Nos programas de Deus, nos projetos da Vida, são poucas as
vezes em que o cérebro humano consegue penetrar, com o necessário
aprofundamento.
A Terra jazia sob névoa escura, no açodar de forças
desconexas. Mutilados os sentimentos; acirrados os temperamentos rebeldes;
ensombrada a Ciência, em face de absurdo materialismo; niilismo na Filosofia
e treda* vaidade nas academias, quanto nos salões culturais...
A cegueira da fé que se debatia por entre paredes frias, sob
as naves vazias dos templos mortiços. Apregoava-se o nome do Senhor,
mantendo-O, todavia, à distância das práticas religiosas...
Em meio a essa hecatombe, nos arraiais da cultura francesa, o
racionalismo penetrava de modo insopitável.
Bonaparte, o Corso, que fizera-se imperador, belicoso,
vociferando loucuras, após abaladas as bases dos seus compromissos mais
nobilitantes para com a existência, armava-se contra a Igreja, liderada por
Pio VII...
Eram dias atrozes, em que não parecia haver solução para os
enigmas do pensamento, para o questionamento da fé ou para as conclusões
filosóficas que, amadurecidas, conduzissem a mentalidade humana para as
reflexões acuradas...
O povo continuava relegado e a miséria grassava, desafiadora,
enquanto os intelectuais vaidosos se debatiam entre discussões intérminas,
que a lugar nenhum logravam conduzir.
É nesse momento que os corações sofredores do orbe lançam aos
Espaços Infinitos a sua litania* que atinge os Ouvidos Divinos. Nesse período
histórico, os ais da Humanidade rompem as distâncias mentais para comoverem
os Céus.
A programática celeste, desde muito, preparava o instante
ideal, para o advento da Luz.
Abrindo-se os Céus, lançam-se as Coortes dos Espíritos Nobres,
em alamedas de estrelas, espargindo lucidez nos ensinos de escol*.
Enviam batedores, achanadores, preparadores. As notícias
chegam a todos, como rastilho incendiado. A vila de Mr. Hyde explode
fenomênica e torna-se berço da Nova Era. As mesas contam, cantam,
movimentam-se, deixando estupefatos os observadores, quanto embalam os
frívolos de todos os tempos...
A América treme, a Europa se agita...
Atuam, diligentes, as Hostes do Consolador. Do gabinete
excelente, entre estudos profundos, vão buscar a personalidade gigantesca,
protagonista da epopeia futura... A Falange da Verdade prepara-se para
admoestar a vacuidade e estabelecer um império novo, agora sobre as
consciências, dinamizando o amor e burilando a cultura; dando razão à fé e
iluminando o conhecimento.
Inaugurando novo período para o pensamento humano, com a força
do ideal e o apoio de insuperável grandeza, surge como um Astro, pintando de
luz a escuridade da noite terrena, a figura apostolar de Léon Rivail.
Não mais se discutem as afirmativas revoltosas de Chaumette,
tentando substituir, pela Razão convertida em nova divindade ateísta, que ele
fazia representada por jovem figura do meretrício parisiense, a força
ideológica dos representantes da Notre Dame.
Já não se levantam questões em redor de Danton, de Marat, de
Robespierre, nos seus ideais revolucionários.
Bruxuleavam as chamas inquisidoras, nos seus últimos
estertores. A letra morta, que Lutero tivera a coragem de retirar da
escuridão da cripta para a claridade do dia, já não alimentava, devidamente,
as almas carecentes, tornando-se necessário ajuntar o espírito vivificante
que motiva à vida.
Agora é uma nova luta que se trava na Terra.
Os Imortais lançam-se das imensidões e aportam o orbe. O
Missionário escolhido identifica-se com a Missão. Concebe sua pujança e
olvida os próprios interesses, adotando o criptônimo* que lhe correspondia ao
antigo nome, quando cantara a fraternidade, sob carvalhos seculares, nas
florestas gaulesas, na condição de grave sacerdote, Allan Kardec.
Impondo-se portentoso trabalho, Kardec organiza os ditos dos
Espíritos do Senhor. A Codificação do Espiritismo fulgura para o mundo.
Não mais deuses de pedra insinuando-se como verdadeiros, para
as consciências atreladas à ignorância...
O Senhor dos Mundos, expulso, antes, do território francês,
retorna, convertido na Inteligência Suprema, causadora de tudo quanto existe,
nas Vozes gloriosas dos Céus...
Nunca mais os numes* belicosos, nem o senhor dos exércitos,
caprichoso, destruindo os seus adversários, para consumi-los,
aterradoramente...
Com Kardec, na formidável Codificação, os filhos de Deus são
imortais por essência. Indestrutíveis, deverão retornar ao plano das lutas,
sempre que necessário, até coroarem-se com a fulguração evolutiva.
Em passos lentos, se vai despegando a criatura do pavor e das
superstições, elucidada quanto à realidade do Espírito, galgando os roteiros
da fé refletida, raciocinada, de modo a poder vivê-la, senti-la, sofrê-la, se
preciso.
Jesus Cristo volve aos caminhos das ovelhas perdidas da Casa
de Israel. Convoca os Espíritos corajosos a seguirem-No. Deixa que falem ao
mundo, aqueles que se supunham mortos ou eram tidos como tais. A mediunidade
é ponte levadiça, unindo a Terra aos Estuários Divinos, atendendo aos
sofredores em quaisquer condições e coletando as messes luminosas do Mais
Alto.
A interpretação das lições do Nazareno faz-se clara. O
entendimento das verdades do Evangelho, com o Espiritismo, é palpável.
A mensagem consola e orienta, propõe que se amem as criaturas
e que, ao mesmo tempo, desenvolvam-se, instruam-se. E a vida se faz lógica,
compreensível.
Com Allan Kardec, a Doutrina Espírita avança. Ao decaído,
estende a mão que socorre e o arrimo que o apruma, em nome da caridade. Aos
que estão de pé, fala-lhes de sua missão no mundo, sem que se percam na
inutilidade vaidosa ou nos labirintos da impiedade. A ninguém promete
salvação, embora faculte paz pelos compromissos devidamente atendidos.
Ninguém vai ameaçado com os terrores infernais, entretanto, todos tomam posse
das noções de responsabilidade à frente dos próprios atos.
E, quando o Bandeirante da Verdade tomba, rompendo as cadeias
que o detinham no chão terrestre, prossegue além, vencidas as pelejas
humanas, atendendo aos serviços de Jesus, cuidando das almas sofridas e em
processo de brunimento* que ainda se acham vinculadas aos processos
planetários.
Legítimo Benfeitor da Humanidade, na vibração que a tua
memória enseja, dizemos:
- Ave, Allan Kardec! Teus discípulos novos e singelos,
saudamos-te, nos umbrais da Era Nova, que impulsionaste com tua luta.
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Camilo / Psicografia de J. Raul Teixeira - Fonte: www.raulteixeira.com.br
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03
DE OUTUBRO DE 2019 – 215 ANOS DE NASCIMENTO DE ALLAN KARDEC
*treda: traiçoeira
*litania: ladainha
(forma de oração)
*escol: melhor
qualidade
*criptônimo:
pseudônimo
*numes: divindades
*brunimento:
iluminação (figurado)
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