Ao Homem que alcançara o Céu, pedindo
orientação sobre as tarefas de benemerência social que pretendia estender na
Terra, o Anjo da Caridade falou compassivo:
– Volta ao mundo e cumpre, de boa vontade,
as obrigações que o destino te assinalou!...
Para que te sintas de pé, cada dia, milhões
de vidas microscópicas esforçam-se em tua carne, garantindo-te o bem-estar...
Cada órgão e cada membro de teu corpo
amparam-te, abnegadamente, para que te facas abençoado discípulo da
civilização.
Os olhos identificam as imagens que já podes
perceber, livrando-te da desordem interior.
Os ouvidos selecionam sons e vozes para que
não vivas desorientado.
A língua auxilia-te a expressar os
pensamentos, enriquecendo-te de sabedoria.
As mãos realizam-te os sonhos,
engrandecendo-te o caminho na ciência e na arte, no progresso e na indústria.
Os pés sustentam-te a máquina física para
que te não arrojes à inércia.
A boca mastiga os alimentos para que te não
condenes à inação.
Os pulmões asseguram-te o ar puro contra a
asfixia.
O estômago digere as peças com que nutrirás o
próprio sangue.
O fígado gera forças vitais que te entretêm
a harmonia orgânica.
O coração movimenta-se sem parar, escorando-te
a existência.
Vives da caridade de inúmeras vidas
inferiores que te obedecem a mente.
Torna, pois, ao lugar em que o Senhor te
situou e satisfaze as tarefas imediatas que o mundo te reserva!...
Caridade é servir sem descanso, ainda mesmo
quando a enfermidade sem importância te convoque ao repouso;
é cooperar espontaneamente nas boas obras,
sem aguardar o convite dos outros ;
é não incomodar quem trabalha;
é aperfeiçoar-se alguém naquilo que faz para
ser mais útil;
é suportar sem revolta a bílis do companheiro;
é auxiliar os parentes, sem reprovação ;
é rejubilar-se com a prosperidade do
próximo;
é resumir a conversação de duas horas em
três ou quatro frases;
é não afligir quem nos acompanha;
é ensurdecer-se para a difamação;
é guardar o bom humor, cancelando a queixa
de qualquer procedência;
é respeitar cada pessoa e cada coisa na
posição que lhes é própria...
E por que o Homem ensaiasse inoportunas
indagações, o Anjo concluiu:
– Volta ao corpo e age incessantemente no
bem!...
Não percas um minuto em descabidas
inquirições. Conduze os problemas que te atormentam o espírito ao teu próprio
trabalho e o teu próprio trabalho liquidá-los-á...
A experiência aclara o caminho de quantos
lhe adquirem o tesouro de luz. Recolhe as crianças desvalidas, ampara os doentes,
consola os infelizes e socorre os necessitados. Não olvides, pois, que a
execução de teus deveres para com o próximo será sempre a tua caridade maior.
Humberto
de Campos / Chico Xavier – Livro: Cartas e Crônicas
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