Bezerra de Menezes não fora, como alguns de seus
admiradores supõem, um despreocupado com o Dia de Amanhã, com a assistência à
família, com o seu e o Futuro dos seus queridos entes familiares.
Não.
Sabia, como poucos, ater-se à disciplina do necessário, a
desprezar o supérfluo, a não se apegar às coisas materiais com prejuízo de seu
evolvimento espiritual e da vitória de sua Missão.
Aceitava o pagamento dos clientes que lhe podiam pagar e dava
aos pobres e estropiados o que podia dar, inclusive algo de si mesmo.
Sua digna família jamais passou necessidade.
Todos os componentes de seu familistério lhe tiveram a
assistência permanente e o alimento espiritual de seus bons exemplos.
Preocupava-se, isto sim, com o Futuro de seu Espírito e
dos Espíritos daqueles que o Pai lhe confiou.
Dia a dia, examinava-se, revia-se interiormente, para se
certificar se era mais de Jesus e Jesus mais dele, se a distância psíquica
entre ele e o Mestre era menor, se cumpria, como prometera, sua Tarefa
testemunhal.
E tudo lhe corria bem.
As dívidas eram pagas pontualmente.
Nenhum compromisso deixava de ser cumprido.
Os Filhos eram educados cristãmente.
Jesus morava no seu Lar e dentro de seu Coração e dos
Corações de seus queridos entes familiares, norteando-lhes a existência e
fazendo-a vitoriosa.
Numa manhã, no entanto, houve no lar uma apreensão.
O celeiro estava vazio, sem víveres para o jantar...
Na véspera, Bezerra havia restituído a importância das
consultas aos seus clientes pobres, porque, por intuição, compreendera que
apenas, possuíam o necessário para a compra dos medicamentos. Agradecera a boa
intenção do Farmacêutico, mas achava que não podia guardar aquelas
importâncias...
Junto com a esposa, ciente e consciente da situação,
ficara a pensar.
Vestira e saíra, consolando a querida companheira e
dizendo-lhe:
— Não se preocupe, nada nos faltará, confiemos em Deus!
Ao regressar, à tardinha, encontra a esposa surpresa e um
pouco agastada, que lhe diz:
— Por que tamanho gasto! Não precisava preocupar-se
tanto, comprando alimentos demais e que podem estragar-se...
— Mas, que acontecera?!
— Logo assim que você saiu, explica-lhe a esposa,
recebemos uma carroça de alimentos...
E, levando-o à despensa, mostrou-lhe os sacos, os
embrulhos, os amarrados de víveres, que recebera...
Bezerra olhou para tudo aquilo e emocionou-se! Nada
comprara e quem, então, lhe teria enviado tão grande dádiva se não Deus,
através de seus bondosos Filhos!...
E, abraçado à querida consorte, refugiou-se a um canto da
Casa para a Prece de agradecimento ao Pai de Amor, que lhe vitoriava a Missão,
confirmando-lhe o Ideal Cristão e como a lhe dizer:
— Por preocupar-se tanto com o próximo, com todos meus
Filhos, eu preocupo-me com você e todos os seus, também meus Filhos!
Traduzia e opulentava para o vero Servidor a Lição de
Jesus, quando nos apontou os lírios dos campos, as aves que não ajuntam em
celeiros e se vestem e se alimentam e jamais passam fome...
Ramiro
Gama – Livro: Lindos casos de Bezerra de Menezes
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