Jesus curou cegos de nascença, surdos-mudos,
epilépticos, hidrópicos, doidos e lunáticos, paralíticos, reumáticos e
leprosos; sarou, finalmente, enfermos de toda casta que a ele recorreram em
busca do maior bem temporal — a saúde. No entanto, jamais o Senhor pretendeu
que o dissessem médico, ou clínico.
Jesus frequentava o templo e as sinagogas onde
atendia aos sofredores e ensinava ao povo as verdades eternas, mas nunca se
inculcou levita ou sacerdote.
Jesus predisse com pormenores e particularidades
o cerco, a queda e a ruína de Jerusalém; como essa, fez várias outras profecias
de alta relevância. Penetrava o íntimo dos homens, devassando-lhes os arcanos mais
secretos, porém não consta que pretendesse as prerrogativas de vidente ou de
profeta.
Jesus realizou maravilhas, tais como: alimentar
mais de cinco mil pessoas com três pães e dois peixes; acalmar tempestade,
impondo inconcebível autoridade às ondas revoltas do oceano. Ressuscitou a
filha de Jairo, o filho da viúva de Naim e, também, Lázaro, sendo que este último
já estava sepultado havia quatro dias. Transformou água em vinho nas bodas de
Caná da Galileia, e muitos outros prodígios operou não pretendendo, apesar
disso, que o considerassem milagreiro ou taumaturgo.
Jesus aclarava as páginas escriturísticas,
fazendo realçar da letra que mata o espírito que vivifica, mas não se
apresentou como exegeta ou, ministro da palavra.
O único título que Jesus reclamou para si,
fizesse jus às mais excelentes denominações honoríficas que possamos imaginar,
foi o de “mestre”. Esse o título por ele reivindicado, porque realmente Jesus é
o Mestre excelso, o Educador incomparável.
Sua fé na obra da redenção humana, mediante o
poder incoercível da educação, acordando as energias espirituais, é inabalável,
é absoluta. Tão firme é a crença na regeneração dos pecadores, na renovação de
nossa vida, que por esse ideal se ofereceu em holocausto.
Educar é remir. O Filho de Deus deu-se em
sacrifício pela causa da liberdade humana. A cruz plantada no cimo do Calvário
não representa somente a sublime tragédia do amor divino: representa também o símbolo,
o atestado da fé viva que Jesus tem na transformação dos corações, na conversão
de nossas almas. "Quando eu for levantado no madeiro, atrairei todos a
mim..." asseverou ele. Todos, notemos bem; não uma parcela, mas a
totalidade. Vemos por aí como é radical a sua confiança, a sua crença na
reabilitação dos culpados, através da educação.
Sim da educação, dizemos bem, porque só um
título Jesus reclamou, chamando-o a si, e o fez sem rodeios sem rebuços, nem
perífrases, antes com a máxima franqueza e toda a ênfase: o título de mestre. Dirigindo-se
aos seus discípulos, advertiu-os desta maneira: "Um só é o vosso mestre, a
saber — o Cristo. Portanto, a ninguém
mais chameis mestre senão a mim". (Mateus, 23:8.)
Jesus rejeitou o cetro, o trono, a realeza,
alegando que o seu reino não é deste mundo. Dispensando igualmente, a glória e
as honras terrenas; um só brasão fez questão de ostentar: ser mestre, ser
educador. É significativo!
"Eu sou a luz do mundo, sou a verdade, sou
o pão que desceu do céu" — proclamou o Senhor. Esparzir Luzes revelar a
verdade, distribuir o pão do Espírito — tal a obra da educação, tal a missão do
Redentor da Humanidade.
Que dúvida poderá restar a nós outros,
neocristãos, sobre o rumo que deve tomar a nossa atividade, uma vez que o
advento do Espiritismo é o do Consolador prometido? Que outra forma poderemos
dar ao nosso trabalho, que seja tão eficaz, tão profícua e benéfica à renovação
social, como aquela que se prende à educação, no seu sentido lato e amplo?
Trabalhemos, pois, com ardor e entusiasmo pela
causa da educação da Humanidade, começando pela infância e pela juventude desta
terra de Santa Cruz.
Vinicius – Livro: Em torno do Mestre
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