(Extraído
do jornal espírita italiano La Voce di Dio – Traduzido do italiano)
A medida do trabalho imposto a cada Espírito, encarnado ou desencarnado, é a certeza de ter realizado escrupulosamente a missão que lhe foi confiada. Ora, cada um tem uma missão a cumprir: este, numa grande escala, aquele em escala menor. Entretanto, relativamente, as obrigações são todas iguais e Deus vos pedirá conta do óbolo posto em vossas mãos. Se ganhastes uma vantagem, se dobrastes a soma, certamente cumpristes o vosso dever, porque obedecestes à ordem suprema.
Se, em vez de ter aumentado este óbolo o tivésseis perdido, é
certo que teríeis abusado da confiança que o vosso Criador tinha depositado em
vós; por isso, sereis tratado como um ladrão, porque tomastes e não
restituístes; longe de aumentar, dissipastes. Ora, se, como acabo de dizer,
cada criatura é obrigada a receber e dar, quanto mais, espíritas, tendes de
obedecer a essa lei divina, tanto mais esforço deveis fazer para cumprir este
dever perante o Senhor, que vos escolheu para partilhar seus trabalhos e vos
convidou à sua mesa. Pensai, meus irmãos, que o dom que vos é dado é um dos soberanos
bens de Deus. Não vos envaideçais por isto, mas envidai todos os esforços para
merecer este alto favor. Se os títulos que poderíeis receber de um grande da
Terra, se os seus favores são algo de belo aos vossos olhos, tanto mais vos
deveríeis sentir felizes com os dons do Senhor dos mundos; dons incorruptíveis
e imperecíveis, que vos elevam acima de vossos irmãos e para vós serão a fonte
de alegrias puras e santas!
Mas quereis ser os seus únicos possuidores? Como egoístas,
quereríeis guardar só para vós tanta felicidade e alegria?
Oh! Não; fostes escolhidos como depositários. As riquezas que brilham
aos vossos olhos não são vossas, mas pertencem a todos os vossos irmãos em
geral. Deveis, pois, aumentá-las e distribuí-las.
Como o bom jardineiro que conserva e multiplica suas flores, e
vos apresenta no rigor do inverno as delícias da primavera; como no triste mês
de novembro nascem rosas e lírios, assim estais encarregados de semear e
cultivar em vosso campo moral, flores de todas as estações, flores que
desafiarão o sopro do aquilão e o vento sufocante do deserto; flores que, uma
vez desabrochadas em seus pedicelos, não passarão nem jamais murcharão; mas, brilhantes
e vivazes, serão o emblema da verdura e das cores eternas. O coração humano é
um solo fértil em afeição e em doces sentimentos, um campo cheio de sublimes
aspirações, quando cultivado pelas mãos da caridade e da religião.
Oh! Não reserveis apenas para vós esses pedúnculos sobre os
quais crescem sempre tão doces frutos! Oferecei-os aos vossos irmãos,
convidai-os a vir saborear, sentir o perfume de vossas flores, a aprender a cultivar
os vossos campos. Nós vos assistiremos, encontraremos regatos frescos que,
correndo suavemente, darão força às plantas exóticas, que são os germes da terra
celeste. Vinde! Trabalharemos convosco, partilharemos vossa fadiga, a fim de
que também possais acumular esses bens e deles fazer participar outros irmãos,
em caso de necessidade. Deus nos dá e nós, reconhecidos por seus dons, os
multiplicamos o mais possível. Deus nos incumbe da nossa própria melhoria e da
dos outros; cumpriremos nossas obrigações e santificaremos sua vontade sublime.
Espíritas, é a vós que me dirijo. Preparamos o vosso campo;
agora agi de maneira que todos que necessitarem possam fruir largamente.
Lembrai-vos de que todos os ódios, todos os rancores, todas as inimizades devem
desaparecer diante de vossos deveres: instruir os ignorantes, assistir os
fracos, ter compaixão dos aflitos, defender os inocentes, lastimar os que estão
no erro e perdoar aos inimigos. Todas essas virtudes devem crescer em abundância
no vosso campo, e deveis implantá-las nos dos vossos irmãos. Recolhereis uma
ampla colheita e sereis abençoados por vosso Pai, que está nos céus!
Meus caros filhos, quis dizer-vos todas essas coisas, a fim de
vos encorajar a suportar com paciência todos aqueles que, inimigos da nova
doutrina, buscam vos denegrir e vos afligir. Deus está convosco, não o
duvideis. A palavra de nosso Pai celeste desceu ao vosso globo, como no dia da
Criação. Ele vos envia uma nova luz, luz cheia de esplendor e de verdade.
Aproximai-vos, ligai-vos estreitamente a ele e segui corajosamente
o caminho que se abre à vossa frente.
Santo Agostinho - Revista Espírita – junho/1866
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