FALAR
“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim. Não, não…” Jesus
— Mateus, 5:37.
“Espíritas: queremos falar-vos hoje da indulgência,
sentimento doce e fraternal, que todo homem deve alimentar para com seus
irmãos, mas do qual bem poucos fazem
uso.” — Cap. X, 16.
Falando, construímos.
Não admitas em tua palavra o corrosivo da malícia ou o
azinhavre da queixa. Fala na bondade de Deus, na sabedoria do tempo, na beleza
das estações, nas reminiscências alegres, nas induções ao reconforto.
Nos lances difíceis, procura destacar os ângulos
capazes de inspirar encorajamento e esperança.
Não te refiras a sucessos calamitosos, senão quando estritamente
necessário e ora em silêncio por todos aqueles que lhes sofreram o impacto
doloroso. Tanta vez acompanhas com reverente apreço os que tombam em desastre
na rua!… Homenageia igualmente com a tua compaixão respeitosa os que resvalam
em queda moral, acordando em escabroso infortúnio do coração!…
Se motivos surgem para admoestações, cumpre o dever
que te assiste, mas lembra que o estopim é suscetível de ser apagado antes da
explosão e reprime os ímpetos de fúria, antes que estourem na cólera. Em várias circunstâncias, a indignação justa é chamada à
reposição do equilíbrio, mas deve ser dosada como o fogo, quando trazido ao
refúgio doméstico para a execução da limpeza, sem que, por isso, tenhamos
necessidade de consumir a casa em labaredas de incêndio.
Larga à sombra de ontem os calhaus que te feriram…
A noite já passou na estrada que percorreste e o sol
do novo dia nos chama à incessante transformação.
Conversa em trabalho
renovador e louva a amizade santificante. Não te
detenhas em demasia sobre mágoas, doenças, pesadelos, profecias temerárias e
impressões infelizes; dá-lhes apenas breve espaço mental ou verbal, semelhante
àquele de que nos utilizamos para afastar um espinho ou remover uma pedra.
Não comentes o mal, senão para exaltar o bem, quando
seja possível extrair essa ou aquela lição que ampare a quem lê ou a quem ouve,
enobrecendo a vida.
Junto do desespero, providencia o consolo, sem a
pretensão de ensinar, e renteando com a penúria, menciona as riquezas que a
Bondade Divina espalha a mancheias, em benefício de todas as criaturas, sem
desconsiderar a dor dos que choram.
Ilumina a palavra.
Deixa que ela te mostre a compreensão e o amor onde passes, sem olvidar o
esclarecimento e sem prejudicar a harmonia. O Cristo edificou o Evangelho, por
luz inapagável, nas sombras do mundo, não somente agindo, mas conversando
também.
Emmanuel / Chico Xavier – Livro da Esperança, cap.26
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