sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Lenda simbólica

 

Existe no folclore de várias nações do mundo antiga lenda que exprime comumente a verdade de nossa vida.

Certo homem que pervagava, infeliz, padecendo intempérie e solidão, encontrou valiosa pedra em que se refugiou, encantado.

À maneira de concha em posição vertical, o minúsculo penhasco protegia-o contra as bagas de chuva, ofertando-lhe, ao mesmo tempo, o colo rijo sobre o qual vasta porção de folhas secas lhe propiciava adequado ninho.

O atormentado viajor agarrou-se, contente, a semelhante habitação e, longe de consagrar-se ao trabalho honesto para renová-la e engrandecê-la, confiou-se à pedintaria.

Além, jornadeavam companheiros de Humanidade em provações mais aflitivas que as dele, contudo, acreditava-se o mais infortunado de todos os seres e preferia examiná-los através da inveja e da irritação.

Adiante, sorria a gleba luxuriosa, convidando-o à sementeira produtiva, no entanto, ocultava as mãos nos andrajos que lhe cobriam a pele, alongando-as simplesmente para esmolar.

Na imensidão do céu, cada manhã, surgia o Sol, como glorioso ministro da Luz Divina, exortando-o ao labor digno, mas o desditoso admitia-se incapacitado e enfermo de tal sorte, que não se atrevia a deixar a pedra protetora.

Ouvia de lábios benevolentes incessantes apelos à própria renovação, a fim de exercitar-se na prática do bem, a favor de si mesmo, mas, extremamente cristalizado na ociosidade e no desalento, replicava com evasivas, definindo-se como sofredor irremediável, vomitando queixas ou disparando condenações.

Não podia trabalhar por faltarem-lhe recursos, não estudava por fugir-lhe o dinheiro, não ajudava de modo algum a ninguém por ser pobre até à miserabilidade completa, dizia entre sucessivas lamentações.

Rogava pão, suplicava remédio, mendigava socorro de todo gênero, acusando o destino e insultando o próximo…

Por mais de meio século demorou-se na pedra muda e hospitaleira, até que a morte lhe visitou os farrapos, arrebatando-o da carne às surpresas do seu reino.

Foi então que mãos operosas removeram o enorme calhau para que a higiene retornasse à paisagem, encontrando sob a pequena rocha granítica um imenso tesouro de moedas e joias, suscetível de assegurar a evolução e o conforto de grande comunidade.

O devoto da inércia experimentara desolação e necessidade, por toda a existência, sobre um leito de inimaginável riqueza.

Assim somos quase todos nós, durante a reencarnação.

Almas famintas de progresso e acrisolamento, colamo-nos ao grabato físico para a aquisição de conhecimento e virtude, experiência e sublimação, mas, muito longe de entender a nossa divina oportunidade, desertamos da luta e viajamos no mundo à feição de mendigos caprichosos e descontentes, albergando amarguras e lágrimas, no culto disfarçado da rebeldia.

E, olvidando nossos braços que podem agir para o bem, estendemo-los não para dar e sim para recolher, pedindo, suplicando, retendo, reclamando e exigindo, até que chega o momento em que a morte nos faz conhecer o tesouro que desprezamos.

*

Se a lenda que repetimos pode merecer-te atenção, aproveita o aconchego do corpo a que te acolhes, entregando-te à construção do bem por amor ao bem, na certeza de que a tua passagem na Terra vale por generosa bolsa de estudo, e de que amanhã regressarás para o ajuste de contas em tua Esfera de origem.

 

Irmão X (Humberto de Campos) / Chico Xavier

Livro: Contos e apólogos



Oração em serviço

 


Deus da Eterna Bondade,

Ensina-me a viver;

A doar do que eu tenha,

Sem contar o que faça;

A trabalhar servindo,

Sem exigir repouso;

A compreender os outros

Sem ferir a ninguém;

A nunca desertar

Dos deveres que assumo;

E a entender que nos dás

O que julgas melhor.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Tempo de luz



Honra ao trabalho

 

Trabalha e encontrarás o fio diamantino

Que te liga ao Senhor que nos guarda e governa,

Ante cuja grandeza o mundo se prosterna,

Buscando a solução da dor e do destino.

 

Desde o fulcro solar ao fundo da caverna,

Da beleza do herói ao verme pequenino,

Tudo se agita e vibra, em cântico divino

Do trabalho imortal, brunindo a vida eterna!…

 

Tudo na imensidão é serviço opulento,

Júbilo de ajudar, luta e contentamento,

Desde a flor da montanha às trevas do granito.

