quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

O que está acontecendo com o mundo?

 


Não será novidade a sensação de estranheza que acomete boa parcela da Humanidade terrestre nesse período de ocaso expiatório-provacional e de alvorecer de uma Nova Era de regeneração.

Nesses momentos, parece-nos faltar superfície para colocarmos os pés e caminharmos seguramente. O horizonte anuvia-se diante das montanhas de calamidades públicas e privadas pelas quais atravessam os errantes na trajetória ascensional. A noite sombria assola os incipientes raios solares do amanhecer, assenhoreando-se dos andarilhos da hora última, titubeantes em indecisões e vãos questionamentos, orquestrados no pragmatismo materialista do incrédulo, ou assentados na hesitação do crente iludido e desesperançado.

Tudo parece acenar um futuro não muito distante de caos e perdição irremissíveis…

*

O Apóstolo Paulo escreveu várias cartas, conhecidas como epístolas, sob a inspiração direta do Espírito Estêvão, que incentivou o convertido de Damasco a redigir as missivas, tendo em vista demanda de ampliar a divulgação da Mensagem de Jesus, uma vez que Paulo não poderia estar fisicamente em vários lugares ao mesmo tempo. As epístolas foram sublime inspiração para marcar presença com a palavra orientadora a pessoas e povos carentes de assegurar sua caminhada nas trilhas da fé após a crucificação do Messias de Nazaré, recordando os ensinos do Mestre para que não caíssem no esquecimento.

Num desses indeléveis registros aos Coríntios, Paulo expressa: Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

Para bem entendermos a essência do conteúdo paulino, é necessário que busquemos a compreensão do significado das palavras. Ser atribulado é enfrentar aflições, adversidades, agruras, mortificações, sofrimentos morais e acontecimentos desagradáveis ou penosos. Angustiado é sinônimo de aflito, agoniado, ansioso, atormentado, inquieto.

Ser perplexo é ser tomado de espanto, ficar atônito, indeciso, irresoluto, é hesitar. Desanimado é o mesmo que sem ânimo, desencorajado, desestimulado, desalentado, esmorecido, sem vontade de agir.

A constatação de ontem e de hoje que o registro epistolar evidencia é de que somos em tudo o que acontece ao nosso redor e em nossa intimidade atribulados e perplexos. Porém, a recomendação do mesmo enunciado é para não sermos angustiados nem desanimados, nunca e em nada, assim deduzimos.

Os vocábulos parecem próximos no significado, entretanto indicam capitais diferenças conceituais. Ficamos espantados, atônitos diante de tantas ações infensas à moral, observadas cada vez mais frequentemente na atualidade ou que teimam em se perpetuar ao longo do tempo, desde eras imemoriais quando o homem ainda estagiava em seus primeiros passos no primitivismo da evolução.

Esse estado de perplexidade, todavia, não deve denotar desânimo, falta de ânimo, de vida e de vontade para pensar, falar e fazer o imprescindível a uma reação ativa, operosa e construtiva perante uma realidade temporariamente avassaladora do mal e de suas múltiplas manifestações e incautas intermediações. Jesus asseverou que veio para nos trazer vida e vida em abundância.

Tudo o que não for real, passará. Apenas os valores constitutivos da verdadeira propriedade, a espiritual, resistirão, posto que permanentes. Espantamo-nos perante atrocidades, crueldades, irresponsabilidades decorrentes da imaturidade espiritual ou da maldade temporária que domina, iludindo boa parcela da Humanidade terrestre. Todavia, não nos cabe o desalento, pois há muito que fazer, notadamente no período de transição em que todos somos convidados e convocados a doar o melhor de nós, realizando o que estiver ao nosso alcance, como a nossa quota de colaboração para as mudanças inadiáveis.

