O movimento de
emancipação percorria todos os departamentos de atividades políticas da
pátria, era no Rio de Janeiro que fervilhavam as ideias de liberdade e os
espíritos desenvolviam suas ações junto de todos os indivíduos, preparando a
fase final do trabalho da independência, através dos processos pacíficos.
Os patriotas enxergavam
no Príncipe D. Pedro a figura máxima, que deveria encarnar o papel de
libertador do reino do Brasil. O príncipe, porém, considerando as tradições e
laços de família, hesitava ainda em optar pela decisão suprema de se separar,
em caráter definitivo, da direção da metrópole.
Conhecendo as ordens
rigorosas das Cortes de Lisboa, que determinavam o imediato regresso de D.
Pedro a Portugal, reúnem-se os cariocas para tomarem as providências de
possível execução e uma representação com mais de oito mil assinaturas é
levada ao príncipe regente, pelo Senado da Câmara, acompanhado de numerosa
multidão, a 9 de janeiro de 1822. D. Pedro, diante da massa de povo, sente a
assistência espiritual dos companheiros de Ismael, que o incitam a completar
a obra da emancipação política da Pátria do Evangelho, recordando-lhe,
simultaneamente, as palavras do pai no instante das despedidas.
(...) Em face da
realidade positiva, após alguns minutos de angustiosa expectativa, o povo
carioca recebia, por intermédio de José Clemente Pereira, a promessa formal
do príncipe de que ficaria no Brasil, contra todas as determinações das
Cortes de Lisboa, para o bem da coletividade e para a felicidade geral da
nação.
Estava, assim,
proclamada a independência do Brasil, com a sua audaciosa desobediência às
determinações da metrópole portuguesa.
(...) Em seguida, outra
viagem, com os mesmos objetivos, realiza o príncipe regente a São Paulo. Os
bandeirantes, que no Brasil sempre caminharam na vanguarda da emancipação e
da autonomia, recebem-no, com o entusiasmo da sua paixão libertária e com a
alegria da sua generosa hospitalidade e, enquanto há música e flores nos
teatros e nas ruas paulistas, comemorando o acontecimento, as falanges
invisíveis se reúnem no Colégio de Piratininga. O conclave espiritual se realiza
sob a direção de Ismael, que deixa irradiar a luz misericordiosa do seu coração.
Ali se encontram heróis das lutas maranhenses e pernambucanas, mineiros e
paulistas, ouvindo-lhe a palavra cheia de ponderação e de ensinamentos.
Terminando a sua
alocução pontilhada de grande sabedoria, o mensageiro de Jesus sentenciou:
- A independência do
Brasil, meus irmãos, já se encontra definitivamente proclamada. Desde 1808,
ninguém lhe podia negar ou retirar essa liberdade. A emancipação da Pátria do
Evangelho consolidou-se, porém, com os fatos verificados nestes últimos dias
e, para não quebrarmos a força dos costumes terrenos, escolheremos agora uma
data que assinale aos pósteros essa liberdade indestrutível.
Dirigindo-se ao
Tiradentes, que se encontrava presente, rematou:
— O nosso irmão,
martirizado há alguns anos pela grande causa, acompanhará D. Pedro em seu regresso
ao Rio e, ainda na terra generosa de São Paulo, auxiliará o seu coração no
grito supremo da liberdade. Uniremos assim, mais uma vez, as duas grandes
oficinas do progresso da pátria, para que sejam as registradoras do
inesquecível acontecimento nos fastos* da história. O grito da emancipação
partiu das montanhas e deverá encontrar aqui o seu eco realizador.
Agora, todos nós que
aqui nos reunimos, no sagrado Colégio de Piratininga, elevemos a Deus o nosso
coração em prece, pelo bem do Brasil.
Dali, do âmbito
silencioso daquelas paredes respeitáveis, saiu uma vibração nova de
fraternidade e de amor.
Tiradentes acompanhou o
príncipe nos seus dias faustosos, de volta ao Rio de Janeiro. Um correio
providencial leva ao conhecimento de D. Pedro as novas imposições das Cortes
de Lisboa e ali mesmo, nas margens do Ipiranga, quando ninguém contava com
essa última declaração sua, ele deixa escapar o grito de "Independência
ou Morte!", sem suspeitar de que era dócil instrumento de um emissário
invisível, que velava pela grandeza da pátria.
Eis por que o 7 de
setembro, com escassos comentários da história oficial que considerava a
independência já realizada nas proclamações de 1.° de agosto de 1822, passou
à memória da nacionalidade inteira como o Dia da Pátria e data inolvidável da
sua liberdade.
Esse fato, despercebido
da maioria dos estudiosos, representa a adesão intuitiva do povo aos elevados
desígnios do mundo espiritual.
*fastos: registros públicos de acontecimentos ou obras notáveis
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Humberto
de Campos / Chico Xavier – Fragmentos extraídos do livro: Brasil, Coração do
Mundo - Pátria do Evangelho
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