sábado, 25 de junho de 2022

Há 20 anos, ele partiu sereno, como viveu!

 


O título acima reproduz a edição de julho de 2002 da Folha Espírita, ainda em seu formato impresso, e que foi totalmente dedicada a homenagear o amado médium Chico Xavier. Em 30 de junho daquele mesmo ano, enquanto todo o povo brasileiro celebrava o tão esperado Pentacampeonato de Futebol Mundial, Chico se despedia de sua vida terrena.

Aquele dia então ficara marcado na história entre um misto da euforia de toda uma nação apaixonada pelo futebol e a despedida da vida de Francisco Cândido Xavier, que durante 92 anos dedicou sua vida inteiramente para a humanidade. Chico deixara a existência terrena conforme prometera aos amigos mais íntimos: “vou partir em um dia que o povo estiver muito feliz”! E assim foi.

Passados 20 anos de seu desencarne, a edição de junho de 2022 é totalmente dedicada a ele. Nosso tributo é materializado em forma de uma viagem no tempo, trazendo para esta edição a íntegra de alguns depoimentos e artigos que foram eternizados na Folha Espírita de julho de 2002.

Começamos com o texto principal de Marlene Nobre.

 

O sereno adeus, por Marlene Nobre

Chico Xavier partiu para as Esferas Superiores em meio à euforia nacional pela conquista do pentacampeonato. Partiu sereno, como viveu. Ao seu lado, o médico fiel de quase três decênios, o cardiologista Eurípides Tahan Vieira, viu o amigo juntar as mãos na direção do Mais Alto, em agradecimento a Deus, e, em seguida, abandonar o corpo físico, por parada cardíaca, sem dor, qual se fora pássaro cativo, demandando seu “hábitat” natural. Era 30 de junho, 19h30. Terminava, ali, aos 92 anos, às vésperas de completar 75 anos de mediunidade, no leito tosco de seu quarto humilde, a existência física de Chico Xavier, o Apóstolo da Renovação Humana. No mundo espiritual, uma multidão, muito maior do que aquela que saíra às ruas do país para comemorar o penta, concentrara-se, ali, abrindo enorme clareira, entre o Céu e a Terra, para receber o atleta especial que vencera todas as modalidades de provas e cravar-lhe, no peito, as estrelas da vitória. Vencera na corrida dos saltos com barreiras, suplantando a pobreza, as torturas e incompreensões, desde a infância sofrida à velhice repleta de testemunhos difíceis; saltara bem alto, sobrepujando a tentação do dinheiro e do poder, com a dedicação às tarefas mais humildes; completara, integralmente, a maratona de 75 anos de mediunidade, cumprindo sua trajetória única de medianeiro fiel ao dever e à disciplina, canalizando as mais belas páginas da Espiritualidade Superior; arremessara bem longe os seus dardos de tolerância e perdão, neutralizando o ódio e desculpando, incondicionalmente, injúrias, calúnias e abandonos; recebera, finalmente, a Medalha da Paz, porque foi Campeão de Bondade e Humildade. Essas estrelas brilharam ainda mais em seu peito, quando o coro dos encarnados, nas despedidas do cemitério São João Batista, entoava da Terra para os Céus, “Chico, eu te amo”.

 

Demonstrou que o Evangelho pode ser vivido, por Nestor Masotti

A partida do nosso Chico, indubitavelmente, deixa uma ausência física que nós todos estamos sentindo, mas, meditando sobre seus exemplos, nós podemos registrar que ele mostrou-nos alguns aspectos extremamente importantes. Primeiro, que somos realmente seres imortais, que continuamos a existir depois da morte física, através dos seus escritos, das suas informações mediúnicas, constatamos isso. Mas ele foi além: deixou um roteiro de vida que é a vivência do Evangelho. E nos mostrou que as recomendações do Evangelho e da Doutrina Espírita não são meras recomendações, são possibilidades reais de vida, de prática e vivência. Esta é a marca mais forte que ele nos deixou.

Outro aspecto muito positivo que nos enche o coração de uma certa serenidade é quando constatamos que um Espírito como ele, que enfrentou uma luta tão árdua, desafios os mais diversos, conseguiu chegar ao fim realmente vitorioso. Nesse aspecto, elevamos o nosso pensamento de gratidão e louvamos no Chico o exemplo de humildade, de disciplina e dedicação que ele nos deixa e a expectativa que tenhamos de nossa parte o bom senso de seguir-lhe o exemplo.

(...)