 

Trabalha e serve sempre, alheio à recompensa,

Que o trabalho, por si, é a glória que condensa

O salário da Terra e a bênção do Infinito.

 

Múcio Teixeira / Chico Xavier

Livro: Parnaso de Além-Túmulo



Não furtes

 

“Aquele que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as suas mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.” — Paulo. (Efésios, 4:28)

 

Há roubos de variada natureza, jamais catalogados nos códigos de justiça da Terra.

Furtos de tempo aos que trabalham.

Assaltos à tranquilidade do próximo.

Depredações da confiança alheia.

Invasões nos interesses dos outros.

Apropriações indébitas, através do pensamento.

Espoliações da alegria e da esperança.

Com as chaves falsas da intriga e da calúnia, da crueldade e da má-fé, almas impiedosas existem, penetrando sutilmente nos corações desprevenidos, dilapidando-os em seus mais valiosos patrimônios espirituais…

Por esse motivo, a palavra de Paulo se reveste de sublime significação: — “Aquele que furtava não furte mais.”

Se aceitaste o Evangelho por norma de elevação da tua vida, procura, acima de tudo, ocupar as tuas mãos em atividades edificantes, a fim de que possas ser realmente útil aos que necessitam.

Na preguiça está sediada a gerência do mal.

Quem alguma coisa faz, tem algo a repartir.

Busca o teu posto de serviço, cumpre dignamente as tuas obrigações de cada dia e, atendendo aos deveres que o Senhor te confiou, atravessarás o caminho terrestre sem furtar a ninguém.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Fonte Viva – Cap. 142




sábado, 27 de janeiro de 2024

Mais Luz - Edição 667 - 28/01/2024

 


Confira nesta edição:

https://mailchi.mp/100b2aeb7730/renovemo-nos-hoje

 

Renovemo-nos hoje – Cairbar Schutel

Ante o Evangelho: A fé e a caridade

Mensagem da Semana: Renova-te sempre – Fonte Viva 141

Poema:  Tempo e amor – João Coutinho

         Oração por entendimento – Emmanuel 



sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Renovemo-nos hoje

 


Meus amigos:

Que Nosso Senhor Jesus-Cristo nos conserve o amor no coração e a luz no cérebro, para que nossas mãos permaneçam vigilantes e diligentes no bem.

Quem assinala os dramas de aflição a emergirem da treva nas sessões mediúnicas, percebe facilmente a importância da vida humana como estação de refazimento e aprendizado.

Principalmente para nós, os que procuramos no Espiritismo uma porta iluminada de esperança para o acesso à verdade, a existência na Terra se reveste de subido valor, porque não desconhecemos os perigos da volta à retaguarda.

Sentimos de perto o martírio das criaturas desencarnadas que se deixaram arrastar pelos furacões do crime e o tormento das almas, sem a concha física, que ainda se apegam desvairadamente à ilusão.

Somos testemunhas de culpas e remorsos que passaram impunes diante dos tribunais terrestres, e anotamos a Justiça Imanente, Universal e Indefectível, que confere a cada Espírito o galardão da vitória ou o estigma da derrota, segundo as realizações que edificou para si mesmo.

Sabemos que não vale perguntar com a Ciência, menoscabando a consciência, e não ignoramos que as tragédias e as lágrimas que fazem o inferno, nas regiões sombrias, se originam, de maneira invariável, do sentimento desgovernado e vicioso.

Vede, pois, que, em nos conchegando ao Cristo de Deus, buscando-lhe a inspiração para os nossos serviços e ideais, nada mais fazemos que situar os nossos princípios no lugar que lhes é próprio, porque a nossa Doutrina Renovadora é, sobretudo, um roteiro de aperfeiçoamento do homem, com a sublimação do caráter.

Entre as realidades amargas que nos visitam os templos de intercâmbio e certas predicações de companheiros cultos e entusiastas, mas imperfeitamente acordados para as responsabilidades que lhes competem, lembremo-nos de que quase vinte séculos de Cristianismo verbal viram passar no mundo tronos e Estados, organizações e monumentos, guerras e acordos, casas de caridade e santuários de estudo em todas as linhas da civilização do Ocidente, erguendo-se em nome de Jesus e tornando ao pó de que nasceram, tão somente com o benefício da experiência dolorosa, haurida entre a sombra e a desilusão.

