Oferecido pelos espíritas lioneses ao Sr. Allan Kardec
19 de setembro de 1860
Nesta reunião íntima e familiar, um
dos membros, Sr. Guillaume, houve por bem expor os sentimentos dos espíritas
lioneses na alocução que segue. Lendo-a, compreenderão que devemos ter hesitado
em publicá-la na Revista, malgrado o desejo que nos foi expresso. Assim, não
foi senão cedendo a instâncias que concordamos, temendo, por outro lado, que a
recusa pudesse ser interpretada como falta de reconhecimento aos testemunhos de
simpatia que recebemos. Rogamos, pois, aos leitores, que façam abstração da
pessoa, vendo, nessas palavras, apenas uma homenagem prestada à doutrina.
“Ao Sr. Allan Kardec; ao zeloso propagador da Doutrina Espírita!
“É graças à sua coragem, às suas luzes e à sua dedicada perseverança que devemos a felicidade de estar hoje reunidos neste banquete simpático e fraterno.
“Que todos os espíritas lioneses jamais esqueçam que, se têm a felicidade de sentir-se melhorados, apesar de todas as influências perniciosas que muitas vezes desviam o homem da senda do bem, devem-no ao O Livro dos Espíritos.
“Se sua existência se suavizou, se seu coração está mais depurado e mais afetuoso; se dele expulsaram a cólera e a vingança, devem-no ao O Livro dos Espíritos.
“Se, na vida privada, suportam com coragem os revezes da fortuna; se repelem todos os meios baseados na astúcia e na mentira para adquirir os bens terrenos, devem-no ao O Livro dos Espíritos, que os fez compreender a prova e acendeu-lhes a luz que dissipa as trevas.
“Se um dia, que talvez não esteja longe, os homens se tornarem humanos, fraternos e dedicados a uma mesma fé; se, para eles, a caridade não mais for uma palavra vã, isso ainda deverão ao O Livro dos Espíritos, ditado pelos melhores dentre eles ao Sr. Allan Kardec, escolhido para espalhar a luz.
“À união sincera dos espíritas lioneses! À Sociedade Espírita
Parisiense, cuja irradiação a todos esclareceu, verdadeira sentinela avançada,
incumbida de desbravar a estrada difícil do progresso! Paris é o cérebro do
Espiritismo, como Lyon merece, por sua união, seu trabalho, suas luzes e seu
amor, ser o seu coração.
“Quando o coração e o espírito estiverem unidos na mesma fé, para alcançar o mesmo objetivo, logo só haverá na França irmãos amorosos e dedicados. Cresçamos, pois, pela união no amor, e em breve os nossos sentimentos, os nossos princípios cobrirão o mundo inteiro. O Espiritismo, senhoras e senhores, é o único meio para chegarmos prontamente ao Reino de Deus.
“Honra à Sociedade Espírita Parisiense! Honra ao Sr. Allan Kardec, o fundador e o primeiro elo da grande corrente espírita!”
Guillaume
Resposta do Sr. Allan Kardec
[…] Seus adversários [do Espiritismo]
só o combatem porque não o compreendem. Cabe a nós, aos verdadeiros espíritas,
aos que veem no Espiritismo algo além de experiências mais ou menos curiosas,
fazê-lo compreendido e espalhado, tanto pregado pelo exemplo quanto pela
palavra.
O Livro dos Espíritos teve como
resultado fazer ver o seu alcance filosófico. Se esse livro tem algum mérito,
seria presunção minha orgulhar-me disso, porquanto a Doutrina que encerra não é
criação minha. Toda honra do bem que ele fez pertence aos sábios Espíritos que
o ditaram e quiseram servir-se de mim. Posso, pois, ouvir o elogio, sem que
seja ferida a minha modéstia, e sem que o meu amor-próprio por isso fique
exaltado. Se eu quisesse prevalecer-me disto, por certo teria reivindicado a
sua concepção, em vez de atribuí-la aos Espíritos; e se pudesse duvidar da superioridade
daqueles que cooperaram, bastaria considerar a influência que ele exerceu em
tão pouco tempo, só pelo poder da lógica, sem contar com nenhum dos meios
materiais próprios para superexcitar a curiosidade.
Revista Espírita – outubro/1860
Salve O Livro dos Espíritos
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