
Quem cumpre o
dever que lhe é próprio, age naturalmente a benefício do equilíbrio geral.
Muitas vezes,
acreditando fazer mais corretamente que os outros o serviço que lhes compete,
não somos senão agentes de desarmonia e perturbação.
Onde
estivermos, atendamos com diligência e nobreza à missão que a vida nos oferece.
Lembra-te de
que as horas são as mesmas para todos e de que o tempo é o nosso silencioso e
inflexível julgador.
Ontem, hoje e
amanhã são três fases do caminho único.
Todo dia é
ocasião de semear e colher.
Observemos,
assim, a tarefa que nos cabe e recordemos a palavra do Evangelho: — “Cada um
administre aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da
multiforme graça de Deus”, para que a graça de Deus nos enriqueça de novas
graças.