Levantemo-nos para a fé que nos redima por dentro.

Deus é o Senhor do Universo e da Natureza, mas determina sejamos artífices de nossos próprios destinos.

Renovemo-nos hoje ao Sol do Evangelho!

Cada qual de nós use a ferramenta das ideias superiores de que já dispõe e de conformidade com a lição de nosso Divino Mestre, estudada por nós nesta noite. Trabalhemos, “enquanto é dia”, na preparação do futuro de paz.

O Espiritismo não é um esporte da inteligência.

É um caminho de purificação para a glória eterna.

No cume da montanha que nos compete escalar, aguarda-nos o Senhor como o Sol da Vida.

Desentranhemos, assim, a gema de nossa alma do escuro cascalho da ignorância, para refletir-lhe a Divina Luz!

 

Cairbar Schutel / Chico Xavier

Livro: Vozes do Grande Além


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Oração por entendimento

 


Senhor Jesus!

Auxilia-nos a compreender mais, a fim de que possamos servir melhor, já que, somente assim, as bênçãos que nos concedes podem fluir, através de nós, em nosso apoio e em favor de todos aqueles que nos compartilham a existência.

Induze-nos à prática do entendimento que nos fará observar os valores que, porventura, conquistemos, não na condição de propriedade nossa e sim por manancial de recursos que nos compete mobilizar no amparo de quantos ainda não obtiveram as vantagens que nos felicitam a vida.

E ajuda-nos, oh! Divino Mestre, a converter as oportunidades de tempo e trabalho com que nos honraste em serviço aos semelhantes, especialmente na doação de nós mesmos, naquilo que sejamos ou naquilo que possamos dispor, de maneira a sermos hoje melhores do que ontem, permanecendo em ti, tanto quanto permaneces em nós, agora e sempre.

Assim seja.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Paciência


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Tempo e amor

 

Qual austero gigante que nos guia,

Furioso e rude e, às vezes, triste e lento,

Passa o tempo, na Terra, como o vento,

Renovando-te a senda, cada dia.

 

Não desesperes, ante o céu nevoento,

Nem te abatas na estrada escura e fria,

Nascerão novas flores de alegria

Onde há charcos de angústia e sofrimento.

 

O templo, o lar, a fonte, a flor e o ninho…

Tudo o tempo transforma, de mansinho,

Alterando-se em luz, penumbra e treva!

 

Guarda, porém, o amor puro e esplendente,

Que o nosso amor, agora e eternamente,

É o tesouro que o tempo nunca leva…

 

João Coutinho / Chico Xavier

Livro: Relicário de luz



Renova-te sempre

 

“Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova, dia a dia.” — Paulo. (II Coríntios, 4:16)

 

Cada dia tem a sua lição.

Cada experiência deixa o valor que lhe corresponde.

Cada problema obedece a determinado objetivo.

Há criaturas que, torturadas por temores contraproducentes, proclamam a inconformação que as possui à frente da enfermidade ou da pobreza, da desilusão ou da velhice.

Não faltam, no quadro da luta cotidiana, os que fogem espetacularmente dos deveres que lhes cabem, procurando, na desistência do bom combate e no gradual acordo com a morte, a paz que não podem encontrar.

Lembra-te de que as civilizações se sucedem no mundo, há milhares de anos, e que os homens, por mais felizes e por mais poderosos, foram constrangidos à perda do veículo de carne para acerto de contas morais com a eternidade.

Ainda que a prova te pareça invencível ou que a dor se te afigure insuperável, não te retires da posição de lidador, em que a Providência Divina te colocou.

Recorda que amanhã o dia voltará ao teu campo de trabalho.

Permanece firme, no teu setor de serviço, educando o pensamento na aceitação da Vontade de Deus.

A moléstia pode ser uma intimação transitória e salutar da Justiça Celeste.

A escassez de recursos terrestres é sempre um obstáculo educativo.

O desapontamento recebido com fervorosa coragem é trabalho de seleção do Senhor, em nosso benefício.

A senectude do corpo físico é fixação da sabedoria para a felicidade eterna.

Sê otimista e diligente no bem, entre a confiança e a alegria, porque, enquanto o envoltório de carne se corrompe pouco a pouco, a alma imperecível se renova, de momento a momento, para a vida imortal.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Fonte Viva – Cap. 141