sábado, 5 de setembro de 2020

Nova ordem do amor


O Homem pediu a colaboração da Ciência, guindando-se às conquistas tecnológicas. Todavia, abandonou a responsabilidade e desconsidera o amor.
Anelando por ganhar espaços, arroja-se na decifração do desconhecido e deixa à margem as conquistas logradas pelo sentimento.
Preconiza a paz — fomenta a guerra.
Ensina o amor — estimula a luta de classes.
Programa os direitos humanos — desrespeita os direitos do próximo.
Ensina a liberdade—investe contra a do seu irmão.
Amplia as próprias ambições — encarcera-se nos cofres da usura, nos limites estreitos da política arbitrária, nas paisagens torpes das paixões dissolventes.
Por isso, transcorreram quatrocentos anos de razão, de investigação científica, de liberdade de consciência com uma colheita de sombras, de amarguras, de pessimismo.
A partir do século XVI, apoiou-se na filosofia para arrebentar os grilhões da ignorância religiosa.
No século XIX utilizou-se da mesma filosofia, para gargalhar de Deus, e sucumbe, em pleno século XX, sob as filosofias do anarquismo, da perversão, do fazer coisa nenhuma.
Em consequência, uma grande noite se abate sobre a Humanidade.
O homem, artífice do seu próprio destino, encarcera- se no vício e deixa que o sol da liberdade buscada, e conseguida em parte, seja empanado pela grande nuvem das suas ameaças constritoras.
Enfermidades de etiologia difícil, de terapêutica complexa, de recursos preventivos impossíveis no momento, ameaçam a estrutura orgânica do ser pensante.
Psicopatologias profundas aniquilam-no interiormente; o homem estertora; o homem se desumaniza.
Neste contubérnio de paixões, a violência irrompe assustadora, em nome das liberdades democráticas, e cava o poço para as ditaduras do poder.
Pairam, sobre a Terra, os miasmas pestilentos do sofrimento generalizado.
Não pretendemos fazer profetismo de aniquilamento nem nos utilizamos das Parcas, que tecem o destino trágico dos homens, antecipando-lhes a desgraça. Consideramos as ocorrências ora vividas, pelo apagar do idealismo, face ao confundir das aspirações enobrecedoras, como decorrência da falência das conquistas ético-morais e espirituais do ser.
Pairando, entretanto, sobre todas as conjunturas amargas, Cristo vela e conduz a nave terrestre no fragor das batalhas rudes, no entrechoque das paixões, no destruir das Instituições enobrecidas.
Um inesperado sopro de renovação varrerá a Terra e espíritos, que lideraram povos pelo pensamento, pela arte, pela sabedoria, tomarão os comandos da geração desventurada e restabelecerão, na Terra, a paz, o amor, a liberdade.
Todos estamos convocados para prepararmos o advento dos dias porvindouros.
As lâmpadas acesas na noite têm as nobres finalidades de derramar claridade.
Não nos encontramos reunidos no ministério espírita e cristão, por acaso.
Não voltamos aos caminhos do Cristianismo por injunções eventuais ou por caprichos do destino.
Assumimos grave responsabilidade com o Cristo que não soubemos respeitar no passado.
Contribuímos para estes momentos de desaires e sofremo-los, vivendo as consequências dos nossos atos pretéritos.
Assim, estabeleçamos a nova ordem do amor preparando o futuro de gloriosos dias, nos quais, possivelmente, noutra roupagem, estaremos de volta, experimentando o primado do espírito imortal.
Companheiros em Doutrina Espírita, rugindo a tempestade, vigiemos.
Estourando as lutas, resguardemo-nos.
Correndo os rios de lágrimas e amontoando-se os cadáveres dos ideais perdidos, atuemos no bem.
A nossa é a valiosa ação de servir e servir, amando e amando, sem revidarmos mal por mal, nem aceitarmos o achincalhe, a provocação, a agressividade espontânea dos que enlouqueceram e ainda não se deram conta.
Na história dos séculos, a cruz do Cristo, simbolizando a Sua derrota, é a história da grande vitória que inaugura a ressurreição como prelúdio de uma vida eterna.

 Viana de Carvalho/ Divaldo Pereira Franco – Livro: Reflexões espíritas

Nenhum comentário:

Postar um comentário