Senhor!
No concerto das forças que te desejam
honrar, eu também sou teu servo.
Por me atribuíres o dever de premiar o
suor e sustentar o bem, como recurso neutro de aquisição, ando, entre as criaturas,
frequentemente, em regime de cativeiro.
Muitas delas me escravizam para que eu
lhes compre ilusões e mentiras, prazeres e consciências.
Noto com mais nitidez minha própria
tarefa, cada vez que escuto alguém chorar no caminho, entretanto, quase sempre,
estou preso...
Que fiz eu Senhor, para viver
encarcerado no sombrio recinto do cofre, como se eu fora um cadáver importante
no esquife trancado da inércia?
Ensina aos que me guardam sem proveito
que sou o sangue do trabalho e do progresso, da caridade e da cultura e
ajuda-os para que me liberte.
Quase todos eles procuram estar
comigo, através da oração, nos templos que abraçam.
Dize-lhes na prece que sou a esperança
do lar sem lume.
Fala-lhes que posso ser o conforto das
mães esquecidas, o arrimo dos companheiros caídos em provação, o leite devido
aos pequeninos de estômago atormentado, o remédio ao enfermo e o lençol
generoso e limpo dos que avizinham do túmulo.
Um dia, alguém te apresentou moeda
humilde, empenhada ao imposto público para que algo dissesses e recomendastes
fosse dado a César o que é de César.
Muitos, porém, não perceberam que te
reportavas ao tributo e não a mim e, julgando que a tua palavra me condenasse,
lançaram-me ao desprezo...
Não ignoras, contudo, que nasci para
fazer o melhor e esteja eu vestido de ouro ou de simples papel, sabes, Senhor,
que eu também sou de Deus.
Meimei / Chico Xavier – Livro: À luz
da oração
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