Nós vos demos a entrever a aurora da
regeneração humana. Nisto, como em toda a marcha da Humanidade através das
idades, deveis ver o dedo de Deus.
Já vo-lo dissemos muitas vezes: Tudo
que acontece aqui na Terra, como tudo quanto se passa no Universo inteiro, está
submetido a uma lei geral: a do progresso.
Inclinai-vos ante ela todos vós que,
orgulhosos e soberbos, pretendeis colocar-vos acima dos desígnios do
Todo-Poderoso! Buscai por toda parte a causa de vossas desgraças, como de
vossos prazeres, e aí reconhecereis sempre o dedo de Deus.
Mas, direis, então o dedo de Deus é o
fatalismo! Ah! guardai-vos de confundir essa palavra ímpia com as leis que a Providência
vos impôs, essa mesma Providência que vos deve ter deixado o livre-arbítrio,
para, ao mesmo tempo, vos deixar o mérito de vossos atos, mas que lhes tempera
o rigor por essa voz, tantas vezes desconhecida, que vos adverte do perigo a
que vos expondes.
O fatalismo é a negação do dever,
porquanto, sendo nossa sorte fixada previamente, não nos cabe mudá-la.
Em que se tornaria o mundo com essa
horrível teoria, que abandonaria o homem às pérfidas sugestões das piores paixões?
Onde estaria o objetivo da criação? Onde a razão de ser da ordem admirável que
impera no Universo?
Ao contrário, o dedo de Deus é a
punição sempre suspensa sobre a cabeça do culpado; é o remorso que corrói o coração,
censurando-lhe os crimes a cada instante do dia; é o horrendo pesadelo que o
tortura durante longas noites insones; é esse rastro sangrento que o segue em
todos os lugares, como para reproduzir aos seus olhos, incessantemente, a
imagem de sua malvadez; é a febre que atormenta o egoísta; são as perpétuas angústias
do mau rico, que vê em todos que dele se aproximam espoliadores dispostos a lhe
roubar um bem mal adquirido; é a dor que experimenta em sua última hora por não
poder levar seus inúteis tesouros!
O dedo de Deus é a paz do coração
reservada ao justo; é o suave perfume que vos repleta a alma após uma boa ação;
é esse doce prazer que se experimenta sempre ao fazer o bem; é a bênção do
pobre que se assiste; é o doce olhar de uma criança cujas lágrimas enxugamos; é
a prece fervorosa de uma pobre mãe, a quem se proporcionou o trabalho que a
deve arrancar da miséria; é, numa palavra, o contentamento consigo mesmo.
O dedo de Deus, enfim, é a justiça
grave e austera, temperada pela misericórdia! O dedo de Deus é a esperança, que
não abandona o homem em seus mais cruéis sofrimentos, que o consola sempre e
deixa entrever ao mais criminoso, a quem o arrependimento tocou, um recanto da
morada celeste, do qual se julgava rejeitado para sempre!
Um Espírito familiar – Revista Espírita – setembro/1863
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