Lutar por vencer as vicissitudes é inevitável, desde que
a própria injunção biológica é uma constante faina, em que nascimento, morte,
transformação e ressurgimento se dão por automatismos na maquinaria
fisiológica, ensinando à consciência a técnica do esforço para a preservação da
Vida.
O pretenso suicida, que consumou a trágica fuga da
responsabilidade, jamais se libera, como é natural, dos resultados nefários do
seu gesto, sempre tresloucado, por ferir, na agressão furiosa, o mecanismo do instinto
de conservação da Vida, que governa a existência animal e o possui como fator para
sua preservação.
Orgulhoso ou pusilânime, irresponsável ou vão, o suicida
não se evade de si mesmo, da sua consciência; torna-se, aliás, o seu próprio
algoz cujas penas o gesto lhe impõe e que resgatará em injunções mil vezes mais
afligentes do que na forma em que ora se apresentam.
A burla que se permite, por supostos meios indolores para
sofrer a desencarnação, hiberna-o por algum tempo, em espírito, até o momento
em que desperta mais vilipendiado e agônico, vivo, estuante de vitalidade, padecendo
as camarteladas que a superlativa imprudência provocou.
É óbvio que ninguém ludibria a Consciência cósmica, que
se expressa na harmonia do Universo e vige, pulsante, na consciência humana
individual.
Necessário que o homem assuma as responsabilidades da
Vida e instrua-se nas leis que lhe regem a existência, aprimorando-se e
reunindo valores de que possa dispor nos momentos-desafio, a fim de superá-los
e reorganizar-se para os futuros cometimentos até o instante em que se lhe
encerre o ciclo biológico.
Estará, então, liberado da matéria, mas mantido na
Vida...
Nas aparentes mortes sem dor, provocadas pelos que
desejam fugir ou esquecer, o sofrimento moral tem início quando se elabora o
programa da evasão e jamais se pode prever quando terminará.
A consciência humana é indestrutível, portanto, o
suicídio de qualquer espécie é arrematada loucura, um salto no desconhecido abismo
da imprevisível desesperação”.
Manoel
Philomeno de Miranda / Divaldo Franco – Livro: Temas da vida e da Morte
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