AUTOBIOGRAFIA
P. — Chico
Xavier, ao final deste Programa, que teve a pretensão de mostrar, se não toda,
pelo menos parte de sua vida, nós lhe perguntamos: Chico Xavier, quem é você?
R. — Meu caro
Tharsis, embora seja avesso às informações autobiográficas, não posso deixar de
me estender um tanto na resposta à questão que a sua bondade suscita.
Antes de tudo
rogo as suas desculpas de companheiro uberabense, de distinto jornalista do
nosso campo cultural, se vier a parecer pretensioso ou prolixo, o que realmente
não desejo.
A pergunta que
você me dirige não deixa de ser um tanto estranha, porque sendo eu um cidadão
como qualquer outro, pertenço ao gênero humano e não me consta seja de praxe
que esta ou aquela pessoa deva explicar quem venha ser, desde que esteja sempre
circulando, qual me acontece, no relacionamento comum.
Mas,
satisfazendo a sua curiosidade simpática, devo esclarecer ao prezado amigo que
sou uma pessoa como tantas outras, com muitos erros na vida e alguns poucos
acertos, sempre alimentando o sincero desejo de cumprir as minhas obrigações.
Não tenho
qualquer privilégio material ou espiritual. No setor da profissão, trabalhei 4
anos numa fábrica de tecidos, outros 4 anos num pequeno armazém, com setores anexos
de cozinha e horticultura; e outros 32 anos consecutivos no Ministério da
Agricultura, no qual me aposentei na condição de escriturário, somando ao todo
40 anos de trabalho profissional.
Em
mediunidade, especialmente na psicografia, completei agora, em 8 de julho
corrente, meio século de atividades ininterruptas.
Psicografei
até agora 150 livros, em nos referindo aos livros já publicados, que entreguei,
sem qualquer remuneração, às Editoras Espíritas Cristãs, com o que reconheço
estar cumprindo simplesmente um dever.
Materialmente,
tenho atravessado longos períodos de moléstia física. Sou portador de luxação
no olho esquerdo desde muitos anos e, em verdade, tenho recebido muito auxílio
dos amigos espirituais nos tratamentos de saúde a que tenho me submetido, mas
já passei por cinco cirurgias de grande porte, sempre pelas mãos de médicos
cirurgiões humanos e amigos, submetendo-me a instruções médicas e a regimes
hospitalares, como sucede a qualquer doente comum. A mediunidade não me deu
imunidades contra doenças e tentações naturais na existência humana, porque
ainda agora, numa ocorrência muito natural a qualquer pessoa com 67 janeiros de
idade física, sou portador de um processo de angina, que me obriga a tratamento
diário muito complexo.
Segundo você
mesmo, caro amigo, pode observar, sou uma pessoa demasiadamente comum, sem
pretensões a qualquer destaque, que nada fiz por merecer.
Devo
esclarecer a você que não tenho o privilégio de viver o tempo ao meu dispor, de
vez que, como acontece a qualquer pessoa que preza os compromissos, o relógio
tem muita importância em minha vida, conquanto me sinta muito feliz quando
possa sustentar essa ou aquela conversação com os amigos, o que para mim não é
um prazer muito acessível, em virtude das muitas tarefas a que estou vinculado.
Para clarear,
tanto quanto possível, a minha resposta à sua pergunta, esclareço que em
matéria de estudos tive apenas o curso primário, na cidade de Pedro Leopoldo,
onde nasci. Mas, naturalmente, ouvindo instruções e escrevendo instruções com o
Espírito de Emmanuel e outros Espíritos amigos, desde 1927, é impossível que a
minha inteligência, mesmo estreita quanto é, não obtivesse alguma evolução e
algum aprimoramento em meio século de trabalho espiritual incessante.
Esclareço
ainda a você que pertenço, morfologicamente, ao sexo masculino, e qual ocorre
com as pessoas que sentem e pensam muito sobre as próprias responsabilidades,
psicologicamente tenho os conflitos naturais, inerentes a essas mesmas pessoas,
conflitos estes que procuro asserenar, tanto quanto possível, com o apoio da
religião, pois não creio que possamos vencer as nossas tendências inferiores ou
animalizantes sem fé em Deus, sem a prática de uma religião que nos controle os
impulsos e nos eduque os sentimentos.
Passei por
muitas lutas espirituais, desde tenra idade, em matéria de faculdades
mediúnicas. Mas, com a Doutrina Espírita, em que Allan Kardec explica os
ensinamentos de Jesus, há precisamente meio século, encontrei nas tarefas
espíritas o equilíbrio possível, de que eu necessitava, para viver e conviver
com os meus irmãos em humanidade e para trabalhar como qualquer cidadão que
deseja ser útil à sua família e ao seu grupo social.
Informo ainda
a você que o trabalho mediúnico foi sempre muito intenso em minha vida, e que
continuo solteiro, sentindo-me feliz nessa condição.
Aproveito
ainda o ensejo para dizer ao bom amigo que sou muito grato aos companheiros e
autoridades que se referem, com tanta generosidade e carinho, ao meio século de
serviço mediúnico que completei agora, mas esclareço a você, meu caro Tharsis,
que se algum apontamento elogioso aparece aqui e ali, esse apontamento pertence
ao Espírito de Emmanuel, e a outros Benfeitores Espirituais que se comunicam
por meu intermédio, em minha condição simples de medianeiro espírita, e que de
mim mesmo não passo de um médium muito falho em tudo, precisando sempre das
preces e das vibrações de apoio das pessoas amigas, espíritas ou não espíritas,
que possam fazer a caridade de orar em meu favor, para que eu possa cumprir o
meu dever.
A você, meu
caro amigo Tharsis, muito obrigado.
Francisco
Cândido Xavier – Livro: Entender conversando
Entrevista
concedida ao jornalista e radialista Tharsis Bastos de Barros, para um Programa
comemorativo dos 50 anos de atividades mediúnicas ininterruptas de Francisco C.
Xavier, intitulado: “Especial com Chico Xavier”, e levado ao ar pela Rádio Sete
Colinas, de Uberaba, MG, em fins de julho de 1977.
NASCIMENTO
CHICO XAVIER – 02/04/1910
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