quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Irmão da Natureza

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  (Falando a S. Francisco de Assis)



Enquanto a sociedade estertorava nas guerras cruentas de dominação de povos e vidas, sentiste a necessidade de lutar pela Pátria, evitando o abuso daqueles que consideravam com o direito a escravizar os seus irmãos.
Não compreendendo a luta que deverias travar, pensaste que as glórias antevistas em sonho referiam-se aos tesouros terrestres, e para melhor compreenderes o amor do Cristo, marchaste para a defesa dos fracos, pensando em servir a Deus e ao país.
Nascido para a paz, jamais poderias combater com armas destruidoras, e por isso tombaste prisioneiro dos hábeis verdugos, que te encarceraram e te fizeram sofrer.
Humilhado e enfermo, retornaste ao lar, quando foste visitado pelo Amigo-Amor que te convocou para diferente luta, cujas armas seriam a mansidão, a renúncia, o sacrifício.
Eras jovem e sonhador, trovador das noites estreladas e amigo da ilusão. No entanto, possuías uma tristeza invencível que nada conseguia diminuir.
Dissimulavas a melancolia com a jovialidade, mas sabias que a tua vida não te pertencia, embora não entendesses a solidão interior que te macerava, preparando-te para a soledade entre todos pelo resto da tua existência.
Mas quando ouviste o chamado do Cantor da misericórdia, todo o teu ser tremeu de emoção e perdeste o interesse pela existência convencional.
Começaste o despojamento, liberando-te das coisas, para poderes libertar-te de ti mesmo, a fim de te entregares a Ele por inteiro.
Os teus não te compreenderam, mas os leprosos de Rivotorto te receberam as doações de pão, de paz, de carinho com lágrimas que os olhos da alma vertiam em abundância, na decomposição em que se consumiam.
Mais tarde, outros solitários vieram unir-se à tua soledade, a fim de formarem o rebanho submisso ao cajado do Pastor.
Ignorando a teologia, sabias o Evangelho na sua integral pureza, sem disfarces nem dissimulações, e saíste a vivê-lo, enquanto o pregavas com palavras simples e atos de coragem incomum.
Transformaste as noites festivas de cantos e banquetes em um perene poema de beleza, enaltecendo os irmãos Sol, Lua, Chuva, Pássaros, Lobo, Neve, enquanto o mundo de então te espreitava com desconfiança e desinteresse. Mas, o teu exemplo de abnegação continuou sensibilizando outros corações ansiosos de vida nova, que te passaram a acompanhar pelas estradas da Úmbria, albergando-se na Porciúncula modesta e desprovida de tudo, menos da ternura.
Quando menos esperaste, havia multidões que se comprimiam para ouvir as tuas canções de esperança e caridade, tocadas pela tua presença e a dos teus cancioneiros, tão desprotegidos como tu mesmo, no entanto amparados pelo Sublime Cantor.
Irmão Francisco! Canta outra vez para nós o teu poema de amor, nestes calamitosos dias que vivemos!
As noites da Terra já não são ricas de canções, mas de expectativas dolorosas.
Os grupos juvenis raramente se reúnem para sorrir ou para os folguedos inocentes, e sim para a embriaguez alcoólica ou o envenenamento por drogas alucinantes.
O enamoramento que procede à união dos corpos foi sucedido pela volúpia do sexo em desalinho e a posterior dilaceração dos sentimentos face ao abandono e às suas consequências perversas.
O relacionamento fraternal tem sido transformado em gangues violentas que se arremetem umas contra as outras em fúria desconhecida.
A literatura gentil e cavalheiresca cede lugar à pornografia desabrida e às narrações de funestos acontecimentos.
A música romântica transformou-se em vulcão de ruídos metálicos que induzem à loucura e à bestialidade.
A poesia perdeu a inocência e a beleza, passando às arremetidas de palavras sem nexo ou construções de palavras sem ritmo, sem rima, sem mensagem.
É certo que ainda permanecem em alguns grupos o sentimento de amor, de fraternidade, de beleza e de harmonia, afirmando que nem tudo está perdido na grande noite adornada de ciência e de tecnologia, na qual as almas estorcegam sob os camartelos do sofrimento.
Existe muito conforto para uns e nenhum para outros. Aliás, também nos teus dias era assim, razão porque preferistes os últimos, oferecendo-lhes carinho por faltarem outros recursos.
O progresso facilitou o intercâmbio entre as criaturas e propiciou o desenvolvimento da criminalidade e do ódio.
Há grandeza, sim, na arte e no pensamento, na cultura e no sentimento, porém, a fé empalideceu e agoniza ante a predominância do comportamento hedonista que se espalha por toda a parte.
O firmamento está cortado a cada momento por grandiosas naves conduzindo milhões de indivíduos de um para outro lado, com todo luxo e facilidade. Todavia, milhares de ogivas nucleares carregadas de bombas de alta destruição aguardam o simples movimento para dispararem suas cargas terríveis de desagregação de tudo.
Nesse pandemônio de alegrias e pavor, de riquezas e misérias, de esperanças e desencantos, há milhões de pessoas anelando por conhecer-te ou reencontrar-te, a fim de que a tua canção, Irmão da Natureza, as reconduza a Jesus a quem tanto amas!
Volta novamente à Terra, Trovador de Deus, para que tua pobreza inunde de poder todos aqueles que acreditam na força de não ter nada, nas infinitas possibilidades da não violência e no infinito amor do Pai!
Irmão Francisco: O teu irmão lobo transformou-se no monstro devastador de drogas que consomem a juventude, em especial, e a outros indivíduos, em particular.
As lutas de cidades, umas contra as outras, ainda continuam e agora mais graves, na violência urbana.
A poluição química da atmosfera, que ameaça a Terra, filha daquela de natureza mental e moral, lentamente destrói a Irmã Natureza que tanto amas.
Homens dominadores e perversos ameaçam-se ainda através da política escravizadora das moedas que subjugam os povos que não têm voz no concerto das Nações poderosas.
As vozes que proclamam a paz estão muito comprometidas com a guerra.
O mundo de hoje aguarda o retorno da tua Canção, pobrezinho de Deus, porque ela impregna as vidas com ternura, amor e paz.
Iremos fazer um grande silêncio interior, preparar os caminhos e aguardar que tu chegues, simples e nobre como o lírio do campo, bom e doce como o mel silvestre, amigo e irmão como o Sol, para que tua voz nos reconduza de volta ao rebanho que te segue e levas ao Irmão Liberdade, que é Jesus.

Pensamentos extraídos da mensagem Irmão da Natureza, escrita em Assis, 
Itália, no dia 27 de maio de 2001.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco – Livro: Nascente de Bênçãos

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