Muitas vezes as palavras transcendem de tal maneira os
seus próprios sentidos léxicos que, ao fazermos uma análise mais ou menos
profunda a seu respeito, chegam a nos causar verdadeira surpresa, tão grande a
extensão dos significados e diversificadas as interpretações.
Algumas palavras, com acepção exata, quando bem
observadas, podem levar-nos por caminhos extraordinariamente variados, no campo
da mentalização, capazes de nos transportar aos domínios abscônditos do
labirinto da capacidade de inteligência dos homens, tantas maravilhas ainda
muito pouco conhecidas encerram.
Tomemos por exemplo a palavra pai. Qual o seu
significado? Que é pai? Até aonde ela poderá levar-nos em nossa apreciação?
São indagações oportunas, porque poderão despertar em
nós, que somos pais, identificação de algumas particularidades nem sempre
depreendidas com facilidade.
Pondo à parte a etimologia da palavra, consideremo-la
somente pelo lado léxico; pai, em seu sentido genérico, significa genitor,
progenitor, criador.
Assim entendido, o pai é a razão da existência dos
filhos; como tal, é o arquiteto que vê neles a promessa de objetivação da
perspectiva que concebera; tomada no sentido de criador, de quem trata e cuida,
é o zeloso protetor da destinação que lhes augura, ou seja, a consecução de
quanto ele mesmo deu em favor da formação intelecto-moral da personalidade de
cada um.
Ser pai, na acepção comum da palavra, é relativamente
fácil; arquitetar para o filho um futuro vitorioso pode ser também muito
cômodo. O difícil mesmo, e a tanto importa seja assim, é ser pai que planeje e
execute a estruturação do caráter do filho, fazendo-o um homem de bem, um
amigo, um espírito equilibrado, enfim, uma criatura que veja no trabalho o bem,
tendo por via de execução o próprio bem.
No entanto, apesar desse empenho paterno, o trabalho do
pai seria incompleto sem o da mãe e vice-versa.
A situação dele está de tal maneira ligada à dela, que não
podemos entender uma sem subentender a outra; podemos até mesmo afirmar, sem
contestação, que a mão de obra educativa de ambos jamais pode deixar de coexistir,
porque sem a participação de um dos cônjuges o trabalho se faz incompleto; enquanto
a mãe é toda carinho, toda ternura, toda amor, o pai é apoio, sustento e
proteção da família.
Hoje o pai e a mãe respondem pela subsistência da prole.
Daí a importância de ele, através do seu contributo e, principalmente, de bons
exemplos, dever nortear os filhos em busca do melhor caminho para a conquista da
verdadeira felicidade, ainda tão pouco entendida pela maioria dos pais e das
mães hodiernos.
E, nesse desiderato, achamos que os casais, escudados em
exemplificação construtiva, se proponham a instruir os filhos, esclarecendo-os
e mostrando-lhes que o lar não se reduz apenas a uma construção de alvenaria ou
a um mero grupo comunitário sob o mesmo teto; que o instituto doméstico, em sua
precípua finalidade, consiste no mais importante fator de apaziguamento e
cordialidade entre os familiares que o formam, nele vivem e convivem; que, no
seu recesso, pai e mãe conjuguem esforços no sentido de estarem atentos à
preservação da solidariedade e união, solicitude e dedicação, zelo e desvelo,
concórdia e paz no ambiente do domicílio – aconchego harmonioso que deve ser do
convívio em família, imprescindível ao melhoramento e bem-estar da equipe
familiar.
Passos Lírio –– Revista Reformador – agosto / 2001
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