sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Bezerra de Menezes

 


(...) As primeiras experiências espiritistas, na pátria do Evangelho, começaram no problema das curas. Em 1818, já o Brasil possuía um grande círculo homeopático, sob a direção do mundo invisível. O próprio José Bonifácio correspondia-se com Frederico Hahnemann. Nos tempos do Segundo Reinado, os mentores invisíveis conseguem localizar na Bahia, no Pará e no Rio de Janeiro, alguns grupos particulares, que projetavam enormes claridades no movimento neoespiritualista do continente, talvez o primeiro da América do Sul.

Antes dessa época, quando prestes a findar o Primeiro Reinado, Ismael reúne no Espaço os seus dedicados companheiros de luta e, organizada a venerável assembleia, o grande mensageiro do Senhor esclarece a todos, sobre os seus elevados objetivos.

— “Irmãos, explicou ele, o século atual, como sabeis, vai assinalar a vinda do Consolador à face da Terra. Nestes cem anos, se efetuarão os grandes movimentos preparatórios dos outros cem anos que hão de vir. As rajadas de morticínio e de dor prenderão a alma da Humanidade, no século próximo, dentro dos imperativos das transições necessárias, que constituem o sinal do fim da civilização precária do Ocidente… Faz-se mister ampararmos o coração atormentado dos homens nessas grandes amarguras, preparando-lhes o caminho da purificação espiritual, através das sendas penosas. É preciso, pois, prepararmos o terreno para a sua estabilidade moral nesses instantes decisivos dos seus destinos. Numerosas fileiras de missionários encontram-se disseminadas, entre as nações da Terra, com o fim de levantar a palavra da Boa Nova do Senhor, esclarecendo os postulados científicos que surgirão neste século, nos círculos da cultura terrestre. Uma verdadeira renascença das filosofias e das ciências se verificará no transcurso destes anos, a fim de que o século XX seja necessariamente esclarecido, como elemento de ligação entre a civilização em vias de desaparecer e a civilização do futuro, que se constituirá da fraternidade e da justiça, porque a morte do mundo, prevista na Lei e nos profetas, não se verificará por enquanto, com referência às expressões físicas do globo, mas quanto às suas expressões morais, sociais e políticas. A civilização armada terá de perecer, para que os homens se amem como irmãos. Concentraremos, agora, os nossos esforços na terra do Evangelho, para que possamos plantar no coração de seus filhos as sementes benditas que, mais tarde, frutificarão no solo abençoado do Cruzeiro. Se as verdades novas deverão surgir primeiramente, segundo os imperativos da lei natural, nos centros culturais do Velho Mundo, é na pátria do Evangelho que lhes vamos dar a vida, aplicando-as na edificação dos monumentos triunfais do Salvador… Alguns dos nossos auxiliares já se encontram na Terra, esperando o toque de reunir de nossas falanges de trabalhadores devotados, sob a direção compassiva e misericordiosa do Divino Mestre.”

Houve na alocução de Ismael um doce “stacato”.

Depois, encaminhando-se para um dos dedicados e fiéis discípulos, falou-lhe brandamente:

— “Descerás às lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos com as dedicações do teu espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração. Não precisamos encarecer aos teus olhos a delicadeza de tua missão, mas com a plena observância do código de Jesus e com a nossa assistência espiritual, pulverizarás todos os obstáculos, à força de perseverança e de humildade, consolidando os primórdios da nossa obra, que é a de Jesus, no seio da pátria do seu Evangelho… Se a luta vai ser grande, considera que não será menor a compensação do Senhor, dele que é o caminho, a verdade e a vida…”

Havia em toda a assembleia espiritual um divino silêncio. O discípulo escolhido nada pudera responder, com o coração alarmado por doces e esperançosas emoções, mas as lágrimas de reconhecimento caíam-lhe copiosamente dos olhos.

Ismael desfraldara a sua bandeira à luz gloriosa do Infinito, salientando-se a sua inscrição divina, que parecia constituir-se de sóis infinitésimos. Uma vibração de esperança e de fé palpitava em todos os corações, quando uma voz terna e compassiva, exclamou das cúpulas radiosas do Ilimitado:

 — “Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos trabalhadores de boa vontade!…”

Relâmpagos de uma claridade estranha e misericordiosa clareavam o pensamento de quantos presenciavam o maravilhoso espetáculo, enquanto uma chuva de aromas inundava a atmosfera de perfumes balsâmicos e suavíssimos.

Sob aquela bênção maravilhosa, a grande assembleia dos operários do Bem foi dissolvida.

Daí a algum tempo, no dia 29 de agosto de 1831, no Riacho do Sangue, no Estado do Ceará, nascia Adolfo Bezerra de Menezes, o grande discípulo de Ismael, que vinha cumprir no Brasil uma grande missão.

 

Humberto de Campos — Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho – Trecho do capítulo 22.



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