 

Complemento do Espiritismo, por Weimar Muniz de Oliveira

Chico Xavier tem sido, do ponto de vista humano, intensa luz nos nossos caminhos, estimulando a nossa fé e exemplificando a prática do bem, do perdão e da solidariedade para com todas as criaturas, sem distinção. Do ponto de vista da Doutrina Espírita e de seu movimento, não é apenas o intérprete, ou intermediário, da complementação do pentateuco Kardequiano, mas é também brilhante copartícipe deste luminoso edifício doutrinário. Pode ser comparado, embora em épocas diferentes, a Sócrates e a Mahatma Gandhi.

 

André Luiz e a ciência, por Hernani Guimarães Andrade

Encontrei muita informação de natureza científica nos livros de André Luiz, psicografados pelo médium Chico Xavier. Ele deu maior precisão à parte científica relacionada com o Espiritualismo e, particularmente, com o Espiritismo. Foi a obra de Chico Xavier que introduziu as primeiras noções da Física do Espírito. Inspirado por ele, tentei compreender os mesmos processos da Física para determinar as propriedades da matéria espiritual. Ele também se interessava vivamente pelo assunto e, uma das vezes que nos encontramos, visitou nosso Instituto em São Paulo, mais precisamente em 1978, e quis acompanhar as então recentes experiências com a Kirliangrafia, chegando inclusive a se submeter a uma sessão de fotos. Chico era uma pessoa maravilhosa, encantadora, muita aberta e inteligente.

(...)

 

Adeus a Chico Xavier, por Fernando Ós

Que palavras podem ser usadas para um amigo que parte silencioso para a Eternidade? Quando o coração fala, não existem fórmulas nem palavras rebuscadas. Estou falando sobre Chico Xavier e acho que nesse derradeiro episódio ele nos passou uma lição de grandeza, fazendo com que, devido aos ruidosos festejos do penta de futebol, muitos nem se deram conta de seu falecimento. Conta uma pessoa presente na sua casa que seu último movimento foi elevar um pouco as mãos, murmurar uma prece e, na tarde desse dia, exalar o último suspiro. Enquanto escrevo estas linhas, estou rezando em gratidão a Deus por ter nos enviado Chico em tempos tumultuados, e por quase um século o médium abriu caminhos importantes para a vitória sobre o ateísmo.

Domingo, dia 30/06/2002, às 23h, liguei a TV e ouvi a notícia de sua morte ou desencarnação em meio ao alarido de multidões nas ruas e avenidas, festejando a vitória do pentacampeonato de futebol. Francisco Cândido Xavier, médium Chico, falecera calmamente, de parada cardíaca. Suponho que pressentira a aproximação da carruagem toda feita de brilhantes dourados, rumando para o banquete espiritual preparado por seus milhões de amigos na Espiritualidade, tendo Jesus, Maria, Emmanuel e Bezerra de Menezes no centro do Grande Salão de Preces.

Enfermo e hipertenso, não pude viajar a Uberaba, apenas orei muito a Deus. Chico viveu entre nós 92 anos e 90 dias, e o que ele representou na vida de muita gente só mais tarde as multidões irão compreender. Se ninguém é profeta em sua casa, também não o é em seu tempo. Precisamos da ótica da distância, principalmente quando se é discípulo de Jesus. Seus mais de 400 livros foram traduzidos em oito idiomas, acendendo muitas luzes na trajetória dos povos. (...)

Na década de 1930, quando Chico começou seu trabalho com os Espíritos, a mediunidade não possuía nenhuma credibilidade e era tida como trabalho de bruxaria. Chico, em matéria de dinheiro, sempre foi pobre, e pobre morreu; os direitos autorais de seus livros foram totalmente doados a entidades de caridade. Eu próprio fiz com ele uma carta quando concluímos em parceria com Emmanuel o livro A ponte. Hoje, os médiuns verdadeiramente espirituais nada cobram pelo que produzem, e os que cobram são considerados comerciantes do trabalho alheio.

No fim foram mais de 22 anos de convívio em que o trabalho permitia uma amizade fraterna e afetuosa. Neste breve bilhete de adeus temporário ao amigo espiritual, digo com certeza em Deus que um dia nos reencontraremos na Espiritualidade. Lembro quando terminávamos a composição do livro A ponte, eu perguntei ao médium: “Diga-me, Chico, você que é ‘médium’, nós dois já cruzamos caminhos anteriores”? A resposta dele: “Já, e de forma estreita. Mas o resto deve ficar sob sigilo”. Nada mais foi perguntado nem revelado sobre tal assunto. (...)

Somos e vamos continuar amigos pelo coração e pelo ideal, Eternidade afora. Com lágrimas nos olhos e no peito, eu te abraço, amigo, beijando tuas mãos de luz e teu coração abençoado por Deus.

 

Algumas datas para relembrar a vida do médium:

1910 – Nasce Francisco Cândido Xavier, em 2 de abril, na pequena cidade mineira de Pedro Leopoldo, a 40 quilômetros de Belo Horizonte. O pai, João Cândido Xavier, era um vendedor de bilhetes de loteria. A mãe, Maria João de Deus, uma lavadeira.

1914 – Aos 4 anos de idade, Francisco tem a primeira manifestação significativa de mediunidade. Ele interrompe uma conversa entre seus pais com palavras e raciocínio surpreendentes para a sua idade e meio social.

1915 – Maria João de Deus morre em setembro em decorrência de uma angina. Chico vai para a casa da madrinha, Rita de Cássia. Lá, durante dois anos, sofre toda a sorte de torturas. O menino era diariamente alvo de agressões físicas e morais por parte da madrinha. Em desespero, o pequeno chama pela mãe morta, que o aconselha a ter paciência.

1917 – O pai, João Cândido, casa-se novamente. Sua esposa Cidália, como um anjo, recolhe os nove filhos de seu marido e com carinho os educa. Ela mesma tem mais seis filhos com João Cândido.

1919 – O menino matricula-se na escola. Suas visões continuavam, e por causa delas ele é levado pelo pai até o padre Scarzelli. O padre receitou um remédio amargo: mandou que o pai destruísse jornais, revistas e livros considerados como “má influência” e decretou ao menino que era o demônio, e não a mãe que vinha falar-lhe. A mãe apareceu e pediu que ele não mais a defendesse e disse que se afastaria; o que de fato aconteceu. Ela afastou-se por sete anos.

1922 – Ao escrever uma redação sobre a Independência do Brasil, viu que havia um homem ao seu lado ditando o que ele deveria escrever. Ele chamou a professora e contou o ocorrido. Chico ganhou menção honrosa pelo texto e algumas insinuações a respeito da autoria do texto.

1925 – O contato com o mundo espiritual continua, mas ainda de forma atabalhoada. Aos 15 anos ele procura novamente o padre porque não consegue lidar com um Espírito sofredor que o atormenta dia e noite.

1927 – A irmã, Maria Xavier, foi acometida por delírios, contorções, suores frios. Sem saída, o pai de Chico levou Maria ao casal Perácio, espírita, que detectou um Espírito obsessor. Ela foi curada com passes, orações e doutrinação. Chico acompanhou todo o processo e tornou-se espírita. Despediu-se, então, do padre Scarzelli, que lhe desejou felicidades.

8/7/1927 – Chico recebe a primeira mensagem assinada por um amigo espiritual.

1928 – Psicografou centenas de mensagens no centro espírita de Pedro Leopoldo.

1931 – O espírito Emmanuel apresenta-se ao médium e assume a responsabilidade por suas atividades. O primeiro livro da dupla é o Parnaso de Além-túmulo, uma coletânea de 56 poemas.

1935 – O livro ganha notoriedade, e o jornal carioca O Globo faz uma série de reportagens com o médium. Nessa época, ele psicografava em várias línguas, como inglês, alemão e sânscrito. Recebe ainda mensagens do escritor Humberto de Campos. A família do escritor reclama na justiça os direitos autorais dos livros.

1940 – Emmanuel transmite através de Chico importantes mensagens sobre política, economia, sociologia e feminismo.

1943 – Chico começa a trabalhar com o Espírito de um médico, que se autodenomina André Luiz.

1944 – A Justiça declara que Humberto de Campos estava morto, por isso ninguém poderia reclamar os direitos autorais. Mesmo assim, Humberto de Campos decide assinar seus textos como Irmão X.

1958 – Mudou-se, por orientação espiritual, de Pedro Leopoldo para Uberaba.

1975 – Mudou-se da Comunhão Espírita Cristã para o Grupo Espírita da Prece.

1976 – Aos 66 anos, teve problemas de saúde que o obrigaram a diminuir suas atividades físicas. Mas ele continua a psicografar e a lançar livros.

1981 – O diretor de TV e teatro Augusto Cesar Vannucci propôs seu nome para o Prêmio Nobel da Paz.

1991 – Cai doente, sem possibilidade de atender ao público.

1997 – Mesmo com dificuldades, volta no G. E. da Prece.

2001 – Aos 91 anos, está com apenas 30% de sua audição, cego de um olho e enfraquecido. Contrai uma pneumonia nos dois pulmões. Sua saúde passa a ser vigiada por enfermeiros e seu médico particular. Apesar de muito doente, ele fez atendimento até 29 de junho de 2002, às vésperas da morte.

 

Conrado Santos / Colaborador do Grupo Espírita Cairbar Schutel Folha Espírita

Fonte: www.folhaespirita.com.br

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