As aflições comuns em um mundo de expiações e de prova onde ainda há o império do mal, chegarão de fora, em ranger de dentes do tempestuoso inverno a assolar incautos, desprevenidos e imprevidentes quanto ao futuro espiritual. Virão também da intimidade dos seres que não se permitirão sentir acomodados em zona de conforto, quando o Evangelho Redivivo nos convoca ao testemunho pessoal e intransferível do autoenfrentamento para as diligências renovadoras impostergáveis, considerando que os tempos já chegaram, e que não nos cabe procrastinar mais nem um segundo a resolução no rumo do bem e do amor divinos.

Entrementes, não nos permitiremos agoniar, cedendo a aparentes forças irresistíveis de influências malévolas a nos desviar do caminho a ser seguido em direção à conquista paulatina da felicidade, por esforço próprio e proporcional a nossa capacidade, sem exageros ou exigências descabidas, mas compreendendo que o minuto precioso de cada dia não deve ser desperdiçado por invigilância e ociosidade.

E foi Emmanuel, que tanta admiração vertia ao doutor da lei, renovado em Jesus, com sua elegante e assertiva redação, convertendo-se, em nossa opinião, no maior explicador dos evangelhos de todos os tempos, quem acentuou:

E, ainda hoje, enquanto oram confiantes, exemplificando o amor evangélico, [os leais seguidores de Jesus] reparam o progresso dos ímpios e sofrem a dominação dos vaidosos de todos os matizes. Enquanto triunfam os maus e os indiferentes, nas facilidades terrestres, são eles relegados a dificuldades e tropeços, à frente das situações mais simples.

Apesar da evolução inegável do direito no mundo, ainda são chamados a contas pelo bem que fazem e vigiados, com rudeza, devido à verdade consoladora que ensinam.

É o que temos sentido, embora ainda não nos reconheçamos como leais seguidores do Cristo. Estamos iniciando os esforços para corrigir mazelas espirituais e conquistarmos virtudes que nos propiciem integração na equipe de trabalho do Divino Amigo.

Dá a impressão de que os maus prosperam, de que a irresponsabilidade cresce, de que a imoralidade domina, de que o instituto da família desmorona, de que a educação resta abatida, de que o materialismo vence, de que uma crise sem precedentes na História prenuncia um caos jamais visto no mundo inteiro, com todos os seus ais…

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Nunca, como nos tempos atuais, houve tanta necessidade do Evangelho Redivivo ao Espírito sedento de consolo e de esclarecimento, que possa oferecer-lhe paz e serenidade, bom senso e discernimento, para não perder a direção do bem, deixando-se envolver pelas ilusões passageiras do mal.

Deus, em Sua Infinita Misericórdia, utiliza-se do mal decorrente dos erros humanos, alçando-o veementemente para que se manifeste com toda pujança, como instrumento para erradicação em definitivo do próprio mal, que sobra apenas como ausência do bem maior originado da Providência Divina.

Vivemos os momentos decisivos da renovação em espírito e verdade, da transformação moral, da renovação íntima, da escolha dos valores espirituais, quando Jesus nos chama para o serviço da redenção de nós mesmos pelo auxílio aos irmãos em maiores necessidades que as nossas.

Atravessamos o período de despedida gradativa do orbe de expiações e provas, em que somos convocados a atuar como trabalhadores da última hora e, simultaneamente, vislumbramos o limiar do mundo de regeneração, para o qual somos convidados como candidatos a servidores da primeira hora.

Estagiamos no tempo de fazermos a leitura da realidade, termos olhos de ver a Verdade e compreendermos que a Terra, a mãe Gaia, é a escola de iluminação, o hospital de reabilitação e a morada de trabalho e de libertação de nossos Espíritos rumo a Deus, nosso Pai de Infinita Bondade.

 

Geraldo Campetti Sobrinho – Vice-presidente da Federação Espírita Brasileira

Fonte: Jornal Mundo Espírita – www.mundoespirita.com.br

Um comentário:

  1. "Jesus nos chama para o serviço da redenção de nós mesmos pelo auxílio aos irmãos em maiores necessidades que as nossas". Eis o alvo!❤️

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