sábado, 4 de janeiro de 2020

Morada dos bem-aventurados

Falemos das últimas espirais da glória, habitadas pelos Espíritos puros. Ninguém as atinge antes de haver atravessado os ciclos dos Espíritos errantes. Júpiter está no mais alto grau da escala. Quando um Espírito, longamente purificado por sua estada nesse planeta, é julgado digno da suprema felicidade, é disso advertido por um redobramento de ardor; um fogo sutil anima todas as partes delicadas de sua inteligência, que parece irradiar e tornar-se visível; deslumbrante, transfigurado, ele clareia a luz que parecia tão radiosa aos olhos dos habitantes de Júpiter; seus irmãos reconhecem o eleito do Senhor e, trêmulos, ajoelham-se ante a sua vontade. Entretanto, o Espírito escolhido eleva-se, e os céus, na sua suprema harmonia, lhe revelam belezas indescritíveis.

À medida que sobe, compreende, não mais como na erraticidade, não mais vendo o conjunto das coisas criadas, como em Júpiter, mas abarcando o infinito. Sua inteligência transfigurada eleva-se como uma flecha até Deus, sem tremor e sem terror, como num foco imenso alimentado por mil objetos diversos. O amor, nesses diversos Espíritos, reveste a cor de sua personalidade; eles se reconhecem e se regozijam. Refletidas, suas virtudes repercutem, por assim dizer, as delícias da visão de Deus e aumentam incessantemente com a felicidade de cada eleito. Mar de amor que cada afluente aumenta, essas forças puras não ficam mais inativas que as forças de outras esferas. Logo investidos do dom da ubiquidade, abrangem ao mesmo tempo os detalhes infinitos da vida humana, desde a sua eclosão até as últimas etapas. Irresistível como a luz, sua vista penetra por toda parte simultaneamente e, ativos como a força que os move, espalham a vontade do Senhor. Como de uma cheia escapa a onda benfazeja, sua bondade universal aquece os mundos e confunde o mal.

Esses diversos intérpretes têm como ministros de seu poder os Espíritos já depurados.  Assim, tudo se eleva, tudo se aperfeiçoa e a caridade irradia sobre os mundos, que alimenta em seu seio poderoso.

Os Espíritos puros têm como atributo a posse de tudo quanto é bom e verdadeiro, porque possuem o próprio princípio, que é Deus. O próprio pensamento humano limita tudo que abrange e não admite o infinito, que a felicidade não limita. Depois de Deus, que pode haver? Deus ainda, sempre Deus. O viajante vê os horizontes se sucederem aos horizontes e um é apenas começo de outro; assim, o infinito se desdobra incessantemente. A maior alegria dos Espíritos puros é precisamente essa extensão tão profunda quanto a própria eternidade.

Do mesmo modo que não se descreve uma graça, uma chama e um raio, não posso descrever os Espíritos puros. Mais vivos, mais belos e mais resplandecentes que as mais etéreas imagens, uma palavra resume seu ser, seu poder e seus prazeres: Amor! Preenchei com esta palavra o espaço que separa a Terra do Céu, e ainda não tereis senão a ideia de uma gota de água no mar. Por mais grosseiro que seja, só o amor terrestre pode vos dar ideia de sua divina realidade.

Georges - Revista Espírita - outubro/1860

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