Tempestade de paixões humanas, que
abafais os bons sentimentos de que todos os Espíritos encarnados trazem uma vaga
intuição no fundo da consciência, quem acalmará a vossa fúria? É a prece que
deve proteger os homens contra o fluxo desse oceano, cujo seio encerra os
monstros horrendos do orgulho, da inveja, do ódio, da hipocrisia, da mentira,
da impureza, do materialismo e das blasfêmias. O dique que lhe opondes pela
prece é construído com a pedra e o cimento mais duros e, impotentes para o
transpor, esses monstros se esgotam em vãos esforços contra ele e mergulham,
sangrentos e aflitos, nas profundezas abissais. Ó prece do coração, invocação
incessante da criatura ao Criador, se conhecessem tua força, quantos corações
arrastados pela fraqueza teriam recorrido a ti no momento da queda! Tu és o precioso
antídoto que cura as chagas, quase sempre mortais, que a matéria abre no
Espírito, fazendo correr em suas veias o veneno das sensações brutais. Mas
como é restrito o número dos que oram bem! Acreditais que depois de haver
consagrado grande parte do vosso tempo a recitar fórmulas que aprendestes, ou
a lê-las em vossos livros, tereis merecido bastante de Deus? Desiludi-vos; a boa
prece é a que parte do coração; não é prolixa; apenas, de vez em quando,
deixa escapar seu grito a Deus em aspirações, em angústias e em rogativas de
perdão, como a implorar que venha em nosso socorro e os Espíritos bons a
levem aos pés do Pai justo, pois esse incenso é para Ele de agradável odor.
Então Ele os envia em grupos numerosos para fortalecer os que oram bem contra
o Espírito do mal; assim, tornam-se fortes como rochedos inabaláveis. Veem
quebrar-se contra eles as vagas das paixões humanas e, como se comprazem
nessa luta que os deve cumular de méritos, constroem, como a alcíone, seus
ninhos em meio às tempestades.
|
Fénelon
– Revista Espírita-julho/1861
Nenhum comentário:
Postar um